O presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou medida provisória para indenizar R$ 60 mil às famílias de crianças com microcefalia causada pelo vírus Zika. Porém, no mesmo ato, vetou um projeto de lei que previa pensão vitalícia especial para as vítimas. A decisão gerou críticas entre parlamentares e entidades representativas dos acometidos pela síndrome congênita.
No veto, publicado em Diário Oficial da União (DOU)o governo federal argumenta que o projeto é “contrário ao interesse público e inconstitucional”. O Poder Executivo afirma que a proposta foi vetada por descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal ou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025.
“Apesar das boas intenções do legislador, a proposta legislativa vai contra o interesse público, pois cria despesas correntes obrigatórias e benefícios fiscais e amplia benefícios previdenciários, sem a devida estimativa do impacto orçamentário e financeiro, identificação da fonte de financiamento, indicação de medida compensatória e sem estabelecer cláusula de validade do benefício fiscal”, destaca o veto.
Segundo o Palácio do Planalto, falta “apresentação de estimativa do correspondente impacto orçamental financeiro e previsão da fonte orçamental e financeira necessária à realização da despesa ou previsão da correspondente transferência de recursos financeiros necessários à sua cobertura”. “
As crianças nascidas entre 1º de janeiro de 2015 e 31 de dezembro de 2024 —período em que houve surto de Zika no país— terão direito a receber indenização do governo. A medida assinada por Lula faz parte do Programa Brasil Saudável, instituído em fevereiro do ano passado para combater e reparar vítimas de doenças socialmente determinadas.
As normas regulamentadoras serão publicadas pelos Ministérios da Saúde e da Previdência Social. Depois, as famílias elegíveis para recebê-lo deverão apresentar requerimento ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com laudos médicos que comprovem a relação entre a síndrome e a contaminação da mãe pelo Zika.
Avaliações
O projeto aprovado pelo Congresso previa inicialmente indenização por danos morais de R$ 50 mil para filhos e pensão mensal e vitalícia, de acordo com o Regime Geral de Previdência Social —equivalente a R$ 7.786,02. Os valores deverão ser reajustados anualmente pela inflação, pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA).
A proposta é da senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) e foi apresentada em 2015. Pelas redes sociais, o parlamentar lamentou o veto. “Não há razão para esse veto governamental, que vai contra a luta de uma década contra a negligência e a omissão do Estado. Continuaremos lutando pelas crianças e adolescentes que continuam desassistidos pelo governo. para derrubar o veto”, publicou a parlamentar em seu Instagram pessoal.
A deputada federal Silvia Waiãpi (PL-AP) também criticou o governo. Em perfil nas redes sociais, ela compartilhou uma imagem dizendo que o veto é “crueldade” e que lutará para derrubá-lo. Na legenda, ele questiona por que Lula não retira o “auxílio-reclusão para criminosos”.
A presidente estadual da União Mães de Anjos em Pernambuco, Germana Soares — também vice-presidente nacional da UniZika Brasil — lamentou o veto presidencial. Ela afirmou que as entidades não foram contatadas para discutir o caso.
“Estamos tão frustrados e decepcionados não só com o veto, mas com a falta de oportunidades de negociação, de espaço, de voz, de sermos chamados a falar e dialogar com um governo que foi eleito como defensor das crianças com deficiência, das mulheres, dos solteiros mães e projetos sociais”, lamentou.
Germana, que é mãe de uma criança de nove anos com microcefalia por zika, diz que as famílias estão desamparadas. “Como o presidente pode vetar um projeto como esse, a ponto de invisibilizar 1.589 famílias que sobrevivem na pobreza? E como eles acham que R$ 60 mil nos calariam? Vamos trabalhar para que o veto seja derrubado no Congresso”, afirmou. .
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado divulgou parecer sobre o impacto financeiro do projeto. Estima o custo do pagamento das pensões em R$ 185 milhões por ano. O texto vetado também criou uma indenização de R$ 50 mil para as famílias, o que custaria R$ 91,4 milhões aos cofres públicos.
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