8 de janeiro de 2023 ainda não acabou. Dois anos depois da invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional, os envolvidos são investigados, denunciados e julgados com rigor. Levantamento do STF, divulgado ontem, detalha os números de processos que tramitam na Corte: 898 réus foram responsabilizados criminalmente, 371 com condenações penais e penas de prisão e 527 com aplicação de penas alternativas por terem celebrado processo não criminal Acordo de Acusação.
Entre as condenações, 146 foram por crimes simples, como incitação e associação criminosa, e 225 por crimes graves — tentativa de abolição do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa armada e deterioração de bens tombados. A maioria das penas (94%) varia entre 13 anos e seis meses e 17 anos e seis meses de prisão. 222 pessoas foram condenadas nessas condições, para cumprir decisão dos ministros do STF em regime fechado. A pena mais baixa para crimes considerados graves era de três anos. Mas apenas dois réus caíram nesta situação.
Para 193 condenados, não há mais possibilidade de recurso judicial. Mas apenas 71 começaram a cumprir as suas penas. Outros 61 estão foragidos, com pedido de extradição expedido pela Justiça, além de 61 com mandado de prisão a cumprir. Uma das condenadas à pena de 17 anos e seis meses de prisão, por unanimidade na 1ª Turma, foi Ana Priscila Silva de Azevedo, com 15 anos e seis meses de prisão e um ano e seis meses de detenção. Ela foi considerada uma das organizadoras do evento do dia 8 de janeiro.
Em meio ao caos na Praça dos Três Poderes e em acampamentos ilegais, 2.172 pessoas foram presas em flagrante, sendo 243 dentro de prédios públicos e 1.929 em frente ao Quartel-General do Exército, onde os agressores haviam se instalado em Brasília. Destes, 1.397 tiveram a prisão convertida em prisão preventiva em audiência de custódia. Outros 775 tiveram alta por idade ou por apresentarem comorbidades.
Desde então, foram instaurados 15 inquéritos para apurar a conduta dos executores, instigadores e financiadores dos atos. Neles já foram protocoladas 1.659 reclamações, 1.552 foram recebidas e 107 estão em fase de recebimento. Por falta de justa causa, 34 processos foram arquivados.
Entre os denunciados está a liderança da Polícia Militar do DF no momento da invasão. Em fevereiro do ano passado, a 1ª Turma do STF recebeu ação penal contra sete policiais da PM, entre eles o então comandante-geral, Fábio Augusto Vieira, por omissão durante atos antidemocráticos que teriam favorecido a invasão e depredação de prédios públicos.
Os Acordos de Não Ação Penal proporcionaram recursos aos cofres públicos. Os arguidos comprometeram-se a prestar serviços às comunidades; benefício monetário; proibição de participação em redes sociais abertas até o término da execução firmada no acordo; participação presencial num curso sobre democracia, Estado de direito e golpe; e fim das atividades criminosas sujeitas à ação criminosa. O STF obteve nesses acordos o valor de R$ 1.791.402.
Muito ainda está por vir. Chegou o momento de avaliar os mentores de alto nível do governo e dos militares anteriores. Neste primeiro semestre, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, deverá apresentar a denúncia contra militares e, possivelmente, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Radiografia dos processos:
Ações no STF:
- 1552 ações criminais
- 459 para crimes graves
- 1093 para crimes simples
Prisões:
- 78 prisioneiros provisórios
- 70 prisioneiros permanentes
- 7 presos em prisão domiciliar
Julgamentos
- 225 para crimes graves
- 146 para crimes menores
Decisões
- 371 condenados
- 5 absolvido
Acordos de acusação não criminal
Extradições
- 61 pedidos de extradição
Penas de prisão aplicadas:
- 3 anos 0,9%
- 11 anos e seis meses 2,3%
- 11 anos e 11 meses 1,4%
- 12 anos 1,4%
- 13 anos e seis meses 14,5%
- 14 anos 36,1%
- 16 anos e seis meses 25,3%
- 17 anos 17,6%
- 17 anos e seis meses 0,5%
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