No centro da investigação que apura o uso da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionagem ilegal, o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) publicaram um vídeo nas redes sociais convocando apoiadores para eventos públicos em que eles comparecerão, nos próximos dias. O parlamentar, porém, prestou depoimento ontem à Polícia Federal — na Zona Portuária da capital fluminense — para se explicar sobre a chamada “Abin paralela”.
As agendas públicas tentam mobilizar o ativismo bolsonarista num momento em que o ex-presidente e um de seus principais colaboradores estão na mira de investigações que podem complicar ainda mais o futuro de ambos. No dia 4 de julho, a PF indiciou Bolsonaro no caso das joias sauditas e, com a gravação da reunião para tratar do tema das “rachaduras” envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o coloca no centro da investigação sobre o uso de instituições do Estado para arquivar a investigação que vinha sendo realizada pela Receita Federal contra o filho 01.
Já Ramagem corria o risco de ser afastado pelo clã Bolsonaro da disputa para prefeito do Rio de Janeiro, pois teria gravado o encontro sobre as “rachadinhas” sem o consentimento do ex-presidente. Nas últimas horas circularam rumores de que ele poderia ser substituído pelo deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, na disputa pelo Palácio da Cidade.
“Fale da cidade e dê força aos perseguidos. Sua presença é fundamental”, escreveu Flávio Bolsonaro (PL-RJ), ao divulgar o vídeo e os diários de seu pai e de Ramagem.
Na gravação, o ex-presidente reiterou apoio à candidatura de Ramagem à capital fluminense. A manutenção do apoio é vista como uma vitória de Flávio, principal coordenador da campanha do ex-diretor da Abin. Faltando apenas três meses para as eleições municipais, o atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), aparece com 53% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Ramagem tem 9%. Bolsonaro disse, na gravação, que os acontecimentos no Rio servirão para discutir os problemas da cidade. O ex-presidente deve chegar hoje ao Rio para eventos na Barra da Tijuca (Zona Oeste do Rio) e em Duque de Caixas, na Baixada Fluminense. Bolsonaro e Ramagem estarão, amanhã, em Campo Grande (Zona Norte da capital), Itaguaí (na Grande Rio) e Angra dos Reis, e, no sábado, em Niterói (também Grande Rio).
Na próxima segunda-feira, o PL oficializará a candidatura de Ramagem a prefeito. O ex-presidente não deverá ir à convenção, pois, segundo ele, tem compromissos em Brasília.
Depoimento
Apesar de ter superado o desconforto causado pela gravação da reunião das “rachadinhas” — que, segundo ele, foi autorizada pelo ex-presidente — Ramagem prestou depoimento à PF por causa de sua atuação à frente da Abin. Ele nega as acusações de ter colocado a agência de inteligência a serviço do clã Bolsonaro para perseguir e espionar opositores da família e do governo do ex-presidente.
Uma das perguntas feitas a Ramagem diz respeito a um encontro entre ele e o atual diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa, que teria ocorrido no ano passado. Além disso, foi questionado sobre a reunião que teve como tema a investigação, da Receita Federal, das “rachadinhas” envolvendo Flávio Bolsonaro.
A PF descobriu que autoridades dos Três Poderes, advogados e jornalistas foram espionados durante vários meses pela chamada “Abin paralela”. O monitoramento ilegal ocorreu principalmente através do sistema First Mile, de origem israelense e que foi adquirido pelo governo brasileiro alegando a necessidade de utilizá-lo em investigações.
O esquema de espionagem contou com a participação de integrantes da PF lotados na Abin, que inclusive integraram o chamado “gabinete do ódio” —esquema de disseminação de mentiras e desinformação que teria funcionado dentro do Palácio do Planalto e estaria subordinado ao vereador. O carioca Carlos Bolsonaro, 2º filho do ex-presidente. A perspectiva dos investigadores é que as investigações sejam concluídas em até 60 dias.
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