A capacidade cognitiva, as limitações funcionais e a saúde física geral podem prever, até aos 20 anos, o risco de desenvolver demência mais tarde na vida. É o que diz um estudo da organização não governamental Rand, divulgado recentemente. Segundo a publicação, a detecção precoce pode ajudar as pessoas a tomar medidas mitigadoras para o futuro, além de possibilitar estratégias que retardam a progressão neurodegenerativa.
O diagnóstico precoce da doença de Alzheimer e de outras demências é considerado crítico, em parte porque os actuais tratamentos modificadores da doença só funcionam para pacientes em fase inicial. Porém, os pesquisadores estimam que menos de 15% das pessoas com 65 anos passam pela avaliação durante uma consulta de rotina.
Os pesquisadores da Rand conduziram a pesquisa usando dados sobre medidas de cognição e demência do Estudo de Saúde e Aposentadoria, realizado nos Estados Unidos, com uma amostra de aproximadamente 20 mil idosos, em andamento desde 1992. Fatores de estilo de vida, como falta de exercícios, obesidade e a ausência de hobbies aos 60 anos foram preditores de quem desenvolveria demência. A análise examinou 181 fatores de risco potenciais.
“Este trabalho fornece evidências adicionais sobre as ações que os indivíduos podem tomar para seguir um estilo de vida que promova a saúde do cérebro ao longo da vida”, disse Peter Hudomiet, principal autor do relatório, num comunicado. “Além disso, a compreensão dos fatores de risco pode permitir que os prestadores de cuidados de saúde e os decisores identifiquem grupos de maior risco e direcionem recursos para retardar o declínio cognitivo.”
Brasil
No Brasil, o Alzheimer afeta cerca de 1,76 milhão de pessoas, representando aproximadamente 50% a 60% dos casos de demência. De acordo com uma pesquisa realizada Pesquisa, Sociedade e Desenvolvimento realizado em 2023, de 2013 a 2022 cerca de 65% dos diagnósticos foram feitos em mulheres.
Segundo Marcelo Valadares, neurocirurgião funcional, especialista em doenças neurodegenerativas e pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os avanços da ciência permitem estabelecer estratégias para retardar a evolução da doença. “O exercício físico é comprovadamente um fator de proteção para o cérebro. Além disso, manter-se ativo intelectualmente, por meio da leitura, das interações sociais e de outras atividades intelectuais, pode atenuar o aparecimento de sintomas em pessoas com maior reserva cognitiva”, afirma.
O diagnóstico precoce é uma das chaves para oferecer tratamentos mais eficazes, defende Valadares. A médica explica que identificar os primeiros sinais de comprometimento cognitivo leve, como pequenas falhas de memória ou dificuldades na realização de tarefas cotidianas, pode permitir intervenções mais precoces, o que ajuda a reduzir a progressão da doença. “As tecnologias de imagem e os avanços nos exames laboratoriais também têm contribuído para diagnósticos mais precisos, identificando alterações neurodegenerativas antes do aparecimento dos sintomas mais graves”, explica.
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