Poucas horas antes de ser assassinado, José Alfredo Cabrera Barrientos, 38 anos, candidato a prefeito da cidade de Coyuca de Benítez, no departamento (estado) de Guerrero, publicou uma mensagem no Facebook na qual convidava os 73 mil habitantes para participar nas eleições de domingo. “Agradeço a Deus e que a sua vontade seja a que perdure nestas eleições. Ele conhece o coração de todos nós e sabe a intenção que temos de servir o nosso povo”, escreveu o candidato do “Força e Coração pelo México”. “coligação, formada pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI), pelo Partido da Acção Nacional (PAN) e pelo Partido da Revolução Democrática (PRD).
Por volta das 18h de quarta-feira (21h em Brasília), Barrientos cumprimentava os eleitores e caminhava em direção ao palco, quando um homem se aproximou, apontou uma pistola Glock para a cabeça do político e disparou 15 vezes. A cena foi registrada em vídeo por um de seus apoiadores. Agentes da Guarda Nacional que forneciam segurança à vítima mataram o assassino. Barrientos é o 24º candidato executado desde o início da campanha em setembro passado.
“É uma pena que (…) esta campanha termine de forma violenta”, afirmou o PRI, partido de Cabrera, num comunicado. A organização culpou o governo de Guerrero – nas mãos do partido de esquerda no poder – por não ter feito “o esforço mínimo” para proteger os candidatos. No domingo, o México realiza eleições gerais. Duas mulheres concorrem para suceder ao presidente Andrés Manuel López Obrador: a senadora de centro-direita Xóchitl Gálvez, de 61 anos, e a candidata governamental e de esquerda Claudia Sheinbaum, favorita ao Palácio Nacional, no Zócalo.
Coordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional do México (Unam), Javier Posada admitiu no Correspondência que a violência na campanha eleitoral deste ano não tem precedentes. “Isso ocorreu por dois motivos. Em primeiro lugar, nunca houve tantos cargos em disputa: são cerca de 19,8 mil. 1.200 candidatos solicitaram proteção pessoal, incluindo José Alfredo Cabrera, assassinado na quarta-feira”, explicou. O especialista acrescentou que as organizações criminosas têm procurado bloquear a possibilidade de vitória de candidatos que não correspondam aos seus interesses ou semear o medo na população. No departamento de Zacatecas, quase 200 mulheres desistiram da corrida eleitoral por medo de ameaças e violência criminal. “Isso é muito mais sério e grave do que em outros processos eleitorais”, disse Posada.
Vicente Sánchez Munguía — professor pesquisador do Colégio da Fronteira Norte (instituição que estuda temas de violência e insegurança pública, em Tijuana) — contou Correspondência que a campanha para as eleições gerais terminou na quarta-feira com um assassinato selectivo e à queima-roupa. “Na campanha de 2018, foram 401 ataques contra candidatos; na atual, foram 749. Há violência, que faz vítimas, não só candidatos, mas também pré-candidatos e pessoas muito próximas dos partidos políticos. O México se tornou um ambiente de violência. O crime organizado está cada vez mais ligado aos políticos locais e regionais do país”, explicou.
Segundo Munguía, a onda de violência afetou todos os partidos políticos mexicanos. “Vemos também um sentimento de impunidade. As altas autoridades governamentais minimizaram a violência. O presidente Andrés Manuel López Obrador afirma que se trata de uma campanha de imprensa. A sociedade não pensa assim. Em alguns estados, os candidatos sofreram intimidações muito fortes e renunciaram à sua candidaturas”, comentou o professor de Tijuana.
Sobre a execução de José Alfredo Cabrera Barrientos, Munguía destacou que o candidato contava com dois círculos de segurança e, mesmo assim, foi baleado à queima-roupa, nas costas. “É um tema delicado. Não conhecemos a capacidade de penetração do crime organizado no México”, disse ele.
EU PENSO…
“A violência criminal, durante a campanha, foi orientada para os municípios. Em termos estruturais, são a parte mais frágil do Estado mexicano, no sentido administrativo. pressionar esse âmbito geográfico.”
Javier Posadacoordenador do Seminário de Segurança Nacional da Universidade Nacional do México (Unam)
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