Crítico da operação Lava Jato, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), recorreu a um instrumento jurídico que se popularizou no auge da operação e foi alvo de contestações de membros do Supremo Tribunal Federal: extensa prisões preventivas. Um dos casos que se arrasta em tribunal, sem que seja apresentada queixa formal, é a detenção de Filipe Martins, antigo assessor para assuntos internacionais da Presidência da República. Preso há quatro meses, Martins é acusado de fazer parte de um “núcleo jurídico” que justificaria um golpe de Estado.
Em nota, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de campo da Presidência, disse que Martins foi o responsável por entregar a Bolsonaro um “projeto do golpe”, que previa a prisão de autoridades e a convocação de um novo presidente eleição. O caso colocou o ex-assessor entre os alvos da PF. Ele nega qualquer envolvimento com o documento.
Ao solicitar a prisão preventiva de Martins em fevereiro, a PF argumentou que o nome de Martins constava da lista de passageiros que viajaram para Orlando a bordo do avião presidencial no dia 30 de dezembro de 2022. Desde então, a defesa do ex-assessor tem procurado reverter a prisão em a justificativa de que a “viagem ilusória imaginada pela Polícia Federal” não ocorreu.
Para tanto, a defesa de Martins, representada pelos advogados Ricardo Scheiffer e Sebastião Coelho, apresentou ao longo do processo uma série de provas que, segundo eles, seriam suficientes para comprovar que o ex-assessor de Bolsonaro não saiu do país conforme indicado pelo POLICIA FEDERAL. Entre os documentos apresentados estão lista de passageiros do referido voo, obtida via Lei de Acesso à Informação junto ao Gabinete de Segurança Institucional em 2023, recibos do iFood, comprovante de movimentação bancária e comprovante de viagem doméstica que Martins teria feito no dia seguinte o voo. o dia em que os investigadores alegam que ele viajou para os Estados Unidos.
As passagens aéreas da Latam de Brasília para Curitiba no dia 31 de dezembro foram anexadas ao processo para argumentar que Martins permaneceu no Brasil. O ex-assessor teria ido para Ponta Grossa (PR), onde ficou hospedado na casa do sogro, onde foi preso.
Moraes pediu à companhia aérea Latam e à concessionária que administra o aeroporto de Brasília que informassem se ele viajou para os Estados Unidos e apresentassem imagens de segurança.
Como mostra o Estadãoos investigadores localizaram, no banco de dados do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (Department of Homeland Security, em inglês), um registro da entrada do assessor em território americano, em 30 de dezembro de 2022, com passaporte comum.
A Procuradoria-Geral da República (PGR), que tinha votado pela revogação da prisão preventiva, passou a defender “medidas complementares” para “esclarecer” se Filipe Martins saiu ou não do Brasil.
As tentativas de reverter a prisão de Martins foram negadas por Moraes. Em recurso processual que questiona a manutenção da prisão, os advogados afirmam que a acusação “não consegue provar” que o ex-assessor realmente viajou para os Estados Unidos e mantém a prisão com base num “risco abstrato de fuga”.
“O presente caso envolve uma inversão única do ônus da prova: o Ministério Público não consegue provar que o agravante viajou, mas o relator exige que o agravante prove que não viajou. risco abstrato de fuga’”, diz a defesa.
E acrescentam:
“Como ocorreu essa viagem? Se o agravante não constar da lista, o Ministério Público estaria dizendo que ele viajou ‘escondido’ no avião presidencial? Se sim, como? Dentro do bagageiro? Ele se disfarçou de garçom?” na tripulação? A Polícia Federal pode apresentar alguma prova de alguma coisa ou apenas simples conclusões?”, afirmam.
Martins está internado no Complexo Médico Penal (CMP), em Pinhais (PR), que ficou conhecido como presídio da Operação Lava Jato. Sua defesa nega qualquer intenção de negociar um acordo judicial.
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