O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu, na semana passada, o último compromisso internacional do ano, a reunião de cúpula do Mercosul no Uruguai, e encerra a fase de grande articulação da política internacional com imagem fortalecida no exterior, na avaliação de especialistas. O chefe do Executivo ganhou pontos ao estar à frente da cimeira do G20, grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes do planeta mais a União Europeia e a União Africana, no Rio de Janeiro, e ao participar na conclusão das negociações para o acordo de livre comércio. -comércio entre o Mercosul e a União Europeia, na última sexta-feira, em Montevidéu. O acordo é um marco para a diplomacia brasileira, pois ocorre em um momento de aumento do protecionismo global, à luz da eleição do republicano Donald Trump para a Casa Branca.
O fim das negociações foi visto como um grande ganho para o presidente brasileiro, que venceu as eleições de 2022 com a promessa de colocar o Brasil novamente na vanguarda da diplomacia internacional. “A conclusão do acordo é, para Lula, uma vitória relevante, ainda que os próximos passos devam ser, de fato, implementados. Mesmo mantendo sua conhecida preferência pela cooperação Sul-Sul, o presidente demonstrou maturidade ao fazer o que for necessário para destravar negociações que se arrastavam há 25 anos e manter preservados os interesses do Brasil”, avalia Beatriz Nóbrega, consultora de Relações Governamentais e CEO (principal executiva) do Instituto VivaCidades.
“O acordo é um grande avanço para uma nova inserção do Mercosul no comércio internacional. É também um elemento positivo para o Brasil no novo contexto geopolítico com o crescente confronto entre os EUA e a China”, destaca o ex-embaixador do Brasil em Washington Rubens Barbosa , Diretor-Presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice).
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, considera a conclusão das negociações do acordo Mercosul-UE “um passo muito importante” para o Brasil, tanto no aspecto político quanto comercial. “Mostra ao mundo que o país é capaz de fazer acordos com grandes blocos e que o Brasil é importante econômica e comercialmente, porque abre espaço para exportações de produtos industrializados”, afirma. Porém, ele lembra que o texto ainda precisa ser revisto e aprovado pelos parlamentos dos países dos dois blocos. Para Barbosa, esse obstáculo poderá ser superado até o final de 2025, quando o país assumirá a presidência pro tempore do Mercosul.
Nova etapa
Lula ainda se prepara para outra etapa igualmente importante desta agenda, pois, em 2025, o Brasil sediará a Cúpula dos BRICS — grupo de países emergentes formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, agora ampliado — e o 30ª reunião da conferência das Nações Unidas (ONU) sobre alterações climáticas, COP30.
“O presidente Lula encerra 2024 permanecendo fiel ao plano de permitir que o Brasil recuperasse uma posição mais relevante no cenário global, retomando o status quo das relações bilaterais e multilaterais. a participação na Assembleia Geral da ONU este ano pode ser considerada um bom aquecimento para o que está por vir”, afirma Nóbrega.
Em setembro, na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, Lula abordou temas como a guerra na Faixa de Gaza, a crise climática, a fome e reforçou o apelo por reformas na governança global. Mariana Cofferri, analista de relações internacionais e membro dos Comitês de Advocacia dos Tribunais Superiores e de Relações Internacionais da região da Organização dos Advogados Brasileiros do Distrito Federal (OAB/DF), considera que “Lula transmitiu positivamente uma imagem de liderança regional no Sul -Sul, principalmente com a expansão das alianças comerciais, os Brics, e o retorno do protagonismo internacional”.
Mas a participação de Lula na cimeira dos Brics, em setembro, marcada principalmente pela sua defesa de uma moeda comum no grupo, como alternativa ao dólar, gerou tensão com Donald Trump. O republicano ameaçou aumentar as tarifas, quando voltar ao poder, para os países do bloco que ganhou novos membros: Irã, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Egito e Arábia Saudita.
Apesar da retomada do protagonismo do Brasil em alguns fóruns multilaterais importantes, como o G20, o cientista político Leandro Consentino, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), tem ressalvas. “Ainda há uma dificuldade, sobretudo, por uma certa ideologização de alguns temas, como a reaproximação dos países do Brics e o antiamericanismo, porque isso pode dificultar um pouco a entrada do Brasil no cenário internacional”, disse. estados.
Posicionamento político
Este ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi chamado a assumir uma postura mais contundente nas guerras entre Palestina e Israel, no Oriente Médio, e Rússia e Ucrânia, na Europa. Além disso, a falta de críticas à falta de transparência eleitoral na Venezuela, que mais uma vez colocou Nicolás Maduro na presidência, deixou a diplomacia do governo brasileiro, que sempre defendeu a democracia, numa posição muito incômoda em relação ao ditador vizinho .
“Um aspecto da atuação de Lula em 2024 foi a capacidade de não se expor diante dos cenários de crise regional sem comprometer a imagem do Brasil. Mesmo diante de situações delicadas envolvendo aliados históricos, como a Venezuela de Maduro, optou por uma postura mais institucional, evitando tensões desnecessárias e preservando o capital político do país para momentos mais estratégicos. Isso mostra um Lula mais pragmático”, afirma a consultora Beatriz Nóbrega.
Mariana Cofferri, da OAB-DF, avalia a situação da mesma forma. “É necessário manter a neutralidade natural e esperada do chefe de Estado brasileiro, para que sejam minimizados os efeitos colaterais do soft power ou do desgaste que podem durar alguns anos, especialmente com as mudanças de liderança em outros países que têm vem acontecendo. ”Para ambos os especialistas, a postura mais “neutra” do presidente brasileiro contribuiu para a imagem externa do Brasil, que, historicamente, é visto como um país pacifista. Segundo Nóbrega, Lula tem procurado posicionar o Brasil como um mediador confiável entre os diferentes interesses globais, “especialmente no delicado equilíbrio entre China, Rússia e Estados Unidos”, mantendo canais de diálogo abertos com todas as grandes potências, “sem entrar em colisão claro, com nenhum deles.
Leandro Consentino, do Insper, não vê da mesma forma. Para ele, em muitos momentos, houve uma tentativa de neutralidade que acabou pendendo mais para um lado do que para outro. “Essa imagem pacifista em si, não sei se conseguimos cultivá-la muito bem, até porque o país acaba se intrometendo em alguns assuntos de uma forma que tenta parecer um tanto imparcial, mas acaba soando um pouco de lado. Quer dizer, no conflito na Ucrânia e no conflito em Gaza, o governo tenta passar a ideia de que não queremos guerra de nenhuma forma, que Lula não quer conflito de nenhum lado, mas sempre defende um lado mais responsável do que o outro.” Num discurso, por exemplo, Lula chegou a comparar o governo israelense ao de Adolf Hitler, na Alemanha nazista, que matou milhões de judeus. Vale lembrar que, desde a eleição, evitou criticar ditaduras de esquerda, como a de Daniel Ortega, na Nicarágua.
Protagonismo ambiental
A bandeira hasteada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a crise climática, que apareceu em todos os seus discursos internacionais e foi uma das prioridades durante a cúpula do G20, é considerada o principal sucesso da diplomacia brasileira, segundo especialistas.
A declaração final dos líderes do G20 incluiu o compromisso de garantir que o aumento da temperatura média global permaneça abaixo dos 2ºC. O Acordo de Paris, assinado em 2015, previa que o valor permaneceria em 1,5ºC até 2030. Porém, este ano, o mundo já está perto da marca.
Além disso, durante a COP29, realizada simultaneamente com o G20 no Azerbaijão, foram atualizadas as metas individuais para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, que provocam o aquecimento da Terra. As Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) são compromissos que cada país assume para mudar a situação climática até 2030.
“Lula tem muita razão em situar esse tema da COP30, a questão ambiental, como um ativo da política externa brasileira. Essa é uma meta, entre aspas, importante do ponto de vista da nossa diplomacia. tipo de debate, em que tradicionalmente temos uma posição de liderança importante, temos um soft power, que chamamos de poder de convicção, um poder de ideias importantes que coloca o Brasil bem nesse nível, nessa discussão, sem dúvida. “, diz o cientista político Leandro Consentino, do Insper. “Essa é a face que o Brasil precisa dar mais visibilidade no exterior, em detrimento de querer ser mediador ou querer se intrometer em assuntos, como a guerra na Ucrânia, como o conflito em Gaza, para o qual não temos nem o credenciais nem tamanho razoável do ponto de vista de poder para finalmente querer resolvê-lo”, acrescenta.
O lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, na cimeira do G20, será, na avaliação dos especialistas, a base das expectativas para assumir os compromissos internacionais do próximo ano. Beatriz Nóbrega, do Instituto VivaCidades, vê a atuação de Lula no Rio como “um ensaio” para 2025.
Acompanhe o canal Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
imagem de empréstimo
como conseguir crédito no picpay
picpay instalar
cred rápido
banco noverde
noverde whatsapp
siape consignação
bk bank telefone
apk picpay
consignado inss bancos
px significado