Em São Paulo, que era o mais tradicional reduto político do PSDB no país, o tucanato se divide entre apoiar o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), ou lançar candidatura própria com o apresentador de TV José Luiz Datena. Como pano de fundo desta cisão, o partido vive uma acirrada disputa judicial pelo controlo do directório municipal, que está sob a intervenção da liderança nacional desde Setembro, sendo a presidência actualmente ocupada pelo ex-senador José Aníbal.
Fernando Alfredo, ex-presidente do diretório paulista, afastado do cargo, continua defendendo a composição do partido junto ao atual prefeito e, nas redes, é chamado pelos apoiadores de “presidente de honra”.
Em campanha aberta à reeleição de Nunes, Alfredo disse ao Correio que o atual prefeito tinha um acordo político para apoio nas eleições de outubro e, por isso, manteve muitos apoiadores do PSDB, todos vindos da administração que herdou com sua morte em maio de 2021, por o titular Bruno Covas. “As pessoas que estão na prefeitura foram colocadas pelo Bruno Covas, e o Ricardo deixou lá porque estão fazendo um bom trabalho”, disse o ex-líder tucano.
Subindo ainda mais o tom, Alfredo tem feito lives semanais em suas redes sociais com pré-candidatos do partido ao Legislativo municipal e segue obtendo o apoio de tucanos que ocupam cargos no Executivo municipal. Com uma trama que mistura páginas políticas e policiais de jornais, o ex-presidente é acusado de espoliar a sede do partido. Alfredo justifica que os móveis e computadores foram emprestados por militantes do partido que, após a intervenção, retiraram os equipamentos.
“Acho ótima essa novela do PSDB, que virou partido cartorial, tem dono e não tem base. Isso começou com Eduardo Leite (governador do Rio Grande do Sul), que nunca aceitou a vitória do (ex-governador de São Paulo) João Doria (para a Presidência da República, em 2022), e depois, passou a perseguir todos que o apoiavam. Alguns dirigentes acham que o PSDB continua sendo aquele partido elitista que toma decisões fumando cachimbos caros e bebendo uísque. “, disse o político. ex-presidente tucano.
Com o impasse, a nova gestão entrou com uma ação pedindo acesso a contas bancárias, documentos contábeis e até cópia da chave do conjunto de salas que funcionava como sede municipal. A ação ainda aguarda intimação do ex-diretor.
A festa, que estava sendo cobrada por pagamento de aluguel atrasado, não ocupa mais o 8º andar do prédio do bairro Vila Buarque, em São Paulo. O líder afastado garante que só deixará o PSDB caso seja expulso e, apesar de não poupar o comando nacional do partido, acredita que terá o apoio da base paulista.
Próprio nome
Enquanto alguns tucanos, como o ex-presidente municipal do partido, veem com ceticismo a pré-candidatura de Datena, devido ao histórico de desistência do apresentador, outros setores do partido veem em seu nome uma chance de resgatar a força do PSDB em São Paulo.
Na principal cidade do país, os tucanos perderam o maior grupo no Legislativo municipal, depois da janela partidária, onde todos os vereadores eleitos na chapa de Bruno Covas e Ricardo Nunes trocaram de partido. Para o presidente afastado, é um sinal claro de que a militância prefere apoiar a reeleição do atual prefeito da capital paulista.
“Mais de 80% dos activistas apoiarão a reeleição de Ricardo Nunes, até porque é impossível acreditar que Datena assuma finalmente esta responsabilidade no 11.º partido a que aderiu”, disse Alfredo.
O grupo que defende a candidatura de Datena garante que, desta vez, o apresentador vem mesmo para a disputa eleitoral. Ele argumenta que, na semana passada, chegou a fechar acordo com a família Saad, dona da TV Bandeirantes, para se despedir do comando do programa que apresenta. Também garante que o apresentador não se preocupe em abrir mão do salário de TV, estimado em R$ 600 mil, mas condiciona a candidatura a não investir dinheiro do próprio bolso na campanha. “Não sou João Doria”, repete muitas vezes.
O apresentador é muito conhecido e, antes mesmo de anunciar a pré-candidatura, na semana passada, já aparecia em terceiro lugar nas pesquisas de preferência dos eleitores, empatado com a deputada federal Tabata Amaral (PSB).
Tabata Amaral
Antes de anunciar sua pré-candidatura, Datena foi cotado para ser vice-presidente na chapa de Tabata. Filiou-se ao PSB, mas em abril migrou para o PSDB. A ideia de Tabata era formar uma coalizão com os tucanos, que preferiram fazer candidatura própria.
Descartando qualquer possibilidade de aliança com o deputado, fontes partidárias definem o movimento do pré-candidato pessebista como amador. “Não sei o que a Tabata estava pensando, acho que o povo dela é fraco, seria difícil o Datena aceitar ser candidato, principalmente como vice-presidente do PSB. disse um interlocutor ligado à liderança tucana.
Apesar de seu histórico de desistências, Datena tenta ser levado a sério. Ele afirmou, no lançamento da pré-candidatura, na semana passada, que não pensa em desistir. “Sinto realmente que tenho mais responsabilidade nesta campanha do que nas anteriores. Porque, desta vez, vou até ao fim”, disse o pré-candidato.
O apresentador também falou sobre a nacionalização da campanha paulista e parece ter deixado aberta a possibilidade de concorrer também a outro cargo em 2026.
“Aqui (em São Paulo) tem gente de todo o Brasil, tem mais gente do Nordeste do que do Nordeste, tem gente de Minas Gerais, tem gente da Bahia, o país inteiro está aqui. dizer, de coração aberto, que a eleição do Brasil passa pela eleição da cidade de São Paulo”, afirmou Datena.
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