A Câmara dos Deputados aprovou, em primeiro turno, a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Anistia, que pode ser a quarta da história. Os partidos elaboram um texto que visa conceder autoindulto aos partidos que cometeram infrações eleitorais como o descumprimento de cotas para mulheres e negros. Legendas que vão do PT ao PL apoiam a medida – organizações da sociedade civil seria “irresponsabilidade inaceitável” do Congresso Nacional aprovar a PEC.
A votação ocorreu nesta quinta-feira, 11, após sucessivos recuos da Câmara, temerosa dos danos à imagem que a proposta causaria aos parlamentares. O relatório final sequer foi votado em comissão especial, etapa anterior à votação em plenário. No último episódio, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), disse que só votaria a matéria com o apoio de todos os partidos. O PT discordou de temas do texto.
Segundo dirigentes, a votação só aconteceria com a aprovação de que o Senado tramitaria a proposta. Dizem que o consentimento já foi dado e a proposta continuará a ser discutida na Câmara.
Após 344 votos a favor, 89 votos contra e quatro abstenções, a votação agora irá para o segundo turno e depois seguirá para o Senado. Para isso, a PEC deverá contar com o apoio de pelo menos 308 deputados.
Apenas PSOL e Novo votaram contra a PEC. “A autoanistia não é defensável, não é adequada e desmoraliza o instituto político-partidário”, disse Chico Alencar (PSOL-RJ). “Isso tira a credibilidade, que já não é muito grande, das organizações partidárias. É indefensável”.
“O que estamos fazendo aqui é uma anistia ampla e irrestrita para os partidos que descumprirem a lei”, afirmou Adriana Ventura (Novo-SP). “Os partidos recebem bilhões, fazem as leis, não cumprem as leis e deixam que o povo pague”.
Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo38 organizações ligadas à transparência e à garantia dos direitos eleitorais divulgaram nota pública na manhã desta quinta-feira, 11.
Eles ressaltam que a PEC, entre outras coisas, representa um estímulo à inadimplência e possibilita que os partidos paguem dívidas com recursos de “origem não identificada”, que poderia ser um “caixa dois”.
“Dessa forma, estaria autorizado a utilizar recursos públicos inclusive para cumprir sanções para recebimento de recursos privados de origem não identificada, uma das formas do chamado ‘caixa dois’”, criticam as entidades.
O relator da PEC, Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP), protocolou uma nova versão do texto pouco antes da votação. Oficialmente, é o sexto; no rascunho, havia mais de uma dúzia de versões.
Esta amnistia estabelece um prazo até 15 anos para o pagamento de multas eleitorais, cinco anos para obrigações de segurança social e visa anular todas as sanções fiscais aplicadas aos partidos políticos, apontam organizações ligadas à transparência partidária.
Se o texto atual for aprovado, serão anuladas quaisquer sanções (mesmo as decorrentes de processos administrativos e judiciais já transitados em julgado) com duração superior a cinco anos.
Isto significa que as partes podem livrar-se das sanções fiscais simplesmente ignorando a dívida durante mais de cinco anos.
A bancada negra trabalhou para alterar o texto e, para amenizar a repercussão negativa da anistia, Rodrigues incorporou ao texto a obrigação de aplicar o dinheiro que deixou de ser aplicado na cota racial nas eleições anteriores para as próximas quatro eleições subsequentes, até 2032.
Mesmo esta mudança preocupa os especialistas em transparência. “Nossa preocupação é que não será possível mensurar o cumprimento dessa obrigação até 2033. Foi estabelecida uma anistia temporária”, disse Guilherme France, gerente de conhecimento anticorrupção da Transparência Internacional Brasil. “Com o histórico de anistias já concedidas, não há dúvida sobre o risco de que esta anistia em particular se torne permanente antes de 2033”.
O texto da proposta garante valor mínimo de 30% do repasse de recursos para candidaturas de pessoas pretas ou pardas.
A expectativa é que a PEC seja aprovada pelo Congresso Nacional antes das eleições deste ano, já que o texto visa aplicar as novas regras ao pleito de outubro.
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