Nesta quinta-feira, 5, a Justiça determinou a prisão do policial militar Vinicius de Lima Britto, que matou Gabriel Renan da Silva Soares com tiros nas costas, após flagrá-lo roubando pacotes de sabonete em uma feira no bairro Jardim Prudência, em zona sul de São Paulo. O caso ocorreu no dia 4 de novembro. Com a decisão, o agente será encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes.
Na época, o caso foi registrado no Departamento Estadual de Homicídios e Proteção Individual (DHPP), que abriu inquérito policial para apurar os fatos, com acompanhamento da Polícia Militar. No boletim de ocorrência, ao qual o Estadão teve acesso, o policial militar Vinicius de Lima Britto afirma que agiu em legítima defesa, versão que é contestada pela família. A reportagem não conseguiu localizar a defesa do agente Vinicius de Lima Britto.
Ao longo da investigação, a Secretaria teve acesso a imagens de câmeras de segurança que mostraram como ocorreu a tentativa de roubo que resultou na morte do suspeito. Mesmo com a prisão do policial, as investigações continuam para esclarecer todo o caso.
Os familiares da vítima foram entrevistados e estão em andamento esforços para identificar e qualificar a testemunha que esbarrou na vítima quando ela fugia do estabelecimento comercial, momentos antes de ser baleada.
Imagens de câmeras de segurança mostram que Gabriel entra no mercado por volta das 22h45 vestindo uma blusa vermelha e leva pelo menos quatro pacotes de sabonete. Ele então se dirige para a porta, mas, ao tentar sair correndo com a mercadoria, escorrega em um pedaço de papelão ali colocado devido à chuva que atingiu a cidade naquele dia.
Ao pagar uma compra na caixa registradora, Vinicius percebe o movimento estranho e saca uma arma de fogo da cintura logo após Gabriel cair no chão. O policial militar então efetua vários disparos quando a vítima já está no estacionamento do mercado. Segundo informações preliminares, foram pelo menos 11 disparos em poucos segundos.
Segundo o boletim de ocorrência, o policial militar afirmou que Gabriel colocou a mão dentro da blusa, “como se estivesse armado”, e também disse explicitamente que portava arma de fogo. O agente afirma que isso o teria obrigado a efetuar os disparos. Um motociclista de jaqueta preta, que estava por perto, corre para fugir dos tiros.
Um funcionário do mercado corroborou o relato do agente e disse que Gabriel havia dito “não mexa comigo, estou armado, não quero nada que seja seu”. Ele disse ainda que no mesmo dia, mas por volta das 6h, Gabriel roubou “caixas de café e biscoitos” do estabelecimento. Ambas as versões são contestadas pela família, que afirma que a vítima nem teve tempo de reagir.
O boletim de ocorrência indica que Gabriel teve pelo menos três perfurações no peito, duas no dedo anelar da mão esquerda, uma no antebraço esquerdo, uma na orelha direita, três no antebraço direito e uma no rosto. Imagens de câmeras de segurança mostram que ele foi atingido por alguns dos tiros enquanto estava de costas, tentando fugir da loja.
‘Foi execução, não tem outro nome’, diz pai da vítima
“Foi uma execução, não tem outro nome. Foram treze buracos no corpo do meu filho”, disse ao Estadão o pai de Gabriel, o motorista Antônio Carlos Moreira Soares, 54 anos. Segundo ele, a família só teve acesso aos vídeos da ocorrência esta semana, por meio de um advogado que os obteve junto à Polícia Civil. Só então compreenderam melhor as circunstâncias da morte de Gabriel.
“Ele infelizmente era viciado em drogas e pudemos perceber pelas imagens que ele havia roubado alguns produtos, não estou falando para ninguém ignorar isso. Mas, que a polícia o pegue e leve para a prisão, que ele cumpra as regras. lei”, disse ele. Ele exige responsabilização do agente da PM. “Nada trará meu filho de volta, mas queremos que ele (o policial) seja julgado pelo que fez”.
Soares conta que a família só soube da morte de Gabriel na manhã seguinte ao ocorrido, uma segunda-feira. Ao perceberem que o filho não dormia em casa, os pais, que moram no mesmo bairro onde fica o mercado, Jardim Prudência, foram em busca de notícias sobre o paradeiro do filho. Eles então descobriram que um jovem havia sido baleado na noite anterior.
Gabriel foi morto poucos dias antes de completar 27 anos – seu aniversário seria em 7 de novembro. “Meu aniversário foi dia 18, comemoramos no mesmo mês. Agora nem sei se vai ter Natal, é muito difícil”, disse Soares. Ele se emociona ao lembrar das histórias sobre seu filho.
“Somos de uma família de corintianos, mas quando Neymar jogou no Santos ele virou santista. Aí quando o Neymar foi para o Barcelona eu falei: e agora? Gabriel foi sepultado no dia 5 no Cemitério de Campo Grande, na Vila São Pedro. “Ele era um menino muito doce.”
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