Considerado o combustível do futuro, o hidrogênio verde (H2V) é visto como fundamental para a descarbonização da logística, uma oportunidade para o Brasil se consolidar como um hub global para a indústria sustentável. Pela sua dimensão continental e pelas particularidades regionais, o país tem um enorme potencial para a produção de gás, gerado a partir de fontes renováveis.
Desde 2021, o uso do hidrogênio verde como matriz energética no Brasil mudou abruptamente. O Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará, deverá produzir 1,3 milhão de toneladas de combustível por ano. Os investimentos em usinas H2V já ultrapassam R$ 188 bilhões no país, impulsionados por gigantes globais.
Com mais de 25 anos de experiência no setor de hidrogênio, Monica Saraiva Panik, consultora da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), avalia que o país ainda está aquém do seu potencial. Em entrevista com Correspondênciao especialista em H2 e Fuel Cell, radicado na Alemanha, avaliou as principais tendências e gargalos do setor na corrida internacional.
“Sempre falo que o Brasil tem tudo, mas não sabe como passar essa mensagem. Acho que falta um foco técnico de como fazer. E essa parte técnica é viabilizadora, é assim que os países se espelham”, disse Mônica, que destaca a importância das usinas de hidrogênio para o desenvolvimento socioeconômico das comunidades.
Confira os principais trechos da entrevista.
Qual o potencial do hidrogénio verde para a descarbonização da logística portuária?
É um potencial enorme que vai desde a substituição dos combustíveis fósseis, em todos os modais de transporte, e envolve toda a cadeia. Embarcações, porta-contêineres, todas essas máquinas e equipamentos que são utilizados na logística portuária. Hoje vocês têm uma indústria que já fornece esses veículos ou equipamentos e máquinas movidos a células a combustível, no caso, para navios é o amônio e o metanol, que estão sendo mais caros, que são produzidos a partir do hidrogênio. O transporte fluvial também envolve outros modais de transporte, como o rodoviário, o transporte gasoduto, tudo isso está se transformando. Toda a infra-estrutura que tinha para distribuir combustíveis fósseis está a ser transformada para distribuir não só hidrogénio derivado, mas também subprodutos de centrais de hidrogénio. Os portos adquiriram um papel importante nesta transição, porque ligam países, indústrias, e estas são novas oportunidades de negócio, de criação de emprego e desta transformação de infraestruturas.
É possível fazer a transição de toda essa cadeia?
O portfólio de soluções é enorme. Alguns querem veículos eléctricos; outros movidos a hidrogênio puro; outros funcionam com combustíveis à base de hidrogénio. E não importa o caminho, todos são válidos. Não devemos limitar as rotas tecnológicas, porque isso limita os investimentos. É preciso abrir com o objetivo da descarbonização, a partir daí cada um escolhe o que é melhor para aquela situação, para aquele ambiente.
Como você avalia a posição do Brasil no cenário internacional?
O Brasil demorou para se alinhar a essa força internacional que começou há três, quatro anos. Mas acho que o Brasil tem condições de avançar muito mais rápido que outros países. Por termos uma matriz elétrica renovável, temos outras coisas que outros países não têm. Por exemplo, há países onde toda a energia gerada para produzir eletricidade ainda é combustível fóssil. Então eles têm que começar do zero. O Brasil não precisa começar do zero.
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O que é preciso para avançar?
Motivar a procura, ou seja, motivar a descarbonização, a substituição de insumos combustíveis fósseis. Portanto, é importante ter consciência de que é preciso haver um plano de descarbonização. Se você não tem hoje um plano de descarbonização na sua empresa, não importa o que a empresa faça, você está perdido e ficará para trás. O Ministério do Desenvolvimento indicou que pretende lançar um selo de pegada de carbono. Isso revolucionará todos os setores.
Em que etapa está o selo?
Está bem avançado. Conversei com o secretário de Economia Verde, Rodrigo Rollemberg, que participou da concepção do programa. Ele me disse que já estão ligando para agências certificadoras para propor uma metodologia de como quantificar a pegada de carbono do seu produto.
Uma matéria-prima que vem com essa onda de pegada de carbono é o aço verde…
O aço verde é o aço que utiliza energia renovável em sua produção, que utiliza hidrogênio verde. É o aço que é energeticamente eficiente e substitui os insumos fósseis. Então, se não for aço verde, logo não poderei mais vender. Porque se as empresas já iniciaram esse movimento, principalmente as montadoras e montadoras de veículos, é uma motivação, porque o aço é uma matéria-prima essencial, está em tudo. Se um comprador disser que a partir de hoje não comprará mais aço produzido com carvão, serão buscadas possíveis soluções para fabricar aço livre de emissões.
Como avalia o posicionamento do país em relação às necessidades da transição energética?
Estamos muito aquém do que podemos fazer. Você não acha que esse plano do MDIC de selo de descarbonização não deveria ter sido divulgado na COP? O Brasil não sabe comercializar o que tem. O mundo não sabe o que o Brasil tem e pode fazer. Acho incrível que o Brasil não saiba vender o Brasil. Ele melhorou muito, mas ainda não sabe. Este programa de selos, embora ainda não esteja pronto, teve que ser divulgado. Na COP 29, houve muito foco nesta meta de redução de emissões. O mundo quer ver medidas, quer saber que caminho seguir. E o Brasil já tem esse caminho, o país tem trabalhado muito nisso. Que outro país tem experiência em substituição de combustíveis? Eu não conheço nenhum. Sempre digo que o Brasil tem tudo, mas não sabe como transmitir essa mensagem.
Após a fase regulatória, quais são os desafios para o desenvolvimento da cadeia do hidrogênio verde no país?
O Marco Regulatório é certamente importante, mas não é tudo. Você também tem que dar segurança para a região onde está ou deseja investir. Ainda chegará um momento em que veremos as comunidades sentirem esta parte do desenvolvimento socioeconómico. À medida que as plantas forem instaladas, você agregará valor. Não é só o aspecto ambiental, não podemos esquecer o aspecto socioeconômico e como as comunidades vão se envolver nisso, o que vão ganhar com isso.
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