Como se não bastasse a desconfiança do mercado financeiro em relação ao governo federal e ao Congresso em relação ao pacote de corte de gastos e à reforma tributária, um perfil mentiroso no X (antigo Twitter) ajudou a aumentar a histeria em relação ao dólar. Resultado: a moeda norte-americana atingiu os exorbitantes R$ 6,20 pela primeira vez na história. Mas, com o passar da tarde, foi esfriando até fechar em R$ 6.096.
Dois fatores levaram à queda, que, mesmo assim, representa um aumento de 0,02% em relação ao valor de fechamento do mercado na segunda-feira: 1) o Banco Central (BC) voltou à ação com dois leilões extraordinários, com vendas da moeda em o mercado spot — o primeiro, US$ 1,2 bilhão, e o segundo, US$ 2,015 bilhões; e 2) o anúncio do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), de que parte do pacote de corte de gastos seria votada.
“Não estou garantindo aprovação ou rejeição, mas vamos votar”, disse Lira. Em seguida, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), disse que as medidas também serão apreciadas no Senado nas próximas horas. Depois disso, as coisas se acalmaram.
Mas pela manhã a histeria tomou conta do mercado. Isso porque um perfil falso no X chamado “insidercapital” — que foi deletado — atribuiu diversas mentiras ao futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo. Uma delas era sobre “uma nova moeda do Brics”, que supostamente protegeria o mercado da pressão do dólar.
Além disso, divulgou que Galípolo considerava “artificial” a valorização da moeda norte-americana e que, portanto, não via o cenário com preocupação. Ele atribuiu ao futuro presidente do BC a “meta” de fazer o dólar “voltar a R$ 5,00” em 2025.
Fim do ano
Para manter a moeda sob pressão, os traders apontam para uma típica demanda de final de ano por remessas de lucros e dividendos ao exterior. Há relatos de que empresas e fundos adiaram compras de dólares esperando a queda do câmbio. Como isso não se concretizou, apressaram-se a encerrar as operações esta semana, as últimas com liquidez razoável em 2024.
“Há muita procura por moeda nesta última semana útil do mês e o cenário externo continua adverso, com dólar forte, diferentemente do que vimos em dezembro do ano passado”, afirma a economista-chefe e CEO da Buysidebrazil, Andrea Damico , acrescentando que mesmo o governo ainda precisa recuperar a confiança na política fiscal.
“O BC fez um leilão maior à tarde, atendendo a demanda por moeda, o que ajudou a acalmar um pouco o dólar. E aí veio a notícia sobre a possibilidade de aprovação do pacote fiscal ainda este ano, o que diminuiu o clima de incerteza”, diz o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia, para quem o BC deve ter identificado uma “disfuncionalidade” no mercado, com uma demanda pontual por moeda muito forte.
“O BC já deixou bem claro que não olha o nível do câmbio. Foi mais um movimento para dar liquidez ao mercado”, acrescentou.
O BC injetou US$ 12,760 bilhões no mercado de câmbio em dezembro, com leilões de linha baseados no compromisso de recomprar e vender moeda à vista. Esta é a maior intervenção da autoridade monetária num único mês desde março de 2020, marcado pela chegada da pandemia de covid-19 ao Brasil. (Com Agência Estado)
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