A cegueira, cujas causas são muito diversas, atinge crianças e adultos, impondo tratamentos diferentes para cada caso e situação, sem uma espécie de terapia universal para todos os pacientes. Atualmente, os cientistas buscam compreender em profundidade a origem de diferentes tipos de problemas visuais, como a cegueira cerebral e a perda de visão, que aparecem com o avançar da idade. Pesquisas recentes revelam resultados positivos com o uso de células-tronco e dão esperança na busca por abordagens mais promissoras.
A piora da visão em pessoas idosas é um dos desafios da medicina. A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) é uma das principais razões para a perda irreversível da visão em adultos. Apesar dos tratamentos disponíveis, as causas associadas a esta doença e as terapias verdadeiramente eficazes ainda são pouco compreendidas.
Um estudo publicado na revista Célula de Desenvolvimento mostra os mecanismos por trás da DMRI, sugerindo alternativas para o desenvolvimento de novos tratamentos. “Os tratamentos atuais para a DMRI têm eficácia limitada e muitas vezes são acompanhados de efeitos colaterais significativos”, detalha Ruchira Singh, cientista da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos. “Nosso objetivo é identificar novos alvos terapêuticos que possam interromper a progressão da doença”.
A pesquisa, que utilizou células-tronco humanas para modelar a DMRI, conseguiu melhorar a visão dos modelos animais. Ao investigar genes relacionados à doença e às distrofias maculares hereditárias, os cientistas identificaram um que é essencial nos estágios iniciais da doença. O epitélio pigmentar da retina (EPR), que desempenha um papel crucial na DMRI, acumula depósitos de lipídios e proteínas, conhecidos como drusas, que costumam ser um sinal precoce da doença.
A proteína TIMP3 foi identificada em excesso na DMRI, bloqueando a atividade de outras substâncias essenciais para a saúde ocular. Esse cenário resulta no aumento de uma enzima inflamatória, que por sua vez contribui para a formação de drusas.
Ao bloquear a atividade da enzima inflamatória com um inibidor molecular, os cientistas reduziram a formação de drusas, indicando que este poderia ser um alvo terapêutico. “Se conseguirmos impedir o acúmulo de drusas, podemos evitar que a doença progrida para estágios mais graves, que levam à perda de visão”, diz Singh.
Segundo Rafael Yamamoto, oftalmologista-chefe de retina do Visão Hospital de Olhos, em Brasília, o uso de células-tronco humanas é uma estratégia muito promissora para o estudo de doenças, como a degeneração macular relacionada à idade. “Ao concentrar-se na proteína TIMP3 e na sua relação com a formação de drusas, os investigadores não só aumentam a compreensão dos mecanismos da doença, mas também abrem a porta a novos tratamentos destinados a interromper este processo”.
Avanços
Para Yamamoto, a pesquisa representa um avanço na compreensão das causas celulares da DMRI e oferece uma potencial estratégia terapêutica baseada no bloqueio de proteínas inflamatórias. “Se estes resultados forem confirmados em estudos clínicos, isto poderá transformar o tratamento de milhões de pessoas afetadas, oferecendo um aumento no arsenal terapêutico para esta doença”.
Além disso, milhões de pessoas são afetadas por doenças degenerativas da retina e muitas delas sofrem perda de visão. A mácula – região central da retina – é rica em células fotorreceptoras do tipo cone, essenciais para a percepção das cores e para a visualização de detalhes finos. Atualmente não existem tratamentos aprovados para substituir a mácula danificada.
Agora, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Montreal, no Canadá, liderada pelo professor Gilbert Bernier, conseguiu restaurar a visão de miniporcos por meio de transplantes de retina feitos com células-tronco. Para o estudo, publicado na revista Desenvolvimentoos cientistas desenvolveram um método para induzir as células a se organizarem, imitando a estrutura da retina humana.
As células-tronco utilizadas são chamadas de células pluripotentes induzidas pelo homem (iPSCs), células imaturas que foram “reprogramadas”, com potencial de se transformarem em qualquer tipo. Com essas estruturas, os pesquisadores criaram “folhas retinais” enriquecidas com versões imaturas de células fotorreceptoras cônicas, que podem amadurecer e se tornarem células cônicas quando cultivadas em laboratório.
Após o desenvolvimento das folhas, a equipe teve que transplantá-las para modelos animais. “Escolhemos os minipigs porque o tamanho dos seus olhos é semelhante ao dos humanos e têm um peso comparável ao de uma pessoa, o que permite realizar cirurgias de forma semelhante às realizadas em humanos”, explicou Bernier.
Após o transplante, os enxertos de retina uniram-se com sucesso ao tecido retiniano danificado dos miniporcos. Além disso, os animais mostraram sinais de visão restaurada, novas conexões neurais foram estabelecidas entre as células fotorreceptoras enxertadas e as células neurais, e os pesquisadores conseguiram detectar atividade neural nas células fotorreceptoras na região transplantada quando os animais foram expostos à luz.
“Nosso método, porém, permite a formação espontânea de um tecido retiniano plano, já polarizado e organizado, como ocorre na retina embrionária humana”, destacou Bernier. Ele acrescenta ainda que a técnica poderia gerar grandes quantidades de tecido retiniano para transplante em humanos.
Segundo Mayra Neves de Melo, oftalmologista do CBV Hospital de Olhos, em Brasília, a degeneração macular é um grande desafio para a medicina. “Mas o que vemos no estudo é um tratamento promissor, pois atua diretamente na origem e no seu desenvolvimento. O tratamento com células-tronco tem grande potencial porque pode agir precocemente, prevenindo o aparecimento da doença. a retina é um tecido nervoso e, quando lesionada, não se recupera.”
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Elementos principais
O trabalho propôs uma definição para IVC, baseada em cinco pontos principais:
- A IVC é um espectro de deficiências visuais causadas por anomalias cerebrais que afetam o desenvolvimento das vias de processamento visual;
- A disfunção visual em crianças com IVC é mais pronunciada do que o esperado para condições oculares isoladas;
- Os déficits visuais manifestam-se de diferentes formas, afetando habilidades mais simples ou mais complexas;
- Embora a IVC possa coexistir com outros distúrbios do neurodesenvolvimento, não é um distúrbio primário de linguagem, aprendizagem ou comunicação;
- Danos neurológicos ao cérebro em desenvolvimento podem passar despercebidos até fases posteriores.
Concentre-se nas crianças
A perda de visão causada por problemas no cérebro, conhecida como deficiência visual cerebral ou cortical — cuja sigla em inglês é CVI — é uma causa comum de cegueira e problemas visuais em crianças. Contudo, a compreensão da IVC ainda é limitada e os médicos não concordam sobre como identificá-la. Pensando nisso, cientistas do Hospital Infantil de Los Angeles (CHLA), nos Estados Unidos, deram mais um passo para melhorar o diagnóstico desse transtorno.
Melinda Chang, investigadora do CHLA Vision Center e principal autora do artigo, detalhou que neste estudo, publicado na revista Oftalmologiaa equipe sugere que a IVC deve ser entendida como um distúrbio do neurodesenvolvimento. Ao contrário da perda quase total e permanente da visão associada à cegueira cortical em adultos, muitas vezes causada por acidentes vasculares cerebrais, as crianças com IVC muitas vezes retêm alguma capacidade visual, que pode melhorar ao longo do tempo devido à neuroplasticidade.
Segundo Chang, “a detecção precoce da IVC é essencial para possibilitar a intervenção precoce. Estudos com crianças com deficiência visual de origem ocular demonstram consistentemente uma ligação entre deficiência visual e dificuldades de aprendizagem, desafios nas relações sociais e piora na qualidade de vida”.
Segundo Júlio Lins, oftalmologista do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), o diagnóstico dessa condição é muito complexo, principalmente nos primeiros anos de vida. “Por isso sempre ressaltamos a importância de levar o bebê ao oftalmologista, tanto aos seis meses quanto aos um ano, com consultas anuais até os sete anos. Quanto mais precoce o diagnóstico, maiores são as chances de tratamento e estimulação visual. “
Pistácios são bons para os olhos
Cientistas da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, descobriram que comer pistache pode melhorar a saúde ocular. Isso ocorre porque os alimentos aumentam a densidade óptica do pigmento macular (MPOD) — fator essencial na proteção dos olhos contra a luz azul e os danos associados ao envelhecimento. O ensaio clínico mostrou que, em comparação com uma dieta normal, comer 57 gramas de pistache por dia durante 12 semanas aumentou significativamente o MPOD em adultos saudáveis e idosos. O estudo destacou que o potencial do consumo regular reduz o risco de degeneração macular relacionada à idade.
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