Tudo indica que México terá sua primeira mulher presidente após as eleições deste domingo (2/6), nas quais Claudia Sheinbaum, da coalizão governamental Sigamos Fazer História, e Xóchitl Gálvez, da aliança de oposição Força e Coração por México, são as favoritas.
Há um terceiro candidato na disputa: Jorge Álvarez Máynez, do Movimento Cidadão. Mas ele está muito atrás nas pesquisas. Outros oito candidatos independentes ficaram de fora das eleições por não terem aprovado uma cláusula de barreira —não obtiveram mais de 1% das assinaturas do eleitorado.
Sheinbaum, 61 anos, é física e engenheira ambiental reconhecida por sua pesquisa científica e defesa de políticas de eficiência energética e sustentabilidade.
Ela produziu relatórios para o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC)), órgão da ONU que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2007. Entre 2018 e 2023, ela foi a primeira mulher prefeita da Cidade do México.
Gálvez, também de 61 anos, é engenheira de computação e empresária. De origem indígena, ela cresceu na pobreza e, após se formar na universidade com bolsa de estudos, lançou diversas empresas de tecnologia de sucesso.
Entrou na política em 2000, quando o ex-presidente Vicente Fox a nomeou para chefiar a Comissão Nacional de Desenvolvimento dos Povos Indígenas, e foi senadora entre 2018 e 2023.
A física e engenheira Claudia Sheinbaum é a grande favorita, na esteira da grande popularidade do Presidente Andrés Manuel López Obradorseu forte aliado.
O presidente não pode concorrer a outro mandato de seis anos. No México não há reeleição.
Sheinbaum tem feito campanha em torno da ideia de dar continuidade à chamada “quarta transformação”, marca registrada do governo do atual presidente. As pesquisas indicam que ela está cerca de vinte pontos à frente de Xóchitl Gálvez.
Os mexicanos irão às urnas no domingo para escolher não apenas o novo presidente, mas também centenas de parlamentares e milhares de cargos locais em todo o país.
Os primeiros resultados deverão ser conhecidos a partir da noite de domingo, por volta das 22h (horário de Brasília).
Entre os desafios do governo estão a estagnação da economia, o aumento da violência e o fluxo contínuo através do México de migrantes que tentam chegar aos Estados Unidos.
A campanha eleitoral deste ano foi a mais violenta da história do país, com cerca de 200 funcionários públicos, políticos e candidatos assassinados até agora.
Esta semana, um candidato a prefeito foi morto a tiros ao encerrar sua campanha no estado de Guerrero.
Claudia Sheinbaum, a favorita
Claudia Sheinbaum tem 61 anos e nasceu na Cidade do México.
De família judia, num país de maioria católica, tem perfil técnico, com formação em Física e mestrado e doutorado em Engenharia.
Seu primeiro cargo na política foi em 2000, quando era secretária de Meio Ambiente da Cidade do México, cujo prefeito na época era o atual presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador.
Desde então, ela se tornou uma de suas aliadas mais próximas e o acompanhou em todas as suas candidaturas presidenciais.
Sheinbaum participou ativamente da formação do partido governante do México, o esquerdista Morena, em 2014. No ano seguinte, tornou-se chefe da delegação de Tlalpan (cargo equivalente ao de vice-prefeito de Tlalpan, uma das regiões da capital mexicana). .
Em 2018, ela se tornou a primeira mulher eleita chefe de governo na Cidade do México, cargo equivalente a prefeito.
Um de seus pontos fortes junto ao eleitorado foi o conhecimento técnico aplicado a políticas públicas, programas sociais e educacionais.
Uma das maiores polêmicas de sua gestão foram as acusações de falta de manutenção do metrô após um trecho da linha 12 desabar em 2021 e causar a morte de 26 pessoas.
No ano passado, Sheinbaum deixou o cargo para se concentrar nas suas ambições presidenciais.
Ser considerada a preferida de López Obrador é uma de suas principais vantagens entre os eleitores mais fiéis ao partido Morena. Mas isso também lhe rendeu críticas daqueles que a acusam de não ter identidade própria ou de não ser crítica em relação aos problemas do atual governo mexicano.
Os responsáveis por sua campanha tentam flexibilizar sua imagem — considerada por alguns séria e distante da população — com mais aparições nas redes sociais, onde ela aparece sorrindo fazendo vídeos no TikTok ou tocando violão.
Scheinbaum promete dar continuidade ao modelo económico “humanista” do atual governo, baseado em programas sociais populares que contribuíram para reduzir a taxa de pobreza de 43% em 2018 para 36% em 2022.
Ela diz ser contra políticas “duras” contra o tráfico de drogas – que só teriam aumentado a violência no país – e defende propostas de construção da paz.
Gálvez, a surpresa da oposição
Xóchitl Gálvez tem 61 anos e nasceu em uma pequena cidade do estado de Hidalgo.
Ela sempre destacou sua origem indígena e humilde —disse que vendia gelatina quando era estudante do ensino médio—, algo que já foi questionado por adversários. Seu pai, um professor indígena Otomi, era um alcoólatra abusivo, segundo relatos.
Engenheira de formação, Gálvez criou diversas empresas do setor pelas quais recebeu prêmios, bem como uma fundação que apoia comunidades indígenas com altos índices de desnutrição e recursos econômicos limitados.
Ela usa roupas indígenas, fala em termos coloquiais e é frequentemente vista andando de bicicleta pela Cidade do México. A sua abordagem rápida e prática provou ser popular entre muitos trabalhadores e jovens mexicanos.
Gálvez entrou na política em 2003 pelas mãos do ex-presidente do México, Vicente Fox, e foi nomeado diretor da Comissão Nacional para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas. Ela tentou se tornar governadora de sua terra natal, Hidalgo, em 2010, mas ficou em segundo lugar na coalizão PAN-PRD.
Cinco anos depois, conseguiu ser eleita chefe da delegação de Miguel Hidalgo na Cidade do México e desde 2018 é senadora pelo PAN — Partido da Ação Nacional, partido considerado conservador no México.
Apesar do currículo, seu nome era praticamente desconhecido da grande maioria dos mexicanos até poucos meses atrás. No entanto, nos últimos anos, ela tornou-se uma das maiores críticas do presidente López Obrador, que se tornou popular no México, em parte devido aos programas sociais do seu governo.
Gálvez entrou em confronto diversas vezes com o presidente por questões como os altos níveis de violência no México.
A candidata diz que “são necessários ovários” para enfrentar o crime organizado. A presidente diz que é a candidata dos ricos, dos “oligarcas” e dos “conservadores”.
Gálvez critica frequentemente alguns dos programas sociais – mas no início da campanha ela assinou um documento com o seu próprio sangue no qual se comprometia a manter e expandir esses programas, e não a eliminá-los.
Desde então, a sua popularidade cresceu e ela adotou um discurso menos conservador do que a maioria dos seus rivais na oposição mexicana.
Analistas acreditam que esse discurso mais amplo e inclusivo é uma tentativa de atrair outros eleitores além dos ferrenhos oponentes de López Obrador —que já pretendem votar nela de qualquer maneira.
Gálvez disse que pretende negociar com os Estados Unidos formas de incentivar os imigrantes que passam pelo México a caminho da fronteira norte a permanecerem no país, que precisa de mão de obra.
Em relação ao tráfico de drogas, sua proposta é retomar partes do país que o Estado perdeu para os criminosos.
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