Capão da Canoa (RS) — Os pescadores gaúchos enfrentam uma crise na atividade econômica, em meio à maior tragédia ambiental vivida pelo estado. A pequena e média pesca artesanal foi a mais afetada pelas enchentes deste ano e de 2023. Ao Correio, representantes do setor comentaram a situação das águas doces e salgadas neste momento.
“A pesca artesanal acaba sendo a mais impactada (pelas chuvas). Em São Lourenço, Rio Grande e Pelotas, por exemplo, há colônias totalmente envolvidas nessa atividade, e as perdas são significativas. É uma tragédia, nunca vi nada igual”, afirma Torquato Pontes Neto, presidente do Sindicato das Indústrias de Pesca, Doces e Enlatados do Rio Grande do Sul (Sindipesca-RS).
As cidades citadas por ele são banhadas pela Lagoa dos Patos e inundadas devido à enchente do afluente, que recebeu o alto volume do Guaíba, na capital gaúcha, com recorde de 5,33 metros. Em Pelotas, por exemplo, uma das áreas mais afetadas pela enchente foi a Colônia Z3, na Praia do Laranjal, que é uma comunidade de pescadores.
A prefeita do município, Paula Mascarenhas (PSDB), acredita que, só no local, o prejuízo é de pelo menos R$ 12 milhões. O presidente do Sindipesca-RS concorda com o chefe do Executivo. Segundo ele, “R$ 10 milhões não resolveriam a situação”. O impacto é sentido na pesca e comercialização de peixes de água doce, como camarão, bagre, papa-terra e traíra.
No litoral norte do estado, a pesca marítima sofre com a poluição do mar e a consequente escassez de peixes, como tainha e anchova. “Não podemos mais pescar porque o mar não está mais calmo e não tem como largar as redes por causa do lixo. Tem muita grama, bonés, sacolas plásticas, copos… Da Lagoa dos Patos tudo correu até o nosso mar. Este ano está difícil pescar”, lamenta Carlos Roberto Fernandes, 54 anos, pescador de Capão da Canoa, no litoral norte.
O gaúcho acredita que, nas enchentes anteriores, a chuva não atrapalhou tanto a pesca como agora. “Trabalho na pesca há 30 anos e ainda não vi nada parecido, o mar não deixa a gente pescar. força do mar”, acrescenta o pescador. Toda a renda da família vem de um mercado de peixes que sofre o dobro, pela falta de pescado para vender e pela baixa procura.
Segundo Carlos, a maior parte dos compradores é da capital gaúcha e, com as enchentes, não tem saído em busca do peixe: “A maioria das pessoas perdeu tudo”. Ainda segundo ele, a estimativa de vendas para o ano é de 1 tonelada e, em cinco meses, foram vendidos apenas 50 quilos. “Vai demorar muito para a gente se reequilibrar. Esse ano vamos patinar, só vamos começar a nos equilibrar no ano que vem”, avalia.
Recuperação financeira
A situação crítica também é sentida por Rudinei Silva Nascimento, 45 anos, pescador do litoral norte. “Estou trabalhando em outra atividade agora, pois já faz 40 dias que não consigo pescar. Minha linha de pesca quebrou devido à força da água e não consigo entrar no mar. minha pescaria”, diz o gaúcho, que precisava começar a trabalhar na construção civil para se sustentar financeiramente.
Rudinei diz ainda que financiou um barco em 2023, depois da boa colheita de 2022, mas teve que prorrogar o pagamento deste ano devido às perdas na sua atividade económica. Para ele, desde as enchentes de novembro do ano passado, o mar começou a ficar muito ruim para a pesca. Carlos concorda com o colega.
“As pessoas já não respeitam a natureza. Chovia logo, mas não havia enchentes porque havia muito verde. Os rios eram respeitados, o mar era respeitado”, diz o pescador, que atribui a “culpa” pela situação ele enfrentou a falta de cuidado. com o meio ambiente.
Sobre a recuperação financeira, Torquato Neto afirma que o Ministério das Pescas e Aquicultura o contactou para saber quais são as necessidades do sector. Ele diz que ainda não tem resposta, pois os pescadores estão em processo de levantamento de perdas materiais. Segundo ele, a pesca artesanal vai precisar de tudo, desde a reconstrução de casas até ajuda financeira para recuperar materiais de pesca.
Até o momento, o governo federal não anunciou nenhum apoio específico aos pescadores atingidos pelas enchentes, embora já tenha destinado recursos para a recuperação da agricultura no estado.
Você gostou do artigo? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê sua opinião! O Correio tem espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores através do e-mail sredat.df@dabr.com.br
globo notícias de hoje
entretenimento
www uol
logo whatsapp
global vip