Em reação à alta do dólar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou uma reunião para esta quarta-feira, no Palácio do Planalto, onde discutirá medidas para desacelerar o câmbio. Na sua avaliação, a alta da moeda americana não está ligada às suas críticas ao Banco Central, mas sim a um “jogo de juros especulativos contra o real”.
“Tenho conversado com as pessoas para ver o que vamos fazer. Volto na quarta e vou ter uma reunião. O que está acontecendo não é normal”, disse Lula, em entrevista à Rádio Sociedade, em Salvador. Quando questionada sobre as medidas que poderia adotar, ela desviou. “Tenho que fazer alguma coisa, mas não posso falar, porque estaria alertando meus adversários”.
Nas últimas semanas, Lula tem criticado insistentemente a política monetária e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a quem acusa de ter um viés político que prejudica o desenvolvimento econômico do país. O chefe da autoridade monetária rebateu o petista, enfatizando que as decisões do banco são técnicas e não políticas.
As declarações de Lula pressionaram o dólar, já influenciado pelo cenário externo. Nesta terça-feira, após novas críticas do presidente, a moeda chegou ao patamar de R$ 5,70, mas fechou a R$ 5,667 — alta de 0,20%.
“É um absurdo. Obviamente estou preocupado com essa alta do dólar. É especulação. Há um jogo de juros especulativos contra o real”, enfatizou. Ele disse não acreditar que a alta da moeda americana seja causada por suas declarações. E retomou os ataques a Campos Neto. “O que não se pode é ter alguém comandando o Banco Central com viés político. Definitivamente acho que ele tem viés político. seu mandato e nomear alguém”, destacou.
O presidente disse ainda ser a favor de um Banco Central independente, mas sublinhou que a autarquia “não pode estar ao serviço do sistema financeiro e do mercado”.
Operadores do mercado financeiro apontam que, no âmbito interno, os discursos de Lula causam instabilidade e medo entre os investidores. A preocupação é que o governo mantenha um nível elevado de gastos, sem o devido controle fiscal — apesar de todos os sinais concretos para a economia serem positivos.
Analistas apontam que, caso o dólar fique acima de R$ 5,50, o governo pode não atingir a meta de inflação para este ano, de até 4,5%. Segundo estimativa do economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, Eduardo Velho, esse valor poderá chegar a 5,5% com a valorização da moeda americana.
“O dólar dificilmente cairá abaixo desse patamar se Lula não parar de afirmar que terá um presidente no BC com perfil diferente de gestão de juros em 2025”, alertou a especialista ao Blog de Rosana Hessel.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a reunião desta quarta terá como foco o cumprimento da agenda fiscal e do enquadramento em 2024, 2025 e 2026. Ele reforçou a necessidade do governo – especialmente Lula – ajustar os sinais que dá aos investidores. Ele compartilha, porém, da estranheza do Chefe do Executivo em relação à alta do câmbio.
“Acredito que o melhor a fazer é acertar na comunicação, tanto em relação à autonomia do Banco Central como em relação ao quadro fiscal. Não vejo nada fora disso. É isso que vai tranquilizar as pessoas”, ele explicou. “O presidente está preocupado. Hoje (nesta terça), ele elogiou a Câmara, o fiscal, a autonomia do Banco Central, e é nesse sentido que discutiremos com ele amanhã (nesta quarta).”
Haddad negou a possibilidade de redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e disse que o governo foca na agenda fiscal.
Gustavo Franco
Ex-presidente do BC e um dos pais do Plano Real, Gustavo Franco destacou que as críticas de Lula a Campos Neto são “perda de tempo”. “Agora que o Presidente da República não pode demitir o chefe do Banco Central, parece que se sente encorajado a falar publicamente sobre este assunto. O que é uma perda de tempo”, disse ao Correio.
Franco lembrou que, em outros países que têm esse mesmo tipo de arranjo, “os presidentes se controlam porque não têm ganho”. “Depois de um tempo cansa, fica rouco, cria uma certa agitação no mercado de câmbio e, aí, o câmbio fica mais caro, muita gente ganha ou perde dinheiro, ou seja, a afirmação do presidente é irracional, sim.”
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