O furacão Beryl, o primeiro do que promete ser uma temporada extraordinária no Atlântico Norte, já surpreendeu os cientistas ao aumentar de intensidade tão rapidamente e tornar-se muito poderoso no início deste ano.
Apesar de quebrar vários recordes, também prova ser o exemplo perfeito do que os especialistas prevêem que será mais provável como resultado das alterações climáticas. Aqui estão as principais características deste furacão e a principal causa deles: um oceano muito mais quente que o normal.
– Formado longe das costas –
Beryl se formou na sexta (28) no sudeste das Antilhas e no sábado (29) já virou furacão de categoria 1.
A sua formação ocorreu “muito mais a leste do Atlântico do que é habitual nesta época do ano”, disse à AFP Andra Garner, climatologista da Universidade Rowan.
Este fenómeno está ligado, segundo ela, à atual temperatura do Oceano Atlântico, que não costuma ser suficientemente quente nestas zonas nesta altura do ano para permitir a formação de uma tempestade deste tipo.
“Nunca se formou um furacão tão a leste, tão cedo no ano”, acrescenta Brian McNoldy, pesquisador de furacões da Universidade de Miami, em seu blog.
– Intensificação rápida –
O furacão Beryl intensificou-se muito rapidamente, em menos de um dia, para se tornar um grande furacão de categoria 4.
“É difícil expressar em palavras o quão impressionante isso é”, diz Brian McNoldy.
Mas embora seja “surpreendente ver este fenómeno diante dos nossos olhos”, também está “em linha com o que a ciência nos diz que podemos esperar de um mundo mais quente”, diz Andra Garner, que publicou um estudo sobre este fenómeno cada vez mais intenso.
“Nos últimos 50 anos, descobrimos que os furacões têm agora duas vezes mais probabilidade de passar de uma tempestade relativamente fraca – categoria 1 ou inferior – para um grande furacão, categoria 3 ou superior, no espaço de 24 horas”, explica. “Foi isso que Beryl fez.”
– De repente mais poderoso –
Beryl foi para a categoria 4 no domingo (30), último dia de junho. Nunca antes um furacão desta categoria foi registrado neste mês.
Na segunda-feira (1º), atingiu a categoria 5, a mais alta, quebrando em duas semanas o recorde de furacões dessa categoria no início da temporada, segundo especialistas.
A temporada de furacões vai do início de junho ao final de novembro no Atlântico Norte. Mas de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), os primeiros grandes furacões (categoria 3 ou superior) geralmente começam a se formar no final de agosto ou início de setembro.
– O culpado: um Atlântico superaquecido –
A maior razão para o que vemos com Beryl é a temperatura da água do Oceano Atlântico, que está em níveis recordes há mais de um ano.
“Quando acordamos de manhã, tomamos uma xícara de café com cafeína para nos animar”, compara Andra Garner. “As águas quentes de um furacão são um pouco como a cafeína do nosso café, permitem que a tempestade continue e ganhe força”.
As águas do Atlântico Norte, bem como as do Caribe e do Golfo do México, estão atualmente entre 1°C e 3°C acima do normal, segundo a NOAA. As temperaturas de maio já se aproximavam das esperadas para agosto.
Portanto, embora Beryl seja “sem precedentes”, “não posso dizer que seja inesperado do ponto de vista científico”, sublinha o especialista.
“Sabemos que quando aquecemos o planeta e os oceanos, tornamos mais provável este tipo de eventos”, acrescenta, apontando para as emissões humanas de gases com efeito de estufa. “Beryl é quase exatamente o que esperamos do ponto de vista climatológico”.
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