A 35 quilómetros a norte de Damasco, um dos símbolos do horror do regime de Bashar Al-Assad tornou-se história. A queda do ditador trouxe à tona histórias do “matadouro”, como ficou conhecida a prisão de Saydnaya. Quando a notícia da tomada de Damasco chegou aos prisioneiros, muitos deles reagiram com incredulidade, depois de anos, às vezes até décadas, de inferno. “O que aconteceu?” perguntaram os internos, quando as fechaduras foram quebradas. “Você está livre, saia! Acabou!” gritou um homem, gravando um vídeo com seu celular. Pessoas emaciadas, algumas delas fracas demais para andar, começaram a emergir das celas.
Pesquisadora, ativista de direitos humanos e coautora de Gulag Sírio: Por Dentro do Sistema Prisional de Assad, 1970-2020 (“Gulag Sírio: Por dentro do sistema prisional de Assad, 1970-2020“), Jaber Baker foi preso em Saydnaya entre 2002 e 2004. “O apelido de ‘matadouro’ foi incorporado a esta prisão desde o início da revolução. Milhares de sírios foram submetidos a assassinatos sistemáticos, tortura, fome e negligência médica. Alguns relatos mencionam que foram mais de 15 mil entre 2013 e 2015”, explicou ao Correio, através da rede social X. Segundo Baker, Saydnaya representa o ponto central da dor e do grande sofrimento. que vive há muitos anos, desde a década de 1970, num arquipélago de prisões, centros de detenção e tortura. Temos agências de inteligência militares e civis, todas com prisões, bem como formações militares e de segurança que têm as suas próprias prisões. Saydnaya é a coroa gigante deste maldito arquipélago.”
Na segunda-feira (12/9), Amin Al-Lababidi, 57 anos, visitou Saydanya em busca do cunhado e de outro familiar, que havia sido capturado pelo regime de Al-Assad. “A maioria das pessoas que vi saindo de lá estavam doentes e perderam a memória”, disse ele ao Correspondência o gerente de uma empresa farmacêutica em Damasco. “Vi pais e mães esperando pelos filhos, com lágrimas no rosto e com esperança em Deus e na libertação. Mas eles não trouxeram os filhos para fora, nem sabiam o seu destino”.
Segundo Al-Lababidi, o que aconteceu em Saydnaya nos últimos 38 anos é algo que “nenhum filme pode descrever”. “O centro de detenção é enorme. Saydnaya representava tudo o que era prejudicial à humanidade. Não era uma prisão, mas um matadouro de seres humanos”, denunciou. “Naquele lugar havia todos os tipos de tortura, inclusive algumas que não sabíamos que existiam. A vilania do regime de Bashar Al-Assad não tinha parâmetros no mundo”. Ele relatou que as células solitárias de Saydnaya mediam apenas 1m de largura por 1m de comprimento. As celas comuns, por sua vez, tinham 2m por 6m. “O objetivo de Saydnaya era tortura e sujeira.”
Imagens postadas nas redes sociais mostraram o que seria uma “prensa humana” — uma espécie de leito de concreto em que uma imensa placa de aço descia sobre o prisioneiro, amarrada com cordas, esmagando-o instantaneamente.
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