O clima de incerteza continua na Venezuela após a inauguração de Nicolás Madurona última sexta-feira, para governar o país por mais seis anos. O chavista assumiu oficialmente o terceiro mandato consecutivo em uma cerimônia marcada por divisões políticas internas e forte repercussão no exterior. Com a nação a atravessar uma prolongada crise política, económica e social, a inauguração gerou uma série de reacções tanto de aliados como de opositores na cena internacional.
No poder desde 2013, Maduro foi proclamado vencedor nas eleições presidenciais de 2024 com 51,2% dos votos, segundo a autoridade eleitoral venezuelana. Contudo, a oposição, representada principalmente por María Corina Machado e Edmundo González Urrutia, o autoproclamado vencedor, denunciou fraude no processo eleitoral, uma vez que Maduro não apresentou a ata com os resultados das votações.
Antonio Ledezma, ex-prefeito de Caracas, ex-preso político e coordenador do Conselho Político Internacional de María Corina Machado, disse Correspondência que Maduro “se enforcou com a faixa presidencial”. “Edmundo González tem os registos eleitorais que comprovam a sua vitória. Maduro sabe que os registos que esconde representam, para ele, uma derrota. negociável”, explica.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, González denunciou o “golpe de Estado” e desafiou o presidente a entregar o poder a quem, segundo ele, de fato venceu a disputa. “Estou muito próximo da Venezuela, pronto para uma entrada segura e farei valer os votos que representam a recuperação da nossa democracia”, disse Urrutia, num claro apelo à intervenção militar.
Apesar das ameaças da oposição, a conclusão da posse deixou claro que Maduro ainda detém o poder político no país. “Há indícios de que a oposição tentou negociar com as Forças Armadas e outros setores da sociedade, mas claramente fracassou. Na verdade, a tentativa de entrada em território venezuelano com Edmundo González, como declarou María Corina, não teve sucesso, mostrando como a máquina O Chavista está em pleno funcionamento”, afirma Carolina Silva Pedroso, professora do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Neste contexto, o especialista afirma que não há sinais de uma possível reversão do cenário. “Já passou o momento crucial que foi a inauguração, e não foi evitado. Não vimos nenhum sinal de colapso nas Forças Armadas e não vejo nenhuma mudança nas condições que possam permitir que ele seja afastado e mude Como houve hegemonia governamental neste momento, não vejo o que poderia levar a um aumento das tensões, talvez, a uma mobilização popular, mas os últimos acontecimentos jogaram água fria nessa expectativa”, enfatiza.
Repercussão
As críticas à legitimidade do novo mandato de Maduro também se intensificam na política internacional. A questão gerou divisões entre os países latino-americanos e as potências globais. Os Estados Unidos, por exemplo, qualificaram a inauguração de “farsa” e aumentaram a recompensa por informações sobre Maduro, oferecendo até 25 milhões de dólares pela sua captura. Além disso, o governo dos EUA impôs novas sanções, atingindo figuras-chave do regime, incluindo o Ministro do Interior, Diosdado Cabello, e o presidente da estatal Petróleos de Venezuela, Héctor Obregón.
A União Europeia também não reconhece a posse, alegando que Maduro não tem legitimidade democrática. O Reino Unido seguiu a mesma linha, qualificando as eleições de 2024 como fraudulentas e impondo sanções a 15 membros de alto escalão do governo venezuelano. As ações demonstram um movimento internacional de pressão sobre o regime de Maduro.
Em contraste, a Rússia, aliada tradicional da Venezuela, expressou apoio incondicional a Maduro. O presidente Vladimir Putin parabenizou o líder venezuelano por meio do presidente da Duma, Vyacheslav Volodin, destacando a importância da inauguração para a “democracia venezuelana”.
O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, manifestou preocupação com as denúncias de violações dos direitos humanos na Venezuela, especialmente no contexto das eleições de 2024. Embora o país tenha reconhecido os gestos de relaxamento de Maduro, como a libertação de presos políticos, também criticou as recentes detenções e perseguições de opositores.
“A repercussão internacional é a continuação das posições que os países têm vindo a adoptar desde as eleições de Julho de 2024, com as alianças que o governo de Nicolás Maduro tinha bem estabelecido com potências, como a China, a Rússia e países não ocidentais, como a Turquia e o Irão. , que permaneceu, de facto, todos estes países enviaram representantes diplomáticos para a inauguração, assim como outros regimes da América Latina, nomeadamente Cuba e Nicarágua, que foram os únicos chefes de Estado que permaneceram na cerimónia”, detalha. Carolina Pedroso.
Manifesto do vizinho
Em apoio a Edmundo González e María Corina, o ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe acusou ontem o regime chavista de ser uma “tirania” e criticou duramente a perseguição aos líderes da oposição. Num discurso realizado em Cúcuta, cidade colombiana perto da fronteira com a Venezuela, Uribe posicionou-se contra a inauguração, apelando enfaticamente à intervenção militar internacional para “desalojar a ditadura” e restaurar a democracia na Venezuela.
Por outro lado, a falta de ação do atual governo colombiano, presidido por Gustavo Petro, também tem sido criticada. Embora Petro tenha restabelecido relações diplomáticas com Caracas no início do seu mandato, ele foi acusado de não ter condenado as ações de Maduro.
Segundo Carolina Pedroso, uma intervenção externa não seria simples de aprovar. “Há uma grande relutância por parte da comunidade internacional em aprovar intervenções deste tipo, pois acarretam riscos significativos e não garantem uma solução eficaz para a crise venezuelana”, conclui o especialista.
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