Ontem, o governo detalhou o pacote de propostas com as quais pretende reduzir os gastos públicos em até R$ 70 bilhões nos próximos dois anos. As medidas incluem alterações no salário mínimo, aposentadoria militar, abono salarial e regras para benefícios sociais, além de alterações no Imposto de Renda. O pacote ainda depende da aprovação do Congresso para entrar em vigor. Os textos serão enviados ao Parlamento, em parte, como proposta de emenda à Constituição (PEC) e, em parte, como projeto de lei complementar. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que pretende orientá-los rapidamente.
“Nosso compromisso, no Senado, é que assim que a Câmara dos Deputados apreciar a proposta de emenda à Constituição e o projeto de lei complementar, o Senado submeta diretamente ao plenário para que o que a Câmara fizer possa ser ratificado, em revisão. em relação a este pacote”, frisou.
Pelas propostas, o salário mínimo continuará tendo aumento real, ou seja, acima da inflação, com base no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores. Contudo, o reajuste será limitado a 2,5% ao ano, mesmo que o PIB cresça acima desse percentual.
Essa mudança afetará aposentados e beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que deixarão de receber R$ 6 mensais em 2025.
“Isso significa que o salário mínimo pode até subir em anos de recessão, mas, ao mesmo tempo, se houver um aumento muito grande do PIB, o crescimento será limitado”, explicou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em coletiva de imprensa conferência de imprensa no Palácio do Planalto.
As regras de acesso ao BPC serão reforçadas, com foco nas pessoas impossibilitadas de viver de forma independente e trabalhar. O cálculo da renda passará a incluir rendimentos de cônjuges, irmãos, filhos e enteados, mesmo que não morem na mesma residência. Será obrigatória a atualização dos registros com desatualização superior a dois anos.
“Dos 3 milhões de beneficiários do BPC, 1 milhão não tem no sistema a CID (Classificação Internacional de Doenças), ou seja, falta o código que diz a deficiência que a pessoa tem. Desse total, 75% foram decididos judicialmente. liminar faremos um esforço para analisar e garantir que apenas quem tem direito continue a recebê-la”, declarou o ministro da Casa Civil, Rui Costa.
O abono salarial do PIS/Pasep será reduzido gradativamente. Atualmente, são beneficiados trabalhadores com carteira assinada e servidores públicos que recebem salário médio mensal de até dois salários mínimos. Com o reajuste, os beneficiários serão aqueles que recebem até 1,5 salário mínimo.
Servidores
O governo propõe regulamentar a lei que proíbe supersalários para funcionários do Executivo, Legislativo e Judiciário. Isso evitará pagamentos acima do teto constitucional, atualmente fixado em R$ 44.008,52 mensais.
Em relação aos militares, o pacote define o fim da morte fictícia —quando um soldado é condenado por um crime ou expulso do serviço e recebe uma pensão como se tivesse morrido. Atualmente, a família também tem direito a receber 100% da pensão.
A aposentadoria militar também será afetada, mas Haddad não detalhou a idade mínima para reserva remunerada. Na semana passada, o Correio disse que as negociações com as Forças Armadas indicavam que os militares só poderiam adquirir o direito a partir dos 55 anos. Quanto à transferência previdenciária, a medida deve restringir o benefício apenas aos familiares de primeira ordem (cônjuge ou companheiro e filhos).
Também será introduzida uma alíquota de 10% para contribuintes que ganham mais de R$ 50 mil por mês (R$ 600 mil anuais). Além disso, as deduções de despesas com saúde no Imposto de Renda serão limitadas a pessoas com renda de até R$ 20 mil por mês.
Mudanças também estão previstas para o Bolsa Família. Para reforçar o controle do programa, o governo implementará medidas como o uso de biometria para cadastro e atualização cadastral, além de cruzar informações com bancos de dados de concessionárias de serviços públicos. O registo de famílias unipessoais estará sujeito a regulamentos mais rigorosos.
“Saímos de um déficit com inadimplência do governo anterior de mais de 20% do PIB, mais de R$ 100 bilhões. Foi um grande desafio trazer o déficit para perto do equilíbrio. com as medidas que estão sendo tomadas teremos sucesso no cumprimento das metas”, sustentou Haddad.
(Contribuição de Júlia Portela)
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