A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que o Brasil enfrenta uma das “piores situações já vistas” no Pantanal. Ela comentou o bioma no Palácio do Planalto, após a segunda reunião da sala de situação de monitoramento e prevenção de secas e queimadas no Pantanal e na Amazônia. Ontem, o governo de Mato Grosso do Sul declarou estado de emergência devido aos incêndios que se espalham na região há dias. O decreto tem prazo de 180 dias.
O ministro citou os incêndios criminosos, as alterações climáticas e o agravamento do efeito prolongado dos fenómenos El Niño e La Niña como as principais causas dos incêndios “atípicos” enfrentados na região.
“Toda a bacia do Paraguai está em grave escassez hídrica, não tínhamos a cota de inundação nem o interstício entre El Niño e La Niña. Isso significa que uma grande quantidade de matéria orgânica no ponto de combustão está causando incêndios florestais em relação a tudo o que se conhece. . O Ministério do Meio Ambiente tem trabalhado intensamente desde outubro do ano passado”, acrescentou.
Marina destacou o trabalho de 175 brigadas do Ibama, 40 do Instituto Chico Mendes, 53 da Marinha, totalizando 250 pessoas atuando no território. Além disso, ela mencionou um número adicional de brigadistas da Força Nacional.
“Infelizmente o fenômeno é incomparavelmente maior que a capacidade humana de combater esses processos. Não é só o governo que tem que se preparar para esses fenômenos, é a sociedade como um todo. qualquer coisa”, acrescentou, lembrando que 85% dos incêndios no Pantanal neste ano foram registrados em propriedades privadas.
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou que “não há limites de recursos” para enfrentar a situação e que, nesta quarta-feira, haverá reunião da Diretoria de Execução Orçamentária (JEO) para discutir a liberação de créditos extraordinários para combate a incêndios.
“Não faltarão recursos do governo federal. Claro, com responsabilidade, analisando caso a caso. não faltam recursos para o combate ao incêndio e a prevenção de incêndios”, disse Tebet.
“Agora, não há orçamento no mundo, no Brasil, que resolva o problema de conscientização da população”, ponderou o ministro do Planejamento. Na sexta-feira, Tebet, Marina e o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, desembarcam em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, para acompanhar o impacto dos incêndios e se reunir com autoridades locais.
Emergência
O governo de Mato Grosso do Sul declarou situação de emergência em resposta aos incêndios devastadores que assolam o Pantanal. Publicado ontem no Diário Oficial do Estado, o decreto abrange as áreas atingidas pelo incêndio, embora não especifique os municípios diretamente afetados. Na prática, essa medida permite a realização de licitações sem aviso prévio para ações emergenciais, agilizando a resposta às crises.
Dados da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelaram que a área queimada no bioma Pantanal este ano já atingiu 627 mil hectares, sendo 480 mil hectares em Mato Grosso do Sul (MS) e 148 mil em Mato Grosso (MT). ). Esses números já superam os recordes de devastação registrados em 2020.
O decreto estadual autoriza bombeiros e bombeiros a entrar nas residências para prestar socorro e evacuar imóveis particulares ameaçados pelo incêndio. Está isenta a realização de concursos para obras, aquisição de equipamentos e serviços de urgência.
Imagens impactantes circulam nas redes sociais, incluindo um vídeo que viralizou no último sábado (22/6). Mostra um “muro de fogo” do outro lado da margem de um rio onde acontecia um festival do Arraial do Banho de São João, em Corumbá. A cidade, conhecida como “capital do Pantanal”, abriga 60% do bioma e é a principal área urbana da região.
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) registrou suas críticas. “Olá Leonardo DiCaprio, Greta Thunberg, Marina Silva, Gilberto Gil e outros, cadê vocês?? Ahhh, não é Jair Bolsonaro no governo, né?”, escreveu ela em uma rede social.
No perfil da Prefeitura de Corumbá, internautas manifestaram indignação com a decisão de manter a comemoração. Comentários condenaram a festa em meio à devastação. “O Pantanal está lindo, está pegando fogo, as pessoas estão com crise respiratória, os animais estão morrendo e vocês estão preocupados com a festa”, reclamou um usuário no Instagram. “Piedade, que falta de amor pelo nosso planeta. Está todo mundo queimando e tem gente festejando. Sério, pão e circo”, comentou outro.
Ao Correio, o biólogo do SOS Pantanal, Gustavo Figueiroa, disse estar preocupado com as mudanças climáticas e a imprevisibilidade das chuvas, fatores que agravam a crise ambiental na região. A antecipação de incêndios e a expectativa de uma seca prolongada desafiam ainda mais as estratégias de combate a incêndios e de proteção do bioma.
“Nossa preocupação é muito grande porque junho é só o começo. Historicamente, o pico da seca ainda nem começou, que será por volta de agosto e setembro. É nesse sentido que, nos próximos meses, a situação se tornará ainda mais crítica. Este ano, se a situação persistir, pode ser que a seca se mantenha no período em que era suposto começar a chover”, afirmou.
O meteorologista Natálio Abrahão Filho destacou a possibilidade de a atual seca superar recordes históricos. “O cenário é crítico, mas ainda há tendência de eventos piores, pois o solo da região do Pantanal é arenoso e mantém altas temperaturas. Com umidade abaixo de 25%, a tendência é de mais surtos. com situação de 54 dias sem chuva, MS e MT têm a maior seca da história, superando 1996, quando foram 98 dias sem chuva”.
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