O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a posse do novo presidente da Petrobras para criticar a Operação Lava-Jato. Segundo ele, a força-tarefa foi criada apenas para “desmontar” a estatal e o argumento de combate à corrupção era falso. Lamentou ainda a perda de credibilidade da petrolífera após os escândalos de peculato e disse que quem acusou a empresa “não tem coragem de pedir desculpa pelo erro”.
Lula participou da inauguração de Magda Chambriard, no Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), no Rio de Janeiro. Foi a primeira vez em 12 anos que o Chefe do Executivo participou na cerimónia. Também estiveram presentes ministros como Fernando Haddad, da Fazenda, e Alexandre Silveira, de Minas e Energia. O presidente e Chambriard demonstraram alinhamento na gestão da petrolífera, destacando o seu papel social, sem ignorar os acionistas.
“Ainda não conseguimos fazer as coisas com a força que queríamos porque houve um terremoto neste país. Ou uma praga de gafanhotos, que veio destruir o que era um sonho da sociedade brasileira”, disse Lula no final do evento. “Com o falso argumento de combate à corrupção, a Operação Lava-Jato quis desmontar a Petrobras. Se o discurso fosse verdadeiro, os corruptos seriam punidos, deixando intactos os bens do povo brasileiro”, acrescentou.
A Lava-Jato teve como alvo — entre outros — os responsáveis pelo chamado “Petrolão”, esquema bilionário de desvio de recursos da estatal, que eclodiu no final de 2014. Ao longo dos anos, uma série de denúncias, investigações e decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) mostraram que os responsáveis pela força-tarefa cometeram uma série de irregularidades e não seguiram o devido processo legal. Lula foi acusado pelo Ministério Público de comandar o esquema. Porém, todas as suas convicções acabaram sendo anuladas anos depois. Por outro lado, foram comprovados desvios na estatal, inclusive ex-diretores da empresa confessando crimes, como Renato Duque.
Sem desculpas
O chefe do Executivo classificou a operação como uma tentativa de destruir a imagem da Petrobras e facilitar o seu processo de privatização. Lamentou ainda que a empresa tivesse sido associada à corrupção e que engenheiros e funcionários tivessem sido pressionados a sair. Para ele, a Lava-Jato tentou “mais uma vez entregar esse extraordinário patrimônio às mãos das petrolíferas estrangeiras”.
“Quem defendeu o fim da Petrobras são os mesmos que abriram 400 empresas importadoras de gasolina, quando o Brasil era autossuficiente na produção de gasolina”, destacou. “Quem fez a acusação contra a Petrobras, contra muita gente neste país — até gente importante da Petrobras —, não tem coragem de pedir desculpas. Os acusadores não têm coragem de pedir desculpas pelo erro que cometeram”, disse. .
Ele também citou outras denúncias de corrupção enfrentadas pela ex-presidente Dilma Rousseff, sua sucessora, envolvendo obras nos estádios brasileiros para a Copa do Mundo de 2014. Segundo ele, não houve indícios de casos de corrupção, com exceção do Maracanã, que teria sido corrigido antes do término das obras. Ele também citou como exemplo as denúncias de corrupção contra os ex-presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, que ressaltou nunca terem sido provadas.
Acionistas
Lula destacou que a estatal precisa cumprir o seu papel na sociedade, com investimentos e distribuição de riquezas. No entanto, ele também acenou com a cabeça aos investidores. “A verdade deve prevalecer para o povo brasileiro. Ninguém quer que o acionista tenha um centavo de prejuízo. Ninguém quer que a Petrobras seja uma empresa deficitária. paga-se mais impostos e (Fernando) Haddad ficará feliz com o dinheiro para o Tesouro, para ajudar os prefeitos e os estados”, afirmou.
O presidente lamentou a privatização da Eletrobras e da Vale. Sobre este último, disse que a empresa ainda não indenizou os moradores de Brumadinho e Mariana após o rompimento da barragem, citando que “uma empresa boa e grande tem que ter um responsável”.
Desde o início do mandato, Lula defende que a Petrobras foque nos investimentos, e não necessariamente no lucro dos acionistas. Isso provocou críticas do mercado, principalmente depois do barulho, no início do ano, com o ex-presidente da estatal Jean Paul Prates a respeito da distribuição de dividendos extraordinários. Prates voltou a favor da destruição, contrariando o conselho de Lula. Junto com outros episódios, esse foi o gatilho para sua demissão.
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