“Um juiz atencioso, seguro e, acima de tudo, justo.” Foram com essas palavras que seus colegas de profissão descreveram Edson Alfredo Martins Smaniotto, juiz aposentado, que nos deixou na última sexta-feira. Natural de Duartina, São Paulo, Smaniotto formou-se em Direito em 1977 pela Faculdade de Direito de Bauru e, no ano seguinte, foi empossado procurador do Ministério Público de Goiás, cargo que ocupou até 1983. Ele dizia que Seus salários muitas vezes atrasavam, o que o levava a vender o carro e até a pensar em voltar para sua cidade natal.
Certa ocasião, Smaniotto contou ao colega Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy que, ao voltar para casa a pé, um advogado da parte contrária lhe ofereceu carona. Após alguma insistência, Smaniotto aceitou a gentileza e, durante a viagem, o advogado mencionou que iria a Brasília para se inscrever em um concurso de juízes de direito, aberto pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal. A ideia ficou na sua cabeça e virou sonho, mas, na época, o promotor não tinha recursos para realizar a viagem.
Por coincidência, sua mãe estava visitando-o em Goiânia e manifestou o desejo de conhecer a capital do país. Reuniram os poucos recursos que tinham e viajaram de ônibus para Brasília. Chegando à cidade, dirigiram-se diretamente ao Tribunal, onde Smaniotto se inscreveu. Estudou, ficou em primeiro lugar no exame e, em 1983, assumiu o cargo de juiz substituto do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Nessa época, mudou-se para Brasília com a esposa, Marita, e os dois filhos, Simone e Paulo Renato.
Como juiz substituto, Smaniotto iniciou “uma carreira sólida e firme, marcada pela ética, por um altíssimo senso de justiça, pela compreensão do próximo e por uma rara sensibilidade para com os problemas humanos”, nas palavras de Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy. Durante sua carreira, atuou na Vara Judicial de Taguatinga, na 1ª Vara de Família, Órfãos e Sucessões, e, em Brasília, em diversas Varas Cíveis, de Família, Criminais, de Registros Públicos e de Falências.
“No judiciário, no ensino e no direito, sempre buscou praticar a justiça, demonstrando consideração e segurança. Acredito que soube se destacar em todas as profissões que exerceu, sendo uma pessoa extremamente empática e com profundo senso humanístico. foi imparcial e, no ensino, um verdadeiro ‘encantador de serpentes’, que nos cativou com suas histórias de vida ao mesmo tempo que ilustrava conceitos complexos do direito penal”, conta Simone, sua filha.
Uma dessas histórias, que ficou famosa no meio jurídico, ocorreu quando um réu armado invadiu a sala da 6ª Vara Criminal do TJDFT com a intenção de fazer reféns e deixar o Tribunal de Justiça em liberdade. “O réu se aproximou do estrado onde meu pai estava e, num impulso, literalmente pulou da cadeira e pulou em cima do réu, retirando sua arma de fogo. Ele conseguiu imobilizar o menino até a chegada dos seguranças do tribunal, protegendo sua vida do infrator de possíveis disparos”, lembra Simone. “Foi um choque, mas por conta disso, durante muito tempo as pessoas perguntaram se meu pai era professor de caratê”, brinca.
Em 27 de novembro de 1986, Smaniotto foi nomeado juiz, assumindo a 6ª Vara Criminal. Em 1994, atuou como diretor do Fórum de Brasília. Desde 1986, atua também como juiz eleitoral convocado para o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE/DF), substituindo juízes a partir de 1995. Em 14 de março de 1997, foi promovido ao cargo de desembargador do TJDFT. Porém, segundo a filha, seu maior legado são as amizades.
“Os amigos que ele fez ao longo de sua trajetória de vida, das mais diversas profissões! Meu pai era comunicativo, humilde, em
patético e atencioso, além de tratar a todos com muito carinho e respeito, cativando muitos por esse motivo. Também deixou impactos positivos na vida de autoridades de diversas áreas do poder desta capital do país, bem como de outros estados da Federação”, afirma Simone.
Após 24 anos de magistratura no Tribunal do Distrito Federal, Smaniotto participou de sua última sessão como desembargador no dia 29 de janeiro de 2010, aos 58 anos. pela primeira vez: a pé. “Foi memorável! Ele caminhou do Tribunal de Justiça até sua residência na 216 Sul, relembrando sua chegada a Brasília, acompanhado do juiz Diaulas Costa Ribeiro e do meu irmão Paulo Renato Smaniotto”, lembra Simone.
Após a aposentadoria, Smaniotto dedicou-se à vida acadêmica como professor de direito penal e de direito, ingressando em renomado escritório da capital federal. “Não posso deixar de dizer que lecionar, principalmente conviver com os alunos, foi outro momento que o deixou muito realizado pessoal e profissionalmente. Quanta alegria ele sentiu ao ouvir, no Vaticano, durante as férias, um querido aluno ( Rachel) gritando na Praça São Pedro, enquanto esperávamos o Papa falar: ‘Professor! Professor Smaniotto!’, diz Simone.
No ano passado, foi agraciado com o título de cidadão honorário de Brasília pela Câmara Legislativa do Distrito Federal. O Plenário esteve repleto de estudantes, magistrados, advogados, amigos e familiares, com destaque para a sua neta Valentina, que leu um discurso. “Não me lembro de ter visto o meu país mais feliz do que naquela ocasião.”
Em depoimento à reportagem, Simone expressou a saudade imensurável que sente pelo pai: “Estamos em paz graças à nossa fé e acreditamos que ele agora está com minha mãe, que partiu em 2021 e por quem tinha tanto amor. .” Sobre ele, Simone disse: “Era um homem calmo, paciente e que valorizava muito o convívio familiar. Cresci em um lar onde o companheirismo era a marca registrada. Até as compras mensais eram feitas em família”, lembra emocionada.
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