O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, nesta quinta-feira, a regulamentação da reforma tributária, com 15 blocos de vetos, abrangendo 17 artigos do texto. Segundo o governo federal, os trechos foram bloqueados apenas por motivos técnicos ou conflitos com a Constituição, e que praticamente toda a matéria aprovada pelo Congresso está mantida.
Lula assinou a medida em cerimônia no Palácio do Planalto, que reuniu ministros, parlamentares e representantes do setor produtivo. A cerimônia destacou o esforço necessário para a aprovação do texto e os benefícios para a economia brasileira no longo prazo.
Com as mudanças, a estimativa é que a alíquota total do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) fique em torno de 28%, inicialmente. Se confirmado, o país terá a taxa de IVA mais elevada do mundo, à frente da Hungria (27%), segundo ranking da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
“O Brasil finalmente decidiu ser grande, desenvolvido, competitivo, que pode sair da pobreza de um país em desenvolvimento para se tornar um grande país”, declarou Lula.
Ao se dirigir ao presidente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a reforma tributária “é o maior legado, na economia, que você vai entregar à população brasileira”. Ele destacou que o país começará a mudar em 2027, quando começarão novas tributações, de forma progressiva.
Haddad reconheceu, porém, que os benefícios para a população podem demorar alguns anos para serem sentidos e que “amanhã a luta diária do povo continuará”.
“Tenho certeza de que os próximos ministros da Fazenda terão um trabalho muito mais fácil depois da aprovação da reforma tributária do que eu ou meus antecessores”, brincou Haddad.
Por sua vez, o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), destacou o diálogo do Parlamento com empresários e sociedade civil durante a discussão do assunto. O senador comentou que o texto simplifica a tributação “com um rigor nunca visto”.
Pacheco também classificou a reforma como “o último ato desta longa jornada” como presidente do Senado, cargo que deixa no próximo mês.
O Projeto de Lei Complementar é composto por mais de 500 artigos e contém as principais regras da nova tributação. O objetivo principal é substituir Pis, Cofins, IOF-Seguros, IPI, ICMS e ISS por dois tributos: o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (IBS) e a Contribuição sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (CBS). Cria também o Imposto Seletivo (IS), conhecido como “imposto do pecado”, que incidirá sobre produtos que causem danos à saúde ou ao meio ambiente.
O texto também inclui dispositivos como cashback para a população mais pobre, isenção para itens da cesta básica, regimes com alíquotas diferenciadas e a manutenção da Zona Franca de Manaus.
Taxa de imposto e vetos
Em entrevista coletiva após o evento, o secretário extraordinário de reforma tributária, Bernard Appy, detalhou os vetos e regulamentações da reforma. Segundo ele, o Executivo decidiu respeitar os itens aprovados pelo Congresso e que os vetos não alteram seu mérito —como havia dito Haddad.
Portanto, a taxa combinada do IBS e do CBS deverá inicialmente rondar os 28%, próximo do valor previsto no texto aprovado no Parlamento. O Executivo deve divulgar o cálculo completo na próxima semana. A proposta, porém, tem trava para manter a tributação em 26,5%. Ou seja, caso a alíquota ultrapasse esse valor, o governo é obrigado a enviar ao Congresso um projeto de corte de benefícios fiscais.
Uma das seções vetadas isentava os fundos de investimento de fundos patrimoniais de contribuições ao IBS e CBS. Na opinião da Advocacia-Geral da União (AGU), a medida violou a Constituição ao conceder benefício fiscal aos fundos. Também foram vetadas as seções que isentavam do “imposto do pecado” a exportação de bens e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, e a seção que criou, no âmbito da Fazenda, a Escola de Administração Financeira (Esaf).
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