O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, operado na madrugada desta terça por hemorragia intracraniana, convalesce em meio a uma crise na bancada do Congresso e outra nas comunicações de seu governo. Lula passou mal na noite desta segunda-feira e foi submetido a exames médicos que confirmaram que ele estava sangrando, devido às consequências da queda que sofreu em outubro, ao cair de um banco do banheiro enquanto cortava as unhas. A cirurgia foi um sucesso e Lula passa bem.
Ele reclamava de dores de cabeça desde a semana passada, sem saber que o problema era por causa do sangramento, que pressionava o cérebro. Transferido para São Paulo e operado às pressas no Hospital Sírio-Libanês, segundo os médicos, o presidente da República está lúcido, come e fala normalmente, mas permanece na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e não tem previsão de alta antes na próxima semana, quando está previsto seu retorno ao Palácio do Alvorada.
“O presidente evoluiu bem, chegou da cirurgia praticamente acordado, foi ‘extubado’ e está estável, falando normalmente”, disse o médico Roberto Kalil. Lula foi operado em um momento difícil para o governo, por causa da crise com o Congresso. O governo precisa aprovar o ajuste fiscal e concluir a reforma tributária para melhorar o ambiente de negócios, mas enfrenta o problema resumido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de forma lacônica: “Não vota”. Na verdade, devido às exigências de transparência e rastreabilidade das emendas parlamentares, feitas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a própria base governamental se recusa a aprovar as matérias.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, minimiza as dificuldades do governo com o Congresso e negou rumores sobre uma possível reforma ministerial. Segundo Padilha, o foco do governo é encerrar o ano com a aprovação de medidas econômicas estratégicas e a execução dos recursos destinados a obras e programas prioritários. Ele disse que entre as prioridades do governo estão a aceleração da execução de emendas parlamentares e os recursos destinados a programas como redução de filas de saúde, obras de infraestrutura e investimentos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
O vice-presidente Geraldo Alckmin não assumiu a Presidência, apenas parte da agenda de Lula, após cancelar seus compromissos em São Paulo. Recebeu o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, em visita oficial, mas as restantes reuniões foram canceladas. O ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social (Secom), esclareceu que o governo não vê necessidade do afastamento oficial de Lula da Presidência da República após cirurgia.
Crise de comunicação
Pimenta é o ápice de uma crise de comunicação governamental, agravada desde a semana passada pelas críticas públicas que recebeu de Lula. Responsável pelos contratos publicitários governamentais, não conseguiu implementar uma estratégia de comunicação e administra uma guerra de egos e uma disputa de poder dentro do departamento, em que seus principais assessores buscam influência junto ao presidente Lula e à primeira-dama Janja da Silva, que tem seu próprio política de comunicação.
Nesta terça-feira, em suas redes sociais, Janja falou sobre a cirurgia: “Passando para agradecer todas as orações, carinho e boas energias que meu amor, presidente Lula, recebeu especialmente hoje”, disse Janja, que acompanha o presidente.
Responsável pelas redes sociais de Janja, Brunna Rosa Alfaia tem cada vez mais influência na comunicação governamental devido à proximidade com a primeira-dama. Brunna disputa influência com o fotógrafo Ricardo Henrique Stuckert, conhecido como Stuckinha, uma sombra ao lado de Lula, cuja imagem monopoliza desde 2003. Quando o Instagram era uma pequena startup, em 2010, Stuckert criou uma conta para o então ex-presidente, que ele até administrou. durante os 580 dias em que esteve na prisão. Com a vitória de Lula, Stuckert conquistou o cargo de Secretário de Produção e Difusão de Conteúdo Audiovisual.
Pimenta nunca teve controle sobre as redes sociais do governo, exceto a sua. Também convive com outra disputa, entre o secretário de imprensa José Chrispiniano, que cuida do X de Lula (antigo Twitter), e o secretário-executivo Laércio Portela, que substituiu Pimenta durante as enchentes no Rio Grande do Sul. Ambos sonham com o cargo de Pepper. O marqueteiro baiano Sidônio Palmeira, porém, é o nome mais forte do portfólio. Responsável pela campanha eleitoral de 2022, seria a alternativa para o governo ter uma estratégia de comunicação e um comando único na área.
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