Sírios dentro e fora do país celebram a queda de Bashar al-Assad

Centenas de pessoas saíram às ruas de Damasco e Istambul, na Turquia, onde vive uma diáspora de meio milhão de sírios, neste domingo (12/8), para comemorar a “fuga” do presidente Bashar al-Assad da capital síria, agora sob controle rebelde.

Em Damasco, tiros foram disparados para o alto e orações religiosas foram ouvidas nos alto-falantes das mesquitas. Em Istambul, centenas de sírios reuniram-se em frente à grande mesquita no bairro de Fatih, apesar das fortes chuvas.

“É incrível, temos a sensação de renascer”, disse Sawan Al Ahmad em Istambul, enquanto carregava o filho.

Em 2011, este sírio viveu os primeiros meses do cerco implacável de Homs pelas forças do regime de Assad, antes de fugir para a Turquia, onde vivem três milhões de refugiados sírios. Agora, ela está entusiasmada com a ideia de levar o filho para “sua terra natal”.

Em Damasco, dezenas de pessoas reuniram-se para celebrar a queda do clã Assad, que passou mais de meio século no poder, num país dividido por uma violenta guerra civil.

Numa praça da capital síria, entre gritos de “Allahu Akbar” (“Deus é grande”), dezenas de moradores derrubaram uma estátua de Hafez al-Assad, pai de Bashar, e pisotearam o monumento.

“A Síria é nossa, não é da família Asad”, gritavam homens armados, membros de grupos rebeldes, que percorreram algumas ruas da cidade e atiraram para o alto.

Os soldados do regime livraram-se rapidamente dos uniformes do Exército Sírio quando deixaram o quartel-general do Estado-Maior, disseram testemunhas à AFP.

As estações públicas de televisão e rádio também foram abandonadas pelos funcionários.

“Você vai acabar no inferno”

A poucos quilómetros de distância, na zona antiga de Damasco, onde vivem muitas famílias cristãs, alguns jovens gritaram “o povo sírio está unido”, uma mensagem que pretende tranquilizar as minorias num país de diferentes confissões religiosas devastado por 13 anos de guerra civil.

Noutro bairro, Shaghur, mulheres atiravam arroz nas varandas à medida que os combatentes armados passavam.

“Não posso acreditar que a partir de hoje não terei mais medo”, disse Ilham Basatina, uma mulher de 50 anos, à AFP.

“A nossa alegria é imensa, mas não será completa até que o criminoso seja levado à justiça”, acrescentou, referindo-se a Bashar al-Assad. Os rebeldes que entraram na cidade alegaram que o “tirano” havia fugido.

Mohamed Cuma, um estudante de Aleppo que mora em Istambul, disse que “não se importa” com o que acontece com Assad.

“Ele saiu e isso é o essencial. Deixe-o ir para a Rússia, Bielorrússia ou Venezuela, deixe-o ir. De qualquer forma, ele vai acabar no inferno!”, declarou o estudante de Engenharia Civil. Revelou que “muito provavelmente” regressará ao seu país, onde “poderá ser útil na reconstrução”.

“Cultura do medo”

Antes do amanhecer, Damasco foi abalada por cinco fortes explosões de origem desconhecida, provavelmente tiros de artilharia ou explosões em depósitos de munições, segundo um soldado fugitivo que falou sob condição de anonimato.

“Nosso superior direto nos disse que precisávamos sair e voltar para casa”, disse ele à AFP. “Entendemos que tudo acabou.”

Nas redes sociais, jornalistas, funcionários públicos e deputados sírios trocaram as fotos dos seus perfis por imagens da bandeira da oposição.

Waddad Abd Rabbo, editor-chefe do jornal Al Watan, alinhado ao governo, disse que “a única coisa que fizemos foi executar ordens e publicar as informações que nos enviaram”, referindo-se às autoridades.

“Talvez fôssemos prisioneiros de uma cultura do medo. Ou tínhamos medo da mudança, porque pensávamos que isso levaria ao sangue e ao caos”, disse o ator sírio Ayman Zidan no Facebook.

“Mas aqui estamos, no início de uma nova era, com homens que nos impressionaram pela sua nobreza e cultura do perdão, com o desejo de restaurar a unidade do povo sírio”, acrescentou, referindo-se aos rebeldes.

Os rebeldes, vestidos com camuflagem, ajoelharam-se nas ruas de Damasco para beijar o chão e rezar. Outros tiraram fotos, em meio ao barulho incessante dos disparos de armas automáticas.