O Supremo Tribunal Federal (STF) retomou, ontem, o julgamento que discute a responsabilidade das redes sociais pelos conteúdos publicados por seus usuários. No total, são três ações que discutem o Marco Civil da Internet, lei que regulamenta as atividades das plataformas no Brasil. Apesar de não ter chegado ao momento em que os membros da Corte apresentem seus votos, o ministro Alexandre de Moraes avançou sua posição de responsabilização das big techs.
Ele destacou que os ataques de 8 de janeiro de 2023 — que culminaram na depredação dos Três Poderes pelos bolsonaristas — evidenciaram uma falha na autorregulação das redes. Moraes citou a “Partida Selma”, termo usado, segundo a Polícia Federal (PF), para convocar radicais e organizar o transporte rumo a Brasília, além de compartilhar coordenadas sobre o ataque ao Palácio do Planalto, ao STF e ao Congresso.
“Foi um fracasso porque tudo foi organizado pelas redes ou em grande parte pelas redes. Todos se lembram do ‘grande Partido Selma’. 8 de janeiro, o que demonstra que a autorregulação não funcionou”, frisou.
Procure por “curtidas”
Moraes destacou que os atos golpistas foram planejados e publicados nas plataformas e que as redes nada fizeram porque tinham interesse em “curtidas”. “E não se diga que tecnologicamente não é possível. Porque em relação à pornografia infantil, pedofilia e direitos autorais, a inteligência artificial remove, antes de um like, 93% das postagens. Então, é possível tecnologicamente. O que não houve, e o que não tem acontecido, é o compromisso com isso”, criticou o ministro.
O procurador-geral da União, Jorge Messias, também lembrou as depredações de janeiro do ano passado. “No dia 8 de janeiro, tive que provocar Vossa Excelência, Ministro Alexandre, ao pedir a retirada de diversos conteúdos das plataformas digitais que transmitiam ao vivo — e muitos deles monetizados — a invasão deste Plenário (do STF), do Congresso e o Palácio do Planalto Muitos foram monetizados e os conteúdos só foram efetivamente retirados por ordem de Vossa Excelência”, lembrou.
Os processos em discussão estão sob a relatoria dos ministros Dias Toffoli e Luiz Fux. Os ministros analisam a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil — que exige ordem judicial prévia para excluir conteúdos e responsabilizar empresas por danos causados pelas publicações. A AGU defendeu a inconstitucionalidade do dispositivo.
“O fato é que a imunidade trazida pelo artigo 19 do Marco Civil da Internet tem sido utilizada pelas plataformas digitais para condutas absolutamente negligentes. Tem levado a um déficit na nossa qualidade democrática”, destacou Messias. A sessão de ontem incluiu apenas a leitura dos relatórios e algumas sustentações orais sobre partes do processo.
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