Os organizadores da Stock Car denunciaram a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) pelo corte de 5 mil árvores nos últimos 22 anos, sem comprovação de compensações ambientais e florestais. A denúncia foi protocolada no Ministério Público Federal (MPF) e no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), nesta segunda-feira (7/08), depois que associações universitárias e de moradores entraram na Justiça alegando que a corrida e os preparativos para o evento prejudicar a fauna e a flora do entorno da instituição de ensino.
A denúncia apresentada pela Stock Car teve como base laudo pericial realizado pela Geoline Engenharia, assinado por nove peritos ambientais, três engenheiros ambientais, dois engenheiros florestais, um advogado especialista em direito ambiental, um engenheiro agrônomo, um geógrafo e um biólogo. Contém fotos tiradas com drones, fotos em solo, imagens do sistema Google, mapeamento GPS, medições específicas e outros levantamentos documentais.
Segundo o relatório, a área suprimida corresponde a 18 hectares, ou seja, 18 campos de futebol. Os responsáveis pelo levantamento identificaram que 1.592 árvores foram cortadas em três áreas do campus Pampulha, em Belo Horizonte. Neles, a UFMG teria que realizar o plantio compensatório de mais de 3 mil árvores, na proporção determinada pela lei municipal 4.253, de duas árvores plantadas para cada corte. Entretanto, o replantio não foi identificado no banco de dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
Somente na gestão da atual reitora Sandra Regina Goulart, que está no segundo mandato desde 2023, o relatório afirma que 968 árvores foram cortadas nessas condições. Em nota, a UFMG informou que ainda não foi comunicada oficialmente sobre a instalação de qualquer procedimento, e que, como instituição pública, “cumpre com suas obrigações e tem forte compromisso social, por isso permanece à disposição para prestar esclarecimentos sobre suas ações, sempre solicitadas pelas autoridades competentes”.
A universidade destacou que recebeu a notícia da representação feita pela Stock Car por meio da imprensa. Segundo a UFMG, a denúncia é uma forma de intimidar a instituição diante das ações por ela praticadas contra o evento esportivo e ressalta que não aceitará suposta coação. Em relação ao relatório de corte de árvores, a UFMG não respondeu, pois não possui informações sobre a origem e metodologia do suposto estudo utilizado para fundamentar esta estimativa.
Em nota, o MPF disse que a representação ainda está em fase de avaliação e registro nos sistemas e que é cedo para fornecer informações detalhadas sobre o caso. Um coordenador da área cível deverá distribuir a demanda a um dos advogados ambientais.
O MPF também ajuizou ação civil pública contra os organizadores da Stock Car para que sejam legalmente obrigados a comprovar o cumprimento dos limites máximos de ruído definidos pela legislação municipal de BH.
Plantio inadequado de outras espécies
No documento anexo à representação, os peritos afirmam ainda que o campus está localizado em uma área de vegetação de transição entre os biomas Mata Atlântica e Cerrado. Especialistas denunciam o plantio inadequado de espécies vegetais no campus da Pampulha. Em alguns locais, árvores pertencentes a espécies da Mata Atlântica foram derrubadas. Em vez disso, foram plantadas espécies exóticas, que não fazem parte do bioma onde a UFMG está localizada.
Para compensar os cortes de árvores feitos para criar uma drenagem canalizada em uma área próxima à Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO), o levantamento mostra que foram plantadas plantas exóticas como a Leucaena, árvore presente desde o Texas, no dos Estados Unidos, ao sul do Peru, na América do Sul.
Stock Car e corte de árvores
A ação tomada pelos organizadores do evento é resultado de outros processos que a UFMG levou à Justiça contra a realização do evento nas proximidades do Mineirão e da universidade. O corte de árvores na região e os danos que poderiam ocorrer à fauna e à flora da universidade devido ao barulho produzido pelos carros foram os motivos das ações.
Em março, duas liminares que suspendiam a retirada de árvores para abrir pistas para a corrida foram revogadas pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). A decisão foi proferida favoravelmente à PBH pelo presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, desembargador José Arthur de Carvalho Pereira Filho.
O executivo municipal retirou 63 árvores para permitir a realização do evento desportivo. Como parte das ações ambientais compensatórias, a PBH passou a plantar o mesmo número de árvores, com altura entre 2,5 e 6 metros. Entre as espécies escolhidas estão pau-ferro, oiti, sabaneiro, ipê-amarelo, sapucaia e ipê-branco.
Na ocasião, moradores da região e pessoas contrárias à testagem se manifestaram. Houve até replantio de espécies em frente ao Hospital Veterinário da UFMG. Anteriormente, os líderes se reuniram em uma roda de conversa com os participantes e decidiram que qualquer multa que recebessem seria compartilhada por todos em uma “arrecadação”.
Acordo de reparação ambiental
Após polêmicas envolvendo o corte de árvores para sediar a competição, o MPMG, os organizadores da Stock Car e a PBH assinaram, na última segunda-feira (1/7), um acordo para implementar medidas de proteção ambiental e urbana no entorno do Mineirão.
O termo estabelece que os organizadores arcarão com todas as despesas necessárias. A etapa, realizada no modelo ‘Circuito de Rua’, exigiu o corte de 55 árvores nas avenidas Rei Pelé, Carlos Luz e Coronel Oscar Paschoal para sediar, por cinco anos consecutivos, uma edição anual da prova.
Como compensação por danos ambientais, conforme relatado anteriormente pelo Estado de Minas, A expectativa é que os organizadores da Stock Car plantem dez vezes mais árvores, totalizando 688 novos plantios — embora ainda não tenham especificado onde e quando serão feitos.
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