O avanço da nova política industrial do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lançada em janeiro deste ano, na avaliação de Uallace Moreira, secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), precisa incorporar a perspectiva da regionalização e da territorialização.
“Isso é fundamental. Não podemos mais pensar em política industrial deixando de lado a perspectiva do desenvolvimento regional do país”, disse Moreira, nesta quarta-feira (19/6), no CB Debate: A força do Nordeste na transformação social do paísrealizada por Correio Braziliense em parceria com o Banco do Nordeste (BNB).
O secretário destacou que o Nordeste terá um papel importante na transição energética e, além disso, reconheceu que o grande desafio desta agenda é evitar que o país seja apenas um exportador de energia verde. E, nesse sentido, o país precisa ser protagonista.
“A transição ecológica é uma janela de oportunidade, mas, ao mesmo tempo, é um risco, porque se não usarmos a transição energética apenas para promover a transição, o Brasil corre um sério risco de ser um exportador de energia verde sem agregar valor, sem desenvolver cadeias produtivas”, alertou. “O Brasil não pode aceitar ter um papel secundário num processo de transição energética, desenvolvendo tecnologias e importando tecnologias de outros países, apenas gerando energia verde e exportando energia verde para que outros países possam agregar valor, agregar valor e acumular riqueza. O Brasil precisa aproveitar essa janela de oportunidade para desenvolver cadeias produtivas”, destacou.
Ao falar sobre a perspectiva do desenvolvimento regional e destacar a importância da economia do Nordeste, Moreira citou também o renomado economista Celso Furtado, que ao longo de sua carreira defendeu essa perspectiva. “É evidente que existe uma desigualdade regional que não era natural. Foi construído a partir do momento em que tivemos políticas públicas que concentraram o desenvolvimento industrial no país. E cabe ao presidente do governo Lula e ao vice-presidente Geraldo Alckmin incorporar o aspecto do desenvolvimento regional, porque a política industrial é um elemento de redução das desigualdades sociais”, afirmou o secretário.
Importância da indústria
Citando dados da Fundação Getulio Vargas (FGV), Moreira destacou ainda que a indústria é um importante instrumento para a redução das desigualdades no país, já que 47% do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria vai para a renda do trabalhador. “Isso significa que a indústria é um elemento fundamental para a redução das desigualdades sociais, pois gera empregos altamente qualificados e de alta renda, quando você tem um setor industrial que tem maior densidade produtiva e maior nível de complexidade tecnológica, o que se reflete em vários dimensões, que têm um efeito para a frente e para trás, a que chamamos efeitos ‘spillover’ (ramificação) da economia para a sociedade”, explicou. “É por isso que a política industrial se tornou um tema estratégico e, mais do que nunca, a perspectiva do desenvolvimento regional tornou-se importante”, acrescentou.
Segundo o secretário, o Nordeste é uma das regiões mais promissoras para o país otimizar a janela de oportunidade da transição energética. “Não é de surpreender que o Brasil tenha uma das matrizes energéticas mais limpas, a matriz elétrica mais limpa e a matriz energética mais limpa do mundo. O que coloca o Brasil em vantagem frente ao mundo num processo de descarbonização”, avaliou.
Cadeias produtivas
“Quando falamos, por exemplo, em hidrogênio verde, o Brasil precisa desenvolver a cadeia produtiva para quebrar as partículas de hidrogênio e oxigênio e não importar essas máquinas e equipamentos. Então, nada contra as importações, isso não significa fechar a economia. Isso significa ter uma perspectiva estratégica de desenvolvimento econômico considerando o potencial, as capacidades internas construídas que permitem ao Brasil construir políticas públicas que não sejam um tiro no escuro”, destacou.
Segundo o secretário, são tiros certeiros que terão resultados futuros no desenvolvimento de novas cadeias produtivas, na consolidação das cadeias produtivas existentes, beneficiando a sociedade. “A transição energética, por exemplo, é um elemento claro de como a política industrial promove o bem-estar social, gerando empregos e rendimentos, mas também salvando vidas ao emitir menos CO2.”
Moreira lembrou ainda que a tragédia no Rio Grande do Sul “é um exemplo claro” de que é preciso acelerar o processo de transição energética acompanhado de investimentos em infraestrutura. Segundo ele, esses elementos, as políticas públicas, devem ser fatores de promoção do desenvolvimento econômico brasileiro. E, para libertar o Brasil da armadilha da renda média, é necessário investir em inovação tecnológica. “A transição energética é um fator importante na promoção da inovação tecnológica e da transformação ecológica”, sublinhou.
Papel dos bancos
Moreira também destacou no evento a retomada do papel dos bancos de desenvolvimento no desenvolvimento regional, principalmente a atuação do Banco do Nordeste, atualmente sob a gestão do presidente Paulo Câmara, que esteve ao seu lado no evento. “Na verdade, todos os bancos públicos, nos últimos seis anos, foram desmantelados. Eles foram relegados a um papel passivo secundário no desenvolvimento econômico brasileiro e também criminalizados”, afirmou.
O secretário também citou a polêmica em torno da “caixa preta” do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “A caixa preta do BNDES, que nunca existiu, foi criada para inibir a atuação dos bancos públicos em prol do desenvolvimento econômico. A caixa preta nunca existiu e o que diz isso é um relatório chamado relatório verde, feito no governo Michel Temer, que mostra que o BNDES nunca teve uma caixa preta assim”, criticou. Na visão de Moreira, esses bancos serão importantes para financiar a neoindustrialização, focada na inovação e na sustentabilidade.
Sob a mediação do editor de Política e Brasil da Correio BrazilienseCarlos Alexandre de Souza, e a colunista Denise Rothenburg, além da presença de Moreira e Paulo Câmara, o evento conta com a participação do presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Lima, o presidente da Confederação Indústria Nacional (CNI), Ricardo Alban, e o secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Melo, além de parlamentares e especialistas.
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