A partir de amanhã, o Banco Central realiza a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano, e as opiniões estão divididas na decisão de quarta-feira. Segundo analistas, após a frustração do mercado financeiro com o pacote de cerca de R$ 70 bilhões de cortes de gastos entre 2025 e 2026, anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no último dia 27, a certeza entre eles é que o ritmo dos aumentos das taxas de juros acelerarão novamente.
O mau humor do mercado com o pacote fiscal fez com que o dólar disparasse para mais de R$ 6, aumentando as pressões inflacionárias, e a preocupação com o risco de dominância fiscal —quando o aumento dos juros não tem efeito no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) , que mede a inflação oficial, que deverá ultrapassar o teto da meta neste ano e no próximo. E, para 2026, considerado o horizonte relevante monitorado pelo BC, as projeções para o IPCA permanecem acima do centro da meta, de 3%, e estão muito próximas de 4%.
E, com a piora das projeções de inflação e do quadro fiscal, a maioria das apostas pelo aumento da taxa básica da economia (Selic), hoje em 11,25% ao ano, ultrapassou 0,50 ponto percentual – consenso desde a última reunião do Copom – para 0,75 ponto percentual , para 12% ao ano. Mas os analistas admitem que não está descartado um aumento ainda maior, de 1,0 ponto percentual, para 12,25% ao ano. É o caso de Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
“As previsões para a Selic ao final do ciclo de ajuste monetário estão em 14%, no primeiro semestre de 2025, devido à combinação do fraco pacote fiscal e do ressurgimento da inflação”, destaca Vale. Segundo ele, o governo não sinaliza muita preocupação com a inflação acima do teto da meta de 4,50%, que era a meta de inflação no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). “Será muito difícil para o BC conseguir trazer a inflação para o centro da meta (3%), o que, dadas as circunstâncias atuais, exige uma taxa de juros entre 15% e 16%, algo que será difícil de veja”, explica.
Sergio Vale destaca ainda que o pacote fiscal ficou “muito aquém do ideal”, tanto que, segundo seus cálculos, o governo precisará de um ajuste de 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, R$ 530 bilhões, poder voltar a registar um excedente primário (poupança para pagamento de juros da dívida pública) para estabilizar o crescimento da dívida. Segundo estimativas do MB, o buraco fiscal de 2025 ficará acima da meta fiscal, em torno de 0,8% do PIB, e a dívida pública bruta, atualmente em 76,8% do PIB —equivalente a um recorde de R$ 9 trilhões, segundo dados do Banco Central —, atingirá 84% do PIB em 2026 — um aumento de 12 pontos percentuais desde 2022.
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, acompanhou o mercado nas revisões e passou a prever a Selic em 12% no final deste ano. Ele lembra que o mercado está dividido em apostas de até 12,25%. “A comunicação do Banco Central faz sentido para essas duas possibilidades de aumento dos juros. E, do ponto de vista econômico, também contribui para essas projeções, pois a atividade continua forte e o dólar pressiona a inflação, que continua sem ancoragem”, disse. explica.
Superação de meta
As projeções do mercado para a inflação continuam a ser ajustadas para cima e, em algumas estimativas, ultrapassam os 5% neste ano e no próximo. É o caso da XP Investimentos, que prevê que o IPCA feche este ano em 5% e, no ano que vem, em 5,2%. Rodolfo Margato, economista da XP, avalia que a tarefa do BC no controle da inflação é cada vez mais desafiadora devido à inflação permanecer acima do teto da meta de 4,5%. “Acreditamos que a resposta da política monetária tem que ser (ainda) mais firme”, enfatiza. Pelas projeções da XP, a Selic subirá para 12,25% e a taxa terminal do ciclo passará de 13,25% para 14,25% ao ano. “Na nossa avaliação, o Comitê preferirá ser mais ousado no curto prazo para colocar o ‘trem de volta nos trilhos’ em tempo hábil, em vez de tentar suavizar o ciclo. reduzir o crescimento das despesas obrigatórias.”
O economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BC e consultor da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), considera um exagero o Copom aumentar a Selic para 12,25%. Mas reconhece que, com os Estados Unidos sob o comando do republicano Donald Trump, a partir de 20 de janeiro, será ainda mais difícil o dólar voltar a cair e poderá permanecer, por muito tempo, na casa dos R$ 6.
“Ainda temos inflação em alimentos e serviços que deve continuar pressionando o IPCA em 2025. Mas o BC não tem condições de subir muito os juros, porque há muitas decisões temporárias para a Selic ir para 15% “, afirma. No entanto, Gomes reconhece que a inflação continuará a subir, atingindo 5,5% no final deste ano e 5,8% no final de 2025, principalmente devido à indexação inercial. “Temos ainda uma situação fiscal muito má, com uma dívida pública recorde e um défice nominal (necessidade de financiamento do país) próximo dos 10% do PIB”, alerta. Ele lembra que esse patamar foi alcançado durante a crise econômica e fiscal do governo Dilma, quando a inflação ultrapassou os 10% ao ano. “O governo começou muito bem, mas está cometendo vários erros. Precisa começar a se preocupar com o aumento do déficit nominal, porque isso coloca em risco o sucesso do Plano Real”, acrescenta.
A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, assim como Gomes, ainda não vê espaço para aumento de 100 pontos-base na Selic, porque acredita que o Banco Central levará em consideração a aprovação do pacote fiscal pelo Congresso ainda este ano, apesar de frustração do mercado. Ela estima que os juros continuarão subindo até junho de 2025, quando a Selic chegará a 14% ao ano e, somente em dezembro, haverá o início de um ciclo de queda, para 13,75% ao ano. “Desde a última reunião do Copom houve uma deterioração significativa nas expectativas, de forma geral. cenário permanece acima da meta até 2026”, afirma. Ela prevê que o Copom eleve a Selic em 0,75 ponto percentual.
Apesar de prever elevação da taxa Selic para 12% ao ano, nesta semana, Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, também reconhece que o Copom poderá elevar a taxa Selic para 12,25% ao ano, se o conselho considerar o recente aumento de o dólar. Ele lembra que a projeção de inflação do BC para o horizonte relevante (2º trimestre de 2026), atualmente em 3,6%, já está longe do centro da meta, de 3%. “O Comité também deve manter um tom duro, destacando a desancoragem das expectativas de inflação e a necessidade de uma política fiscal credível. Diante desse cenário mais adverso, não descartamos a possibilidade do Comitê elevar a taxa de juros para um patamar acima do nosso cenário base”, destaca.
Despedida de Campos Neto à frente do órgão
A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que acontece amanhã e quarta-feira, também marcará a última reunião do colegiado comandado por Roberto Campos Neto. O economista, cujo avô, Roberto Campos, foi o primeiro presidente do BC, está à frente da autoridade desde 28 de fevereiro de 2019 e deixa como principais destaques de sua gestão a aprovação da autonomia do Banco Central, em 2021 , e o lançamento do Pix — plataforma de pagamentos instantâneos desenvolvida por técnicos do BC e que continua passando por diversas inovações desde que começou a funcionar oficialmente, em novembro de 2020.
Analistas destacam que, apesar das críticas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) faz desde o início do mandato, ele ainda precisará agradecer ao presidente do BC pela condução da política monetária. A taxa básica da economia (Selic) voltou aos patamares de dois dígitos, mas a economia continua com forte crescimento neste ano. As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2024 continuam revisadas para cima, e os mais otimistas esperam um aumento de até 3,5%. “Tudo sugere que o segundo ano do atual mandato de Lula seja lembrado como seu melhor ano em termos de números macro gerais”, destaca Sergio Vale, da MB Associados, que previu um crescimento do PIB deste ano de 2,8% a 3,4%.
Para o ex-diretor do Banco Central, Campos Neto fez um bom trabalho e “vai deixar muita coisa boa para a instituição”. “A parte digital e a autonomia foram importantes. Pela primeira vez em 50 anos, vimos o BC não baixar os juros quando há eleição para Presidente da República”, destaca Gomes. No entanto, Gomes critica as declarações excessivas de Campos Neto. “O presidente de um Banco Central não pode falar muito, para evitar barulho, porque ele fala com compradores ou vendedores. Por isso é preciso ter muito cuidado”, argumenta. Para ele, também é preciso evitar almoçar ou jantar com políticos, “principalmente agora que a instituição é independente”.
O consenso entre os analistas é que, em 2025, o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, terá mais trabalho para controlar a inflação. “Em 2024, o PIB crescerá acima de 3% e o desemprego será menor, mas haverá desaceleração no próximo ano. A autonomia do BC será posta à prova, quando se aproximar das eleições de 2026, e a partir de agora, o BC precisará continuar duro no discurso e na condução da política monetária”, afirma Rafael Cardoso, do Banco Daycoval.
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