O Senado aprovou nesta quinta-feira, por 49 votos a 19, o texto do primeiro projeto de lei complementar que regulamenta a reforma tributária. Como as alterações foram feitas pelos senadores, o projeto retornará à Câmara para posterior apreciação dos deputados —o que deve ocorrer na próxima semana.
O relator do projeto, senador Eduardo Braga (MDB-AM), promoveu uma série de alterações no texto. Ele ampliou os benefícios concedidos às empresas localizadas na Zona Franca de Manaus e atribuiu critérios objetivos para a tributação das pessoas físicas que obtêm rendimentos com compra, venda, cessão e locação de imóveis. Os senadores também fizeram alterações em algumas propostas feitas por Braga, como a retirada do imposto seletivo sobre armas e munições.
Veja abaixo as principais mudanças:
Concessões
Braga fez concessões a atividades que, segundo cálculos que apresentou, tiveram um aumento de 0,13 pontos percentuais na taxa normal do novo Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), que substituirá cinco impostos atuais. Durante a votação ao longo desta semana, outras concessões foram feitas.
A mudança mais significativa foi aprovada ontem pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que equiparou o regime especial de tributação do saneamento ao regime sanitário. Esta alteração deverá acrescentar mais 0,38 pp ao Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA).
Houve também outras concessões menores que ainda não foram contabilizadas. As academias receberam desconto de 30% no imposto em relação à taxa de referência. Os pesticidas também ganharam uma vantagem: a sua nova taxa de IVA será reduzida em 60%. Os biscoitos para consumo popular foram sujeitos a uma tributação reduzida equivalente a 60%.
Zona Franca de Manaus
Braga, que já foi governador do Estado do Amazonas, ampliou os benefícios concedidos às empresas localizadas na Zona Franca de Manaus em relação ao projeto que havia sido aprovado pela Câmara e vai além dos incentivos oferecidos hoje às empresas da região.
Embora o tema tenha sido alvo de críticas de senadores, como o paranaense Sergio Moro (União-PR), não houve mudanças em relação ao que Braga apresentou. Ao contrário, diante de reclamações de senadores de outros estados da Região Norte, Braga estendeu vantagens às áreas de livre comércio localizadas nos vizinhos AC, AP, RO e RR e estendeu sua vigência de 2050 para 2073.
O relator também incluiu um dispositivo que concede benefícios fiscais à única refinaria instalada na Zona Franca, que pertence à distribuidora Atem.
Armas e munições
O Senado derrotou a proposta do governo de reintegrar armas e munições no Imposto Seletivo e decidiu mantê-las fora da tributação. A reinclusão de armas e munições foi uma proposta de destaque do líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP).
Quando o regulamento foi aprovado na Câmara, as armas e munições já estavam fora do Imposto Seletivo, mas Braga decidiu reintroduzi-las na tributação. Na CCJ do Senado, a oposição conseguiu aprovar a exclusão.
Imobiliária
O relator do Senado atribuiu critérios objetivos para a tributação das pessoas físicas que obtêm rendimentos com compra, venda, cessão e aluguel de imóveis. O texto da Câmara deixou o assunto vago e abrangia apenas os profissionais que já recolheriam o IBS (IVA dos estados e municípios) e o CBS (IVA federal), como profissionais autônomos.
Agora, toda pessoa física que tiver mais de três imóveis diferentes e obtiver com eles uma renda superior a R$ 240 mil por ano será tributada na locação ou cessão. No caso de vendas, se uma pessoa física vender mais de três imóveis em um ano ou mais de um imóvel adquirido nos últimos cinco anos, também estará sujeito à tributação.
No caso da taxa que vai aplicar a estas operações, Braga aplicou reduções superiores às aprovadas pela Câmara. Na venda de imóveis, a taxa aplicável será de 50% da taxa normal de IVA – que se aplica a todos os restantes produtos e serviços. O texto que saiu da Câmara previa redução de 40%. No caso de aluguel, arrendamento e cessão, a redução foi ampliada para 70% – a anterior era uma redução de 60% na tarifa normal.
Reembolso
O texto aprovado pela CCJ ampliou o cashback (mecanismo de restituição de impostos para famílias de baixa renda) nas contas de telefone e internet. O texto da Câmara já previa a devolução de 100% do CBS (IVA federal) e de pelo menos 20% do IBS (IVA estadual e municipal) de gás, água e esgoto e energia elétrica. Para demais produtos e serviços, o reembolso será de 20% do CBS e IBS.
Extração e exportação de minérios
Braga decidiu aceitar uma alteração que exclui um excerto do artigo que estabelece que não existe Imposto Seletivo sobre o fornecimento de bens com finalidade específica de exportação a empresa comercial exportadora.
A emenda, do senador Weverton Rocha (PDT-MA), exclui dispositivo com o intuito de “garantir a imunidade constitucional das exportações de bens minerais ao Imposto Seletivo”. Segundo o autor da alteração, a tributação dessas operações geraria impactos negativos.
Pesticidas agrícolas
Braga fez um ajuste de redação no parecer para garantir que haja revisão a cada 120 dias da lista de insumos agrícolas e aquícolas sujeitos à redução de 60% nas alíquotas CBS (federal) e IBS (estaduais e municipais).
Aceitou também alterações para serviços funerários, cremação e embalsamamento no regime diferenciado e melhorias na redação do Imposto Seletivo, inclusive sobre concursos de prognóstico. Braga incluiu ainda uma redução de 60% nas taxas do IBS e CBS para atividades de artes performativas.
Bebidas açucaradas e serviços veterinários
A CCJ também aprovou ontem uma alteração para retirar as bebidas açucaradas do imposto seletivo e a inclusão dos serviços veterinários na redução de 60% da alíquota.
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