O caso envolvendo a transferência de emendas parlamentares ganhou um novo capítulo na noite desta quinta-feira (26/12). O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse que enviará na manhã desta sexta-feira (27/12) um pedido para que o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), explique e detalhe o motivo da suspensão do financiamento.
Dino é relator de uma ação movida por Psol e Novo, que questiona uma possível manobra de Lira para liberar R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares.
“Esperamos que, com o fim das férias de Natal, os ministros que regressam possam esclarecer, juntamente com todos vocês, os procedimentos, como foram realizados e tratados. Como resultado daquela reunião que aconteceu na segunda-feira com o presidente Lula, quando ele teve que fazer os exames, ficou acertado todo o procedimento para liberação do orçamento de 2024”, disse o presidente da Câmara. O recesso de Natal do STF vai de 20 de dezembro a 6 de janeiro.
O encontro mencionado por Lira com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ocorreu pouco antes do procedimento pelo qual o chefe do Executivo foi submetido para drenar um hematoma na cabeça. Segundo o presidente da Câmara, a divulgação das emendas já havia sido acertada nesta reunião, que contou com a presença de outras autoridades, como o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD), e outros líderes partidários e ministros do governo .
Um dos pontos criticados por Psol e Novo, assim como por outros parlamentares, foi a suspensão das comissões na última semana do Congresso e, consequentemente, a falta de discussão sobre o destino do valor das emendas. Sobre isso, Lira justificou que seguiu o procedimento de outras votações significativas, como a reforma tributária e sua regulamentação, para suspender temporariamente os grupos temáticos.
“O que foi mais importante na semana passada? Deveríamos tratar de emendas parlamentares, ou tratar de assuntos que proporcionassem segurança e segurança jurídica para que os cortes de gastos fossem aprovados pela Câmara dos Deputados e, consequentemente, pelo Senado Federal”, sustentou.
Lira se encontrou com Lula durante a tarde. A reunião foi marcada de última hora na agenda do presidente e o assunto da conversa não foi divulgado pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). O presidente da Câmara já tinha agendado uma reunião entre dirigentes partidários para discutir, primeiramente, a distribuição da mesa diretora para o próximo ano. Apesar disso, fontes próximas ao parlamentar afirmaram que a pauta principal seria a questão dos recursos suspensos por Flávio Dino.
O impasse na liberação de emendas parlamentares é assunto debatido há quase um ano, desde quando o ministro Flávio Dino, ainda no início de 2023, suspendeu o pagamento de outras modalidades, justificando a falta de transparência na distribuição dos valores. Somente no início deste mês o pagamento foi liberado novamente, após a assinatura de um compromisso entre Legislativo e Executivo de seguir regras de transparência.
Poder reforçado
Na opinião de Gabriela Santana, especialista em Poder Legislativo da BMJ Consultores Associados, a reunião de ontem serviu para reforçar o apetite do Congresso em derrubar a suspensão das emendas e chegar a um acordo com o STF e o governo. Além disso, Santana acredita que o episódio reforça ainda mais o poder conquistado na gestão de Arthur Lira, que deverá ser repassado ao seu possível sucessor nas próximas eleições parlamentares.
“De qualquer forma, vale ressaltar que o cancelamento das comissões desagradou alguns aliados de Lira, que ocupam as presidências e diretorias dessas comissões, porque a possibilidade de indicação de emendas está nas mãos do presidente e da comissão da comissão. Com o cancelamento dos trabalhos das comissões da Câmara na última semana legislativa do ano, partidos como Psol e Novo questionaram o descumprimento do rito na Justiça”, destaca.
Para o cientista político, sócio da Hold Assessoria Legislativa André César, a presença constante de Hugo Motta ao lado de Lira é fundamental para apresentar o principal nome cotado para assumir a presidência da Câmara no próximo ano nos assuntos que estão no radar do Legislativo. “Na minha opinião é importante que ele esteja presente e, claro, ele mostra vontade de dialogar, de todos os lados. Não só aos aliados de Lira, mas também, de repente, às pessoas mais ligadas à Esplanada, ao governo Lula”, destaca.
Sobre a postura que o governo deve adotar neste momento, o cientista político Carlos Eduardo Novato afirma que a situação atual é um “jogo de equilibrar as mesas” e que o Executivo não pode depositar todas as suas fichas numa situação de impasse, embora também não possa poder se abster de se posicionar, pois há implicações políticas, além da necessidade de uma base de apoio no Congresso para o próximo ano.
“Por um lado, o Governo tem interesses próprios. A manutenção das alterações converge com o momento de austeridade liderado pelo Ministro das Finanças. Por outro lado, o Governo também precisa sinalizar ao Congresso que não fazem parte dele os entraves impostos à implementação de emendas bloqueadas por decisões recentes do STF”, levanta.
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