Carolina Sá e Lírio Ferreira não quiseram fazer uma cinebiografia e escolheram o caminho da poesia para O Meno d’olho d’água, que marca o encerramento do 57º Festival de Brasília de Cinema Brasileiro e traz o processo criativo e os elementos primários para a tela das composições de Hermeto Pascoal. “Hermeto é uma montanha com várias cavernas: você procura a sua e tenta decifrar o enigma que há dentro dela”, brinca Ferreira, que tem longas-metragens premiados como Baile Perfumado e Árido Movie. “Já fizeram muitas coisas com o Hermeto, coisas mais cronológicas. Optamos por um caminho mais sensorial, mas tentando decifrar esse enigma fantástico dele, se é que é possível. “, explica ele.
Na tela aparecem imagens de um show acompanhado da produção e de uma longa entrevista com o músico aliada a uma investigação, proposta por Carolina, que levou a equipe até a Lagoa da Canoa, no município de Arapiraca, onde Hermeto nasceu, 88 anos. atrás. A ideia era buscar o que o multiinstrumentista chama de música universal. “E é essa música que tem essa complexidade harmônica e rítmica que ele cria”, explica Carolina.
Quando menino, Hermeto ia com o pai trabalhar na roça, mas, como era albino, precisava se abrigar à sombra das árvores. “É esse contato com uma natureza microcósmica, a rã do brejo, as pastagens, a feira de gado, que está na gênese de sua música”, diz Carolina, que pensou em um roteiro capaz de fazer a ponte entre os sons que inspiraram o trabalho do músico e música universal. “É um filme que tenta compreender poeticamente a relação entre sua terra e o cosmos. O que ele fala é de música universal. Foi um processo lindo”, garante o diretor.
Ela e Lírio nunca haviam trabalhado juntos e a parceria foi uma iniciativa do diretor pernambucano, que viu em Carolina a sensibilidade necessária para fazer um filme menos convencional. Diretora de televisão e roteirista, trouxe experiência da série Música libre, que dirigiu para o GNT, e de um episódio da série brasileira Meu amor — Seis Histórias de amor Verdade, produzida por José Padilha para a Netflix. Carolina também é musicista e toca, como ela mesma diz, “guitarra primitiva”. “Primitivo porque não é profissional”, explica. “Eu canto, componho músicas de dois acordes, tenho disco, mas não sou profissional”.
A familiaridade com o universo musical, porém, foi fundamental para a ideia de conceber um filme sensorial, que contou com a participação do coletivo O Grivo na sonoplastia. “A escolha dessas pessoas que trabalharam som conosco foi importante porque tinham que gostar do timbre, do silêncio, entender a importância do silêncio, da textura do som. É um filme que leva em conta a textura do som”, explica o diretor . “Queríamos fazer um filme olhando a perspectiva do Hermeto. Então, visualmente, é muito poético e, sonoramente, é uma viagem”.
Entrevista // Carolina Sá
O documentário não é suficiente
ser uma biografia. Como
ele se estrutura?
Queríamos falar dessa ponte que o Hermeto faz entre o que há de mais particular na sua região, no sertão alagoano, e o cosmos, a música universal. E o filme tem três pilares: uma ótima entrevista, um show e os sons que buscamos na sua região, que é um pântano. E isso diz muito sobre sua inspiração. É uma alegria estrear no final do Festival. No IDFA (Festival Internacional de Documentários de Amsterdã) ele foi muito bem recebido, as pessoas ficaram muito impressionadas com o Hermeto, com o pensamento dele. Ele é um mestre, um campeão, um mago. Ele realmente é um alquimista.
Quais são os elementos da alquimia na música de Hermeto?
Sua primeira relação com elementos musicais são os primeiros sons da natureza. E a natureza é o som do boi, do pássaro, o som da água. Até hoje ele brinca com um copo d’água. Ele está sempre atrás da imagem do som. Como ele vê pouco, acho que aquele som, para ele, até tem uma dimensão física, ele vê o som das coisas. Coisas como o som da roda do carro de bois, que vira nota e a nota vira música. O avô dele era ferreiro, então fomos atrás do som do ferro. No Nordeste ainda tem esses lugares onde se faz ferro, bem rústicos. E o mercado de gado, o som do ferro, o som da água, o som dos pássaros, os sons da música nordestina, o triângulo, que é de ferro, a gente procurou o som da infância do Hermeto, que está na sua músicas com toda a complexidade que ele traz.
Por que não uma biografia?
Existem mais filmes biográficos sobre a vida de Hermeto que já foram feitos. A biografia, hoje em dia, tem muitos caminhos. A opção foi entender mais o que existe antes da biografia. Qual é a ideia da música e do mundo. Ele conta algumas histórias do filme, mas um tanto en passant. O mais interessante são seus pensamentos sobre o mundo, o cosmos, a música, sobre Deus. Foi um processo, mas desde o início a biografia não interessou muito ao Lírio, nem a mim. Como documentarista e músico, estava mais interessado em entender o processo desses elementos que compõem sua música. O filme é uma viagem de imagem e uma viagem sonora, um mergulho em possibilidades mais sensoriais, porque Hermeto é muito sensorial nas coisas que pensa e nas coisas que faz.
Entrevista // Lírio Ferreira
Como surgiu a ideia de fazer um filme mais sensorial?
É muito legal quando você faz um filme sobre uma pessoa tão grande como o Hermeto, um gênio, é muito importante e gostoso de ver. Porque é muito cômodo pegar uma figura dessas e juntar coisas e montar, fazendo uma biografia convencional, dificilmente você pode errar, porque está destinado ao sucesso. Mas o risco e a dúvida é que sejam baratos. Olhando para esta montanha, foi isso que tentamos fazer. O filme é sobre um olhar único sobre uma pessoa incrível, fantástica e genial.
E qual é o resultado desse caminho?
É um filme hermético, caótico e lírico. Caroliniano. Partimos nesta viagem sensorial, visual e, sobretudo, sonora. Isso nos guiou desde o início. As escolhas de ir ao sertão alagoano e tentar imaginar de onde veio toda aquela sensibilidade, a escolha da montagem com Cao Guimarães, a trilha com Grivo.
Qual o maior desafio de fazer um filme sobre uma figura como Hermeto Pascoal, tão cheia de camadas e possibilidades poéticas?
O maior desafio de Hermeto é tentar decifrar esse enigma, no bom sentido. Aquela montanha. É um número enorme e tentamos encontrar um caminho que não fosse mais óbvio. Hermeto é um cara experimental, sensorial e tentamos nos aproximar dessa atmosfera. Isso foi o mais difícil. É muito mais cômodo e confortável fazer uma cinebiografia baseada em imagens de arquivo, sons, músicas e fica lindo, porque Hermeto é um gênio esplêndido, espetacular. Sair da zona de conforto e buscar esse caminho foi o maior desafio.
Melhor momento
Anualmente, o Correio Braziliense concede o Prêmio Saruê ao melhor momento do Festival de Brasília. A escultura premiada é da autoria do artista Francisco Galeno, que este ano desenhou e esculpiu o troféu inspirado num candeeiro, objeto constante nas suas pinturas e obras. “Lâmpada, lâmpada, flash. Carregado de histórias que não me pertencem apenas. Chama cigana que, há muito tempo, vem esclarecendo a minha história. Muito antes da TV, e cheia de ideias, imaginação, criatividade e perdição. Luz da alma A lâmpada para mim é a união, a busca pela carne desossada, pelo pão de massa fina, pela água filtrada e pelo conhecimento de uma vida cheia de luz, alegria e prazer”, explica o artista. O nome do prêmio é uma dupla homenagem da qual participam Vladimir Carvalho, diretor do O País de São Saruê, e o próprio Cerrado, que tem o pequeno marsupial como um de seus animais símbolos.
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