Nos últimos cinco anos, o combate à obesidade foi revolucionado por substâncias à base do hormônio GLP1, que estimulam a saciedade e promovem a perda de até 15% do peso corporal. No entanto, um efeito colateral comum faz com que muitos pacientes abandonem o tratamento: as náuseas. Agora, pesquisadores do Centro Monell, nos Estados Unidos, identificaram um circuito cerebral envolvido na reação adversa, abrindo caminho para medicamentos que controlam a fome sem causar doenças.
Publicado na revista Nature, o estudo foi realizado em modelo animal e, segundo os autores, buscou entender se a saciedade desencadeada pelos análogos do GLP1 estaria diretamente ligada a vômitos e náuseas. “Esses dois efeitos colaterais são uma das barreiras ao tratamento medicamentoso da obesidade”, destaca Amber L. Alhadeff, cientista que participou da pesquisa. “Há dúvidas se são esses efeitos desagradáveis que provocam a perda de peso”, explica.
No formato injetável, os medicamentos que imitam a ação do GLP1 desencadeiam respostas neuroquímicas ao se associarem a receptores naturais encontrados no organismo. Com a epidemia global de obesidade — segundo a Organização Mundial da Saúde, uma em cada oito pessoas vive com o transtorno — são consideradas urgentes abordagens que promovam a perda de peso em pessoas com risco de doenças associadas ao excesso de peso, lembra Alhadeff.
Para saber se a saciedade causada pelos medicamentos é inerente às náuseas, a equipa concentrou-se em populações de neurónios associados tanto à sensação de “estar saciado” após uma refeição como naqueles que causam aversão alimentar devido às náuseas. O estudo mostrou que, em camundongos, as células relacionadas a esses processos são distintas.
Imagens de dois fótons de neurônios receptores de GLP1 em uma região do cérebro chamada rombencéfalo em camundongos vivos mostraram que a maioria dos neurônios individuais reage a estímulos nutritivos ou aversivos, mas não a ambos. Enquanto estes últimos são mais ativos em uma área, o postrema, os primeiros são ativados em outra parte, o núcleo do trato solitário. Isso significa que, pelo menos no modelo estudado, a perda da vontade de comer não se deve a náuseas.
Em seguida, os pesquisadores manipularam os dois grupos de neurônios separadamente para compreender seus efeitos no comportamento. Eles descobriram que a ativação celular no núcleo do trato solitário desencadeia saciedade, sem comportamento de aversão. A estimulação das células cerebrais na área postrema causa uma forte reação de aversão.
Alvo
“É importante ressaltar que os medicamentos para obesidade reduziram a ingestão de alimentos mesmo quando a via de aversão foi inibida”, diz Amber L. Alhadeff. “Essas descobertas surpreendentes destacam a população de neurônios no núcleo do trato solitário como um alvo para futuros medicamentos contra a obesidade, a fim de reduzir a ingestão de alimentos sem fazer com que os pacientes se sintam mal”.
Segundo a pesquisadora, o estudo abre caminho para o desenvolvimento de medicamentos contra a obesidade que ativam seletivamente células do trato solitário. Assim, potencialmente promoverão a perda de peso sem reações adversas. Na verdade, este é um conceito que, pelo menos em teoria, poderia ser aplicado a qualquer medicamento com efeitos secundários, afirma o artigo.
Embora náuseas e vômitos estejam listados como as reações adversas mais comuns dos análogos do GLP1, Penny Ward, médica farmacêutica e professora visitante do King’s College London, na Inglaterra, destaca que não devem ser subestimadas pelos pacientes. “Deve-se ter cuidado ao prescrever esses agentes para controle de peso e aqueles que desenvolverem dores abdominais com náuseas e vômitos devem procurar orientação médica”, afirma. Segundo Ward, um estudo norte-americano mostrou que alguns usuários desses medicamentos podem sofrer efeitos gástricos graves, incluindo pancreatite e doença biliar.
tarefa árdua
“Inicialmente desenvolvidos para o tratamento da diabetes tipo 2, descobriu-se que estes medicamentos análogos das GLP não só melhoram o controlo da glicemia, mas também causam perda de peso. No entanto, existem desvantagens associadas. Náuseas e vómitos são efeitos secundários comuns na fase inicial de uso do medicamento. Para algumas pessoas, a sensação constante de saciedade pode levar à repulsa alimentar e à incapacidade de saborear a comida, quase como se comer fosse uma tarefa árdua e não um prazer”,
Adam Collins, professor de nutrição na Universidade de Surrey, Reino Unido.
Gordura vegetal, menos risco de ataque cardíaco
A substituição de gorduras animais saturadas por gorduras insaturadas de origem vegetal afeta a composição dos lipídios, reduzindo o risco de doenças metabólicas e cardiovasculares. A conclusão é de um estudo publicado na revista Nature Medicine que mostrou que é possível medir com precisão os efeitos das mudanças na dieta e associá-las diretamente a uma menor chance de desenvolver diabetes 2 e problemas cardíacos.
“O nosso estudo confirma com ainda maior certeza os benefícios para a saúde de uma dieta rica em gorduras vegetais insaturadas, como a mediterrânica, e pode ajudar a fornecer conselhos dietéticos direcionados àqueles que mais beneficiariam com a mudança dos seus hábitos alimentares”, disse ele, num comunicado. nota, Clemens Wittenbecher, líder de pesquisa e cientista da Chalmers University of Technology, na Suécia. Cientistas do Instituto Alemão de Nutrição Humana, na Alemanha, também participaram do trabalho.
Na pesquisa, os autores examinaram mais de perto as gorduras do sangue, também conhecidas como lipídios, com um método chamado lipidômica. Estas medições muito detalhadas permitiram relacionar dieta e doença numa combinação de diferentes tipos de estudos. A nova abordagem combina artigos de intervenção dietética (que utilizam dietas altamente controladas) com artigos epidemiológicos, que acompanham os participantes a longo prazo.
Moléculas
A avaliação incluiu um estudo da Universidade de Reading, no Reino Unido, em que 113 pessoas foram divididas em grupos: metade consumia uma dieta rica em gorduras animais saturadas, enquanto o restante seguia uma dieta baseada em gorduras vegetais insaturadas. Amostras de sangue foram analisadas usando lipidômica para identificar moléculas lipídicas específicas que refletem diferentes regimes alimentares.
Pessoas que consumiram gordura vegetal tiveram um perfil de gordura no sangue mais saudável. Os resultados foram estatisticamente relacionados à ocorrência de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2 em grandes estudos observacionais. A análise mostrou que indivíduos com composição lipídica considerada benéfica tiveram risco substancialmente reduzido de desenvolver doenças cardiometabólicas.
Fernando Barreto, cardiologista e diretor médico da São Cristóvão Saúde, explica que existem dois tipos de gordura no sangue: HDL e LDL. Ambos funcionam para permitir que o colesterol se mova pela corrente sanguínea, mas em excesso, o segundo pode se depositar nas paredes, obstruindo os vasos e podendo levar ao infarto do miocárdio.
“As gorduras saturadas e trans, presentes em embutidos e em alguns alimentos industrializados, aumentam o ‘colesterol ruim’”, destaca Barreto. “Por outro lado, as gorduras vegetais, como azeite extra-virgem, frutas, vegetais, legumes e cereais ajudam a controlar o colesterol”.
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