Convocada para debater o problema das fake news em relação à tragédia climática no Rio Grande do Sul, a audiência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara com o ministro de Apoio à Reconstrução do estado, Paulo Pimenta, virou debate. boca com troca de acusações iniciada pelo deputado Bolsonaro Paulo Bilynskyj (PL-SP). O parlamentar questionou o ministro sobre a presença de sua esposa em viagem oficial a Santa Maria (RS) em helicóptero das Forças Armadas.
“Sou ministro, participo de eventos públicos e, muitas vezes, minha esposa me acompanha. sem violência, sem agressão”, respondeu.
O deputado paulista reagiu: “Ele (Pimenta) insinuou de alguma forma que meu relacionamento com minha esposa é violento. Isso, ministro, é para você aprender o que é fake news, o que é falso e mentira. moral do esgoto que Vossa Excelência traz aqui para a Câmara”, respondeu o parlamentar, aos gritos.
A partir daí, a oposição aumentou o tom contra o ministro. O deputado federal Gilvan (PL-ES) citou denúncias investigadas pela Operação Lava-Jato e a prática de “rachadinha” (quando um parlamentar se apropria de parte do salário de seus assessores) que supostamente envolveu Pimenta.
O ministro rebateu o parlamentar: “Lamento sua falta de vergonha. Nunca fui investigado pela Lava-Jato, nunca fui condenado em processo criminal. Você olhou para mim e me lembrou o Flávio Bolsonaro. Quem faz piada é ele”, respondeu Pimenta, que permaneceu na comissão até às 18h30, meia hora depois do horário previsto. Mesmo assim, os deputados da oposição gritavam: “Fuja! Fuja!”.
“Sou um deputado experiente. Esta Câmara sempre teve um nível de respeito e tolerância sem agressão, sem violência”, disse o ministro, ao sair da audiência. “É importante para a democracia que o Parlamento seja respeitado, que este seja um espaço em que as pessoas sejam respeitadas pelo que dizem sem serem assediadas, sem serem vítimas de agressões”, considerou. O debate sobre os prejuízos causados ao esforço emergencial no Rio Grande do Sul pela profusão de fake news acabou relegado a segundo plano.
A reação de Lira
Incomodado com a virulência dos “embates quase físicos”, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), apresentou, nesta terça-feira, ao Colégio de Dirigentes um projeto de resolução para alterar o Regimento Interno a fim de permitir que a Diretoria da Diretoria pode punir deputados por quebra de decoro com suspensão de mandato e proibição de participação nos trabalhos da comissão antes mesmo de o caso passar pelo Conselho de Ética.
“Não podemos mais continuar assistindo aos embates quase físicos que vêm ocorrendo na Câmara e que distorcem o ambiente parlamentar, comprometem o seu caráter democrático e, principalmente, degradam a imagem do Parlamento na sociedade brasileira”, postou Lira em sua conta no X (anteriormente -Twitter).
De acordo com o projeto, caberá então ao Conselho de Ética referendar ou não as decisões cautelares do Conselho.
A iniciativa do presidente da Câmara — que já estava em desenvolvimento e não tinha relação com o debate na sessão da CCJ — foi incluída na pauta da sessão noturna desta terça. Responsável pela votação do pedido de urgência do projeto, Lira declarou que, “se (os deputados) acharem que vão resolver de fato, a Polícia Legislativa não entrará mais nesse debate”. Já passava das 22h quando o plenário decidiu aprovar a urgência, deixando a análise do mérito para a sessão desta quarta.
As brigas entre parlamentares tornaram-se comuns neste Legislativo, reflexo da polarização política que intoxica o debate político no país. Na semana passada, o clima de tensão atingiu seu ápice quando os deputados André Janones (Avante-MG) e Nikolas Ferreira (PL-MG) quase recorreram à agressão física após o Conselho de Ética apresentar denúncia contra Janones.
Horas depois, na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, a deputada Luiza Erundina (PSol-SP) passou mal e precisou ser levada a um hospital em sessão marcada por duras discussões entre os membros do colegiado.
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