Prefeitos recém-empossados relatam dificuldades em administrar cidades com os cofres vazios, legado deixado, segundo eles, por gestões anteriores.
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Em diversas cidades mineiras, a falta de recursos comprometeu tudo, desde o pagamento dos funcionários públicos até a manutenção de serviços essenciais, como coleta de lixo, assistência médica, além do pagamento de fornecedores.
O cenário tem gerado reclamações entre prefeitos e exposto os desafios da transição governamental, muitas vezes marcada pela falta de transparência nas gestões anteriores.
O Estado de Minas conversou com prefeitos de diversas regiões do estado sobre a situação. Os novos gestores destacam a dificuldade de equilibrar as contas para garantir o funcionamento dos serviços essenciais, ao mesmo tempo que organizam as suas prioridades.
Em Itapecerica, por exemplo, no Centro-Oeste do estado, o prefeito Gleytinho (PP) afirmou que o fluxo de caixa era praticamente zero, sem recursos livres para pagamentos. Além disso, destacou que encontrou vários compromissos em aberto, relativos ao período de Novembro do ano passado em diante, com dívidas significativas a fornecedores de serviços essenciais, como saúde e combustíveis.
Entre as frustrações, o prefeito também cita redução do Fundo de Participação Municipal (FPM), pois recebeu R$ 480 mil em vez dos R$ 1,2 milhão esperados, por falta de pagamento do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em dezembro .
“Isso inviabiliza totalmente a máquina”, afirma o prefeito, destacando a dependência do recurso. “Essas surpresas estão nos fazendo tomar medidas mais drásticas para que a máquina funcione com serviços básicos e essenciais”, acrescenta.
Gleytinho afirma que ainda não é possível precisar a perda em números, pois os valores do mês de dezembro ainda não foram totalmente finalizados. Com os cálculos feitos até agora, ele estima uma dívida de aproximadamente R$ 4,5 milhões. Além disso, há pendências de precatórios (R$ 2,5 milhões) e processos do INSS (R$ 2 milhões).
“Neste momento ainda não estamos falando de precatórios e de parcelamento do INSS, que é para gente regularizar, porque o mais urgente são os serviços essenciais. , material de construção, obras, que estavam em andamento e não havia recursos para terminar”, disse.
Apesar das dificuldades, garantiu que os salários dos funcionários estão em dia, mas outros pagamentos, como férias dos professores e encargos, continuam pendentes. “Isto não será uma muleta para o meu mandato”, concluiu.
O ex-prefeito de Itapecerica Wirley Reis, conhecido como Têko, afirmou que deixou cerca de R$ 10 milhões em dinheiro para garantir a continuidade das atividades nos setores de saúde, educação, assistência social e obras previstas para execução.
Reis destacou ainda que antecipou o pagamento da folha de dezembro dos funcionários, que originalmente seria feito em janeiro, para 31 de dezembro de 2024.
“Deixamos também claro que representantes da atual administração, vencedora das eleições de 2024 com o meu apoio, participaram ativamente em todas as reuniões de transição, obtendo claramente todas as informações solicitadas”, afirmou.
“Temos a máquina toda quebrada”
Em Alvinópolis, região Central, o prefeito Lindouro (PT) também enfrenta problemas. Ele afirma que ainda não teve acesso às contas bancárias da prefeitura e que a gestão anterior não deixou recursos para o pagamento dos salários de dezembro.
“Eles pagaram apenas as ‘tropas de elite’ – prefeito, deputado, secretários e comissários – e deixaram cerca de 500 servidores sem receber”, disse o prefeito ao Estado de Minas. “Se eu pagar em dezembro, que era obrigação da gestão anterior, provavelmente corro o risco de não pagar em janeiro. Estamos estudando o que fazer”, disse.
Além disso, o prefeito cita que, ao assumir a prefeitura, encontrou vários computadores com dados apagados. Segundo ele, a situação atrasou o início dos trabalhos de sua gestão, o que exigiu a recuperação de informações perdidas.
Segundo ele, no Departamento de Obras a situação era de abandono: “Só havia uma enxada e duas pás”, relatou. “Não sabemos se eles tinham, se não tinham. Eles nem tinham a responsabilidade de nos entregar os bens. Se uma mesa ou um computador desaparecer hoje, não faço ideia. Estamos indefesos, fazendo o que podemos”, disse ele.
Lindouro conta como aos poucos vai organizando a gestão. “Fizemos uma limpeza na cidade, havia locais sem coleta de lixo há 15 dias. A cidade estava com mau cheiro, havia acúmulo de lixo, ratos, baratas”, disse ao repórter.
Em Juatuba, também na região Central, o prefeito Ted Saliba (PSD) descreveu a situação como “caos”. “Não pagaram o salário de dezembro, deixaram para nós pagarmos, sem deixar dinheiro no caixa. O prefeito criou uma planilha separada relacionando ele mesmo, a secretaria e o primeiro nível e pagaram em dezembro”, disse o prefeito.
Além disso, sem dinheiro em mãos, o prefeito também afirma que herdou três meses de salários atrasados de médicos e dívidas com fornecedores essenciais. “No dia 31 de dezembro, a gestão anterior pagou quase R$ 2 milhões às empresas de máquinas e caminhões e deixou os médicos sem receber o pagamento, o que era uma dívida de R$ 800 mil. Uma situação bem planejada”, criticou.
“A saúde carece de insumos. Nas prefeituras, nos órgãos públicos, não há papel nem copos descartáveis. Eles não programaram nada. Uma situação muito complicada”, acrescentou.
Ele afirmou que a prioridade é realocar recursos e cortar despesas. “Estamos reduzindo ao máximo, colocando apenas o essencial”, declarou.
Em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o prefeito Dinis Pinheiro (Republicanos) declarou que a cidade enfrenta “a mais grave crise financeira da história”. Segundo ele, o ex-prefeito também não pagou os salários dos servidores.
“Ele achou melhor pagar o próprio salário e o de todas as suas secretárias, deixando dívidas e sem deixar um centavo em dinheiro”, afirmou. O prefeito disse ainda que a gestão anterior deixou uma dívida de R$ 15 milhões com os funcionários. “Determinei que a nossa equipa deve reunir todos os recursos disponíveis, centavo por centavo, para honrar este compromisso. Em breve iniciaremos o pagamento prioritário aos servidores que ganham menos”, anunciou Dinis Pinheiro nas redes sociais no início deste mês.
“2025 não será fácil”
O presidente da Associação Mineira de Municípios, Marcos Vinicius Bizarro, disse ao EM que vem alertando os novos gestores sobre os desafios para este ano, especialmente devido à instabilidade econômica e à redução do Fundo de Participação Municipal (FPM). “Nossa orientação é segurar as despesas e priorizar a organização das contas nos primeiros meses de mandato”, destacou.
Ele ressaltou ainda que a Lei de Responsabilidade Fiscal exige rigor no planejamento financeiro, destacando que os gestores que abandonarem dívidas sem a devida provisão de recursos poderão sofrer penalidades. “Se um gestor anterior contraiu algum tipo de dívida, ele deve ter uma previsão legal de onde virão os recursos. Se ele tinha uma dívida e não teve recurso, poderá sofrer multa. Os prefeitos que estão chegando agora têm que ter muita calma”, afirmou.
Para Bizarro, apesar de alguns indicadores econômicos positivos, como o Produto Interno Bruto (PIB), o aumento da inflação e o aumento do salário mínimo trazem desafios adicionais às prefeituras. “Por exemplo, o aumento salarial também atinge diretamente as prefeituras, porque a grande maioria dos servidores é remunerada de acordo com o salário mínimo”, ressalta.
Ele alerta ainda que a situação pode ser agravada pela queda do FPM, que apresentou repasse 10% menor em janeiro deste ano em relação ao mesmo período de 2024. “A grande maioria dos nossos municípios vive exclusivamente de recursos vinculados, FPM e ICMS. Se esta fonte cair, a situação dos municípios tende a cair ainda mais”, concluiu o presidente da AMM.
Procurados pela reportagem, os ex-prefeitos de Alvinópolis Maurosan Machado, Ibirité Willian Pereira e Juatuba Adônis Pereira, não retornaram até a última atualização desta reportagem.
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