A Diretoria de Execução Orçamentária (JEO) deverá bater o martelo, hoje, em reunião no Palácio do Planalto, sobre o tamanho da contingência necessária para cumprir a meta fiscal deste ano. Em março, o governo anunciou um bloqueio de R$ 2,9 bilhões no Orçamento deste ano. A expectativa agora é que o valor do novo bloco de gastos precise ser muito maior para que o mercado se convença de que a equipe econômica está verdadeiramente empenhada na busca do equilíbrio fiscal.
A meta fiscal deste ano permite um rombo de até 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB), algo próximo de R$ 29 bilhões. Para 2025, o governo previu um superávit primário (poupança para pagar os juros da dívida pública) de 0,5% do PIB, mas reduziu o esforço fiscal para um déficit de até 0,25%. Zerar o déficit primário nas contas públicas este ano, conforme definido na meta fiscal, será uma missão impossível para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segundo especialistas ouvidos pelo Correspondência.
Na agenda do ministro hoje estão duas reuniões com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma pela manhã, às 9h30, e outra à tarde, às 15h30. A expectativa é que o chefe do Executivo bata o martelo com Haddad sobre o tamanho do corte que será anunciado pela equipe econômica na próxima semana.
Segundo analistas, para manter o resultado primário dentro da faixa de tolerância da meta fiscal, seria necessário cortar pelo menos o dobro dos R$ 10 bilhões que estão sendo discutidos como possível corte pela Esplanada dos Ministérios. Este valor é muito baixo comparado com as estimativas de mercado para o défice fiscal deste ano. A Instituição Fiscal Independente (IFI), por exemplo, prevê saldo negativo de 0,7% do PIB, ou R$ 75 bilhões.
O especialista em contas públicas Manoel Pires, coordenador do Núcleo de Política Fiscal e Orçamento Público do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), calcula que, para o resultado primário ficar dentro do limite de R$ 29 bilhões de déficit fiscal , o corte orçamentário precisaria ficar entre R$ 20 bilhões e R$ 25 bilhões.
Portanto, para o governo reservar R$ 10 bilhões este ano, será necessário adotar medidas contábeis e combater fraudes em benefícios sociais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Bolsa Família. Haddad já disse que aumentará a previsão de crescimento do PIB deste ano, atualmente em 2,5%. Resta saber até que ponto será essa estimativa, pois, no cenário otimista da IFI, com o PIB aumentando 3,3%, o governo ainda fechará 2024 no vermelho.
“O governo tentará uma revisão em alta do PIB e este aumento projetado na receita, bem como a antecipação de algumas medidas de revisão de gastos, poderá tornar a contingência menor”, afirmou Pires. Ele lembrou que, se o governo fosse obrigado a incluir despesas como precatórios e auxílios da União ao Rio Grande do Sul em sua meta fiscal, o déficit deste ano seria ainda maior —e o corte precisaria ficar entre R$ 45 bilhões e R$ $ 50. bilhão. Segundo Manoel Pires, que também dirige o Observatório de Política Fiscal do FGV Ibre, não há chance de o governo conseguir fechar o déficit primário neste ano.
A especialista em contas públicas Vilma Pinto, diretora da IFI, reforçou que um corte de R$ 10 bilhões no Orçamento será insuficiente para atingir o déficit zero. “Mas se isso será suficiente ou não, dependerá em grande parte dos pressupostos do governo. Se olharmos para os pressupostos da IFI, o nosso cenário hoje é de um défice de 0,7% do PIB, no setor público consolidado”, destacou.
Cenário otimista
“Pelo que observamos, desde a avaliação do primeiro bimestre, o governo adotou essa postura de fazer pequenos blocos no Orçamento para atualizar essa contingência ao longo do tempo”, observou o diretor da IFI. “Portanto, é difícil avaliar”, acrescentou ela.
Vilma Pinto lembrou ainda que o cenário do governo para a actividade económica já era mais optimista que o da IFI. No cenário base, a instituição elevou a estimativa de aumento do PIB deste ano de 1,9% para 2,2%. “Todos esses fatores influenciam o quanto ficará contingencial ou não no Orçamento deste ano”, afirmou.
O JEO é formado por três ministros da área econômica e um do Planalto. Além de Haddad e do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, o colegiado inclui os ministros do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e da Gestão e Inovação nos Serviços Públicos, Esther Dweck.
Segundo fonte do Esplanada, o número do novo corte orçamental que será divulgado no dia 22, com o relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas, será “o que precisa ser” e a decisão “será técnica e não política”. .
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