Destituído do cargo de secretário de Política Agrícola por ato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicado na edição desta quarta-feira (6/12) do Diário Oficial da União, Neri Geller declarou que o leilão de arroz promovido pelo governo para conter a alta dos preços foi “um erro” e que não seguiu as recomendações dos técnicos do órgão. Segundo ele, a decisão de importar arroz em leilão foi tomada pelos ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa.
“Infelizmente, (o leilão) foi conduzido de forma incorreta e não estou falando de má-fé de ninguém. A quantidade ofertada foi decidida pela Casa Civil. O ministro Fávaro levou o assunto 100% para o seu gabinete”, disse Geller.
O ex-secretário —um dos poucos políticos ligados ao agronegócio que está ao lado de Lula desde a campanha eleitoral— apontou “desorganização” na montagem do leilão, que acabou contaminada pela politização da crise climática no Rio Grande do Sul. “As posições técnicas não foram seguidas. (A decisão) foi tomada rapidamente para que o arroz chegasse rapidamente às periferias dos grandes centros”, criticou.
Geller afirmou ainda que o governo tinha informações de que grande parte da produção já havia sido colhida e o que faltava estava armazenado em áreas não afetadas pelas enchentes. Ele também sabia que a produção do Centro-Oeste cresceu 30% e que o Mercosul possui grandes estoques de arroz. “A compra deveria ser feita de forma mais escalonada. O setor deveria ter sido mais ouvido, os produtores de arroz, temos uma vasta margem para aumentar a produção nacional.”
Suspeitas
O leilão de arroz para combater a especulação de preços decorrente da situação no sul do país foi cancelado pelo governo depois de surgirem suspeitas de irregularidades envolvendo um ex-assessor de Neri Gueller e o seu filho, Marcello Geller.
A Foco Corretora de Grãos, uma das principais vencedoras do leilão, é do empresário Robson Almeida de França, que foi assessor parlamentar de Geller na Câmara dos Deputados e é sócio de Marcello. Sobre França, o ex-secretário disse que não pode “restringir o seu direito de seguir com a vida” e que o ex-funcionário “está exercendo o seu direito de fazer corretagem desde o ano passado”. “Não posso proibir um profissional de trabalhar só porque foi meu funcionário há quatro anos”, comentou. Sobre o filho, explicou que a empresa que tem em parceria com França nunca funcionou. “Meu filho disse que iria abrir uma corretora, mas ela não foi acionada.”
“A relação do governo com o Congresso precisa ser melhorada”
Neri Geller terá a oportunidade de prestar esclarecimentos sobre o caso à Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados na próxima semana. O convite não deverá ser recusado pelo ex-secretário. Em entrevista com Banda Notícias TV, alertou que a sua biografia “não será jogada no lixo” e que não aceitará, “de forma alguma, ser feito de bode expiatório desta história”. “Vou ter uma postura muito firme e depois sairei da mídia”, garantiu.
Questionado sobre a atuação do ministro Carlos Fávaro, Geller evitou polêmica, mas não escondeu sinal de decepção com sua demissão. “Não fui eu quem pediu a demissão dele”, disse, explicando que a decisão foi tomada pelo presidente Lula em reunião com Fávaro. Mas sugere que a relação entre o Ministério da Agricultura e o sector do agronegócio não é boa.
“Não posso ser penalizado por um erro político que foi cometido na condução deste leilão”, queixou-se. “Não posso ir atirar no ministro Fávaro, por questão de ética e respeito. Mas a relação do governo com o Congresso certamente precisa de ser melhorada. Não estou torcendo para que o ministro caia. Peço para ele falar mais, não centralizar tanto as ações. O departamento precisa do apoio do Congresso Nacional.”
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