O isolamento geográfico sempre nos deu a falsa sensação de que o que acontece no mundo não afeta de forma decisiva as nossas vidas. Isto pode ter sido verdade no passado, mas há muito que deixou de o ser. Hoje, tanto na economia como na política, atingimos uma dimensão que necessariamente nos interliga com tudo o que de relevante acontece no mundo.
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Durante grande parte do século XX, tanto o Brasil como toda a América Latina viveram sob estrita dependência dos Estados Unidos, uma dependência que muitas vezes assumiu a forma de pura submissão e relativização das nossas próprias soberanias. Com o fim da Guerra Fria e a nossa maturidade económica e política, já não se pode dizer que fazemos parte da esfera de influência americana, como costumávamos fazer no passado. O Brasil é hoje um país plenamente soberano, atua com total autonomia política e possui relações econômicas diversificadas. O nosso principal parceiro comercial é a China e já não os Estados Unidos e não há indicação de que esta situação vá mudar.
Apesar disso, a próxima sucessão presidencial americana poderá ter mais influência nas nossas vidas do que qualquer outra na nossa história, agora, não porque sejamos um país subdesenvolvido na América Latina, mas porque somos um país relevante no mundo. Se o Presidente Donald Trump confirmar mesmo que apenas uma pequena parte do que prometeu, a ordem mundial, na economia e na política, será completamente alterada, e certamente não para melhor.
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, as alternâncias de poder político nos Estados Unidos ocorreram sem grandes surpresas ou ansiedades, porque não modificaram certos consensos fundamentais na política económica e na política externa. Desta vez será diferente, pois as eleições deram poder a um movimento anti-institucional, expressão de uma sociedade colocada numa situação defensiva e temerosa do futuro, diferente da América cheia de autoconfiança e orgulho com que tínhamos acostume-se a negociar.
O novo governo recebeu um amplo mandato para tentar interromper o ritmo da evolução histórica que relativizou o poder político e económico dos Estados Unidos e que está a mover o mundo para uma ordem global multipolarizada. Para este efeito, o novo governo estará isento de obedecer às regras internacionais, embora estas regras tenham sido criadas sob a forte liderança da América e tenham servido os seus interesses até agora. E também será livre para desafiar internamente as instituições do Estado de Direito, para o qual terá uma maioria parlamentar domesticada e um Supremo Tribunal maleável e claramente politizado.
O que um povo decide livremente fazer com o seu país é problema seu. Porém, dado o peso e a força dos Estados Unidos, com o seu exército, as suas empresas, as suas universidades, a sua moeda, tudo o que lá acontece transborda para o mundo. Ao nível da geopolítica, o desmantelamento das instituições internacionais poderá transformar o mundo num campo selvagem. Se os Estados Unidos conseguirem invadir o Panamá e ocupar o canal, a Rússia tem todo o direito de invadir a Ucrânia e avançar na defesa dos seus interesses. Ocupar a Gronelândia pela força será o fim da NATO e a protecção da Europa das autocracias que a rodeiam. Tudo o que resultou da vitória da Segunda Guerra Mundial será enterrado, e a paz de 1945 a 2025 parecerá um dia apenas uma pausa na eterna tragédia da história humana.
Na economia, a imposição unilateral de tarifas para reanimar a indústria americana desencadeará respostas retaliatórias e transformará o comércio internacional num campo de batalha, regressando a um ambiente que, no século passado, gerou recessões e guerras. O comércio deixará de ser uma relação económica entre empresas e consumidores e passará a ser uma questão de Estado e de hegemonia política.
A ordem internacional em que vivemos tem muitos defeitos e parecerá injusta para muitos. Mas imaginem um mundo sem a ONU, sem a Organização Mundial da Saúde, sem a Organização Mundial do Comércio, para ter a certeza de que um dia sentiremos falta deste mundo que estamos prestes a perder.
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