Para o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Cappelli, a falha do Banco Central (BC) em regular o mercado de câmbio e manter a taxa de juros afeta a competitividade industrial brasileira. Para ele, o BC deveria ter agido para evitar a alta do dólar na última semana.
“É inexplicável porque, com a alta do dólar na sexta (28/6) e ontem (1/7) o Banco Central não atuou no mercado de câmbio para manter o preço. Um dólar que está pressionado pela posição do FED (Banco Central Americano), está pressionado pelo último debate americano, pelas eleições francesas, mas insistem em dizer que o dólar sobe porque o presidente (Lula) fala muito. Mas o presidente fala para defender o modelo econômico que saiu vitorioso nas urnas, no Brasil não existe, e nas últimas semanas tentaram criar um fantasma de um desequilíbrio fiscal que não existe”, disse Cappelli.
Para o presidente da agência, que participou da abertura do Fórum de Competitividade, nesta terça-feira (2/7), em Brasília, o nível dos juros brasileiros impede o investimento produtivo do país.
“Nada, absolutamente nada justifica a omissão do Banco Central no mercado de câmbio e nessas taxas de juros que transferem o dinheiro da produção para a especulação. Conheci um empresário do setor de máquinas que me mostrou seu celular onde instruiu o diretor financeiro da empresa a retirar todos os recursos previstos para investimento na produção e colocá-los em renda fixa. Com os juros no nível que estão, nada dará mais, até ao final do ano, do que a renda fixa. Precisamos ter uma estrutura de juros condizente com a situação fiscal que o país tem, o Brasil tem a inflação no centro da meta, tem mais de US$ 350 bilhões em reservas”, pontuou.
Segundo Cappelli, o país deve crescer este ano pelo menos no mesmo patamar de 2023 e destaca que a única explicação para as escolhas do BC parece ser favorecer os especuladores que apostam contra o Brasil.
“Este ano teremos um crescimento muito próximo do que tivemos no ano passado, temos a indústria operando com mais de 80% da capacidade instalada, temos desemprego em queda, massa salarial crescendo, inflação controlada, não há nada que justifique isso taxa de juros, nada que justifique esse pânico fiscal criado. Mas sabemos que tem muita gente especulando contra o Brasil, muita gente apostando contra o país e ganhando com o dólar”, disse Cappelli.
Além de criticar o controle do BC sobre o câmbio e as taxas de juros, Cappelli também destacou que para o país se tornar mais competitivo é preciso investir na qualificação dos órgãos reguladores para destravar investimentos que exijam essas autorizações. Ele apontou como exemplo desse desmantelamento o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), que atualmente conta com número insuficiente de funcionários para emitir licenças ambientais.
Como alternativa para esse segmento, ele destacou que a ABDI está construindo parcerias com diversos órgãos reguladores, que atualmente são 136 na estrutura federal, para otimizar essas estruturas além de investir na digitalização dos processos de licenciamento.
“Não é possível pensarmos em competitividade se tivermos uma estrutura regulatória que foi desmontada ao longo do tempo, que não tem recursos, que não tem capacidade de análise”, disse o presidente da ABDI.
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