O nome Yara Tupynambá tornou-se, ao longo de seus 92 anos e oito décadas de carreira, sinônimo da excelência mineira nas artes plásticas produzidas no Brasil. Natural de Montes Claros, o pintor, gravador, desenhista, muralista e professor já expôs em diversas cidades do país e do exterior. Agora, parte de sua obra pode ser vista no Palácio da Liberdade, também símbolo do estado, em diálogo com o programa “Afromineiridades”, da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais.
“A valorização e o resgate da nossa cultura”
A exposição “A valorização e o resgate da nossa cultura”, com curadoria da Fundação Clóvis Salgado, de Leônidas Oliveira (Secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais) e David Faria (vice-presidente do Instituto & Memorial Yara Tupynambá), promove uma homenagem à tradição do congado em Minas Gerais, apresentando mais de dez obras da série “Catopês”, feitas pela artista a partir da tradição de sua cidade natal.
“Catopos”
Os “catopês” homenageiam o negro na formação do povo brasileiro, recriando e reavivando a memória e o imaginário congadeiro. Amostra “Valorizando e resgatando nossa cultura” estreia dia 17/07 (quarta-feira)às 18h, e pode ser visitado entre 18/07 (quinta-feira) e 25/08 (domingo), grátis. A classificação é gratuita, e o Palácio da Liberdade está aberto à visitação de quarta a sexta-feira, das 12h00 às 17h00, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h00 às 17h00.
Yara Tupynambá
Nascido em 1932, Yara Tupynambá Iniciou seus estudos artísticos com o pioneiro Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), em 1950, em Belo Horizonte. O artista é conhecido mundialmente e já recebeu inúmeros prêmios, além de ter mais de 315 painéis e murais espalhados por inúmeras cidades brasileiras e obras expostas em capitais internacionais.
Estudante, professora e diretora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Yara dedicou-se simultaneamente à gravura, principalmente em madeira, preferindo o preto e o branco à gama de cores.
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Seus murais retratam acontecimentos históricos mineiros e passagens religiosas. Nas telas acrílicas e mistas, as pinturas apresentam congados, cavalhadas e violeiros, temas relativos à sua adolescência e viagens pelo interior de Minas Gerais.
Congados de Minas Gerais
Os congados mineiros surgiram no contexto da escravidão no Brasil como um espaço de festa, onde os escravizados podiam se reunir e revitalizar seus valores culturais, demonstrando seu desejo de liberdade. Quanto mais crescia a sociedade mineira, mais notável era a miscigenação de crenças e povos em seu seio. Apesar da presença de grupos dispersos no Brasil, é na região Sudeste que se concentra o maior número de congados, especialmente em Minas Gerais.
Identidade e resistência
Na memória dos congadeiros dos mais diversos grupos do estado, a tradição do congado chegou a Minas Gerais através de Chico Rei, monarca africano que foi trazido para o Brasil no século XVIII. Em Vila Rica (atual Ouro Preto), onde morava, conseguiu comprar sua liberdade e, através da exploração de uma mina já desativada, acabou encontrando ouro, enriquecendo e comprando a liberdade dos demais negros mantidos em cativeiro. a região.
Em 1747, o rei escravizado, grande devoto de Nossa Senhora do Rosário, organizou a primeira festa em homenagem ao santo que o ajudou a realizar seu sonho de liberdade, com uma rica procissão e uma farta mesa. A forma de gratidão se espalhou entre os escravizados e continua presente nas comunidades afro-brasileiras até hoje.
Uma forte expressão cultural
O congado tornou-se uma das mais fortes expressões das manifestações culturais e religiosas do povo negro. Em muitas localidades surgiram grupos autônomos, completamente alheios às irmandades leigas, mas ligados à fé em Nossa Senhora do Rosário e em outros santos do panteão católico-cristão associados às ajudas recebidas pelos seus antepassados durante o período da escravidão. Como expressão litúrgica celebratória travestida de catolicismo, o congado possibilitou recriar o universo simbólico desse povo, por meio da expressão corporal, cantos e danças acompanhadas de sons de instrumentos de origem africana como tambores, maracás e caxixis, de fabricação própria. .
Congado, Yara Tupynambá e o Palácio da Liberdade
Em reverência ao congado mineiro, como grupo social relevante na história política, social e cultural de Minas, a exposição no Palácio da Liberdade consolida a valorização da memória artística e cultural e do conhecimento popular do estado.
Segundo Uiara Azevedo, Gerente de Artes Visuais da Fundação Clóvis Salgado, a iniciativa reforça a necessidade de preservação do patrimônio material e imaterial que constitui a identidade e formação cultural da população mineira.
“Desde que o Palácio da Liberdade foi aberto à visitação pública e se tornou também um espaço expositivo, tem sido preocupação da Fundação Clóvis Salgado promover o diálogo entre este edifício histórico e as manifestações artístico-culturais do estado, principalmente aquelas oriundas da cultura popular , tanto em termos de autores quanto de temas. É sobretudo uma forma de mostrar às pessoas que um edifício há muito visto como inacessível pode albergar e dar visibilidade a múltiplas atividades artísticas, que dialogam com as experiências das tradições e crenças locais. Isto, aliado à honra de poder receber as obras de um grande artista como Yara Tupynambánome incontornável da arte brasileira, faz desta exposição um encontro feliz que celebra as múltiplas heranças culturais de Minas Gerais”, destaca Uiara.
O berço das tradições e talentos
O congado envolve um ritual composto por oito irmãos: Candombe, Moçambique, Congo, Caboclo, Marinheiro, os Catopês, Vilão e os Cavaleiros de Jorge. Cada um desses grupos contém seus próprios elementos e rituais. O Norte de Minas Gerais é palco de um dos movimentos socioculturais mais antigos do estado, com grupos populares de congados demonstrando ancestralidade e devotando sua fé, e cujos saberes e práticas populares, como a cidade de Montes Claros, remontam ao início do século XIX. século XIX. .
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No caso de Yara Tupynambá, as obras sobre congado criadas pela artista, e que estarão na exposição, são dos anos de 1976 a 1978. São obras sobre tela e papel, criadas com diferentes técnicas. “Ninguém registrou essas manifestações do Norte de Minas Gerais com tanta propriedade e amor como Yara Tupynambá, pois ela as vivencia desde a mais tenra infância, o que também coloca a artista como patrimônio imaterial da cultura popular nas artes visuais” , destaca o presidente do Instituto & Memorial Yara Tupynambá, Geraldo Porfírio da Silva, genro da artista que a acompanha há mais de 50 anos. “Como Yara ilustrou muito bem, nossos Catopês, Marujos e Caboclinhos representam ancestralidade e sincretismo religioso no norte de Minas. Yara sempre manifestou o desejo de destacar a tradição do nosso povo e devemos a ela registros importantes de resgate da nossa cultura”, completa.
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