Em famílias disfuncionais, gritos e brigas podem substituir abraços e presentes agradáveis na véspera de Natal. É importante lembrar que as reuniões familiares não são iguais para todos e quem se sente sozinho não deve ser julgado.
Dinâmicas familiares abusivas causam separação independentemente da época do ano. Para Juliana*, 21 anos, a melhor comemoração é passar o Natal sozinha, em paz, longe de confusões. Filha de pais divorciados, a jovem optou por ficar longe da ceia de Natal, que foi marcada por discussões sobre pensões e ideias pessoais.
“O que menos felicidade traria ao meu Natal seria a reunião da minha família, porque isso só causaria muitas brigas e desconforto”, explica. As propagandas de Natal que retratam sempre a felicidade incondicional incomodam Juliana*, que argumenta que são falsas: “Essa ideia de família ideal é ilusória, cada família, no fundo, tem muitos problemas”.
Com parentes que discutem desde criança, Juliana* afirma que todos fingem que se dão bem pelo bem da família, o que acaba criando um clima desconfortável. “Por mais que a fachada pareça feliz, internamente estamos lutando horrivelmente”, explica.
Enquanto tudo desmorona, ela opta por se abster da bagunça que a deixa exausta. “Tudo o que eu queria era ter um dia de paz, verdadeiramente sozinha, sem a influência deles, fosse uma briga entre eles ou contra mim”, acrescenta.
Para Olívia*, 19 anos, também filha de pais divorciados, o Natal nunca trouxe lembranças positivas com o pai. Mesmo que o tribunal tenha concordado que a data seria comemorada com os pais, ela não se sentiu confortável com a interação.
Agora que está mais velha, Olívia* decidiu se afastar da mãe, com quem desenvolveu um relacionamento abusivo. “Não me sinto desejada nem amada, sempre ouço conversas que me desagradam”, diz ela. O Natal da jovem será comemorado desta vez com a família do pai, pessoas que tentam recebê-la da melhor maneira possível para compensar o tempo perdido.
A psicóloga Junia Cristina Viannini explica que a dinâmica familiar ganha destaque nos períodos comemorativos e as relações tensas podem ficar mais explícitas. “O significado do Natal não pode ser generalizado. Optar por ficar longe de reuniões desagradáveis pode ter um impacto positivo ao evitar situações estressantes e desgastantes”, enfatiza.
Junia recomenda respeitar as pessoas que se identificam com as histórias descritas pelos entrevistados, pois a falta de uma condição familiar satisfatória é uma questão pessoal complexa. “É lamentável que algumas famílias não consigam conciliar, todos ficam a perder”, aponta.
A especialista afirma que os danos psicológicos causados pela falta de rede de apoio familiar são sempre desastrosos, decorrentes da primeira referência emocional que uma criança tem. Sem os cuidados necessários no processo de desenvolvimento, Júnia acredita que pessoas indefesas de famílias saudáveis podem desenvolver diversos transtornos.
*Os nomes das entrevistas foram alterados para proteger suas identidades.
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