O cenário externo mais adverso, com os Estados Unidos mantendo os juros básicos na faixa de 5,25% a 5,5% desde junho de 2023, tem ajudado a piorar as expectativas não só no Brasil, segundo dados do Banco Central. Ao apresentar os principais destaques do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho, o diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, destacou nesta sexta-feira (27/6), em São Paulo, que quase 80% dos países emergentes apresentaram aumento nas projeções de taxas básicas e de juros tanto para 2024, quanto, para 2025, as expectativas aumentaram para 58% dessas economias.
No caso do Brasil, as novas projeções para a taxa básica da economia (Selic), atualmente em 10,5% ao ano, indicam que esse nível será mantido até dezembro e, para o próximo ano, as taxas de juros deverão permanecer em 9,5% ao ano. E, para 2026, a projeção da Selic subiu para 9%. Segundo dados da RTI, o Banco Central elevou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,9% para 2,3%, especialmente devido ao aumento do consumo das famílias e à melhora do mercado de crédito, segundo o diretor.
A projeção de crescimento nominal do saldo credor do Sistema Financeiro Nacional (SFN), em 2024, passou de 9,4% para 10,8%. “O aumento reflete principalmente a incorporação de programas de crédito criados para combater os efeitos do evento climático extremo no Rio Grande do Sul. E, no crédito livre, a revisão na projeção do saldo das pessoas físicas reflete tanto a surpresa positiva nos dados divulgados quanto à expectativa de maior consumo das famílias”, disse o diretor do BC aos jornalistas.
Piora da situação fiscal
Segundo Guillen, também houve piora na percepção dos agentes econômicos sobre o quadro fiscal nos cenários das últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). “Quando fazemos um balanço dos riscos, vemos que, nos dois últimos Copoms, a percepção da situação fiscal piorou para os níveis mais elevados em pouco mais de um ano”, afirmou. De acordo com as novas projeções, a dívida pública bruta continuará a crescer e atingirá 80% do PIB no próximo ano.
Além de elevar as projeções para o PIB, o Banco Central também elevou as estimativas para a inflação neste ano e no próximo, para 4% e 3,4%, respectivamente, considerando a taxa Selic estável. Segundo ele, a inflação vem apresentando dados acima do esperado, tanto que o Banco Central elevou a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho de 0,15% para 0,33%, especialmente devido às crescentes pressões sobre os preços dos alimentos.
O diretor do BC também reforçou o aumento da taxa de juros neutra de 4,5% para 4,75% no horizonte de projeção das taxas do Copom. “A mudança representa a atualização de diversas estimativas da taxa de juros neutra da economia brasileira, obtidas por meio de diferentes metodologias, com a ressalva de que outras abordagens estão presentes na literatura e também podem ser consideradas no processo de tomada de decisão da autoridade monetária. Após atingirem o mínimo com a eclosão da pandemia da Covid-19, de forma geral, as taxas estimadas apresentam tendência de alta”, destacou o diretor do BC.
A instituição também percebeu um aumento no gap de produtos (indicador de ociosidade), que ficou próximo de zero. “O aumento da projeção de inflação no horizonte relevante resultou principalmente de uma atividade económica mais forte do que o esperado, que conduziu a um aumento do hiato do produto estimado, mas foi contido pela subida da taxa de juro real”, destaca o documento. E, nesse sentido, o diretor do BC destacou que, refletindo o aumento da projeção, a probabilidade de a inflação ultrapassar o limite superior do intervalo de tolerância aumentou para 2024 e 2025.
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