A Justiça Federal do Rio Grande do Norte condenou o deputado Eliéser Girão (PL), conhecido como General Girão, por danos morais coletivos por incentivar atos antidemocráticos após as eleições de 2022. O parlamentar deverá pagar R$ 2 milhões a título de danos morais coletivos. Girão também deverá deletar postagens no Instagram, X (antigo Twitter) e Facebook no prazo de dez dias. A ação civil pública tramita na 4ª Vara da Justiça Federal do RN e a decisão ainda cabe recurso.
Conforme consta da sentença, a atitude de Girão “afronta o Estado de Direito, a ordem jurídica e o regime democrático, ameaçando a legitimidade do processo eleitoral e a atuação do Judiciário, além de configurar discurso de ódio contra instituições democráticas com disseminação de falsos notícias (fake news) sobre os resultados das eleições, confundindo e incitando o povo e as Forças Armadas à subversão contra a ordem democrática”.
Segundo o MPF, o general Girão utilizou ativamente suas redes sociais, num claro abuso à liberdade de expressão e à imunidade parlamentar, para incentivar condutas que prejudicassem a ordem democrática, incluindo a continuidade do acampamento então existente à frente da 16ª Infantaria Batalhão de Motos em Natal.
Segundo o Ministério Público, a atuação do parlamentar não está protegida pela liberdade de expressão ou pela imunidade parlamentar. “Em postagem feita um mês antes da invasão aos prédios do STF, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto, o réu já instigava a violência contra as instituições, especialmente o Congresso”, destaca o MPF.
O MPF destacou ainda que Girão, como deputado federal e general da reserva do Exército, desempenhou papel significativo na articulação e incitação às atividades criminosas. “O desejo do réu de ver concretizado um golpe de Estado, como sabemos, durou quase pouco mais de um mês dessa postagem, havendo nexo causal entre conduta e dano”, afirmam os procuradores do MPF.
A Justiça também condenou a União e o RN
A decisão também condena a União, o estado do Rio Grande do Norte e a cidade de Natal, por omitirem a democracia ao permitirem a continuidade dos acampamentos e a obstrução irregular da estrada em frente ao 16º Batalhão de Infantaria Motorizado (Batalhão Itapiru), localizada na capital do Rio Grande do Norte.
Segundo o MPF, “a sentença determina o pagamento, entre todos os réus, de R$ 5 milhões de indenização e a exclusão de publicações nas redes sociais do deputado, além da realização de evento público e ações educativas para coibir atos contra o Estado Democrático de Direito”.
A atuação do MPF mostrou também que os então dirigentes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, que integram a União, emitiram comunicado em novembro de 2022 incentivando os acampamentos. Além da indenização de R$ 2 milhões, a União será responsável pela realização, no prazo de 60 dias, de cerimônia pública de desculpas, com a presença dos comandantes.
Além disso, a União terá o dever de oferecer curso de formação de militares em todo o país, com o objetivo de reavaliar os atos antidemocráticos ocorridos em 2022 e destacar a importância do respeito, por parte dos membros das Forças Armadas, pelos os princípios que fundamentam o Estado Democrático de Direito.
O Correspondência tentou contato com o deputado general Girão e com os assessores do Ministério da Defesa, mas até o momento da publicação da matéria não obteve resposta.
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