A vida das marcas francesas no mercado brasileiro nunca foi fácil. Mesmo tendo produtos de qualidade, sempre foram vistos com certa desconfiança e desvalorização. Citroën e Peugeot foram certamente as marcas francesas que mais sofreram com esse tipo de preconceito por parte do consumidor brasileiro. A Renault teve mais sorte e conseguiu transmitir mais credibilidade desde que instalou sua fábrica no Brasil. Mas ao passarem a fazer parte do grupo Stellantis, a Citroën e a Peugeot ganharam um novo impulso, com promessas de um futuro promissor. Mas os resultados positivos já estão sendo computados? O consumidor brasileiro já mudou a forma como pensa sobre as marcas francesas?
Pensando nessas questões, os jornalistas Enio Greco e Alexandre Carneiro conduzem o Estúdio VRUM desta semana, que trata da situação da Citroën e da Peugeot no mercado brasileiro após serem adquiridas pelo grupo Stellantis. A história das duas marcas no Brasil não foi das mais positivas, mesmo tendo uma fábrica localizada em Porto Real, no Rio de Janeiro.
Pelo número de registos no mercado nacional, em dezembro de 2019, antes da pandemia de COVID-19 e da fundação do grupo Stellantis, a participação da Citroën e da Peugeot era muito tímida. No segmento automobilístico, as marcas francesas nem apareciam no top 10, enquanto entre os comerciais leves, a Peugeot tinha participação de 0,87%, segundo a Fenabrave.
Participação tímida
Na soma dos segmentos automóvel e comercial ligeiro, em dezembro de 2019, a Citroën encerrou o ano com uma quota de 1% e a Peugeot, 0,81%. No ranking dos 50 carros mais vendidos, o Citroën C4 Cactus apareceu na 38ª posição, com 16.438 unidades, e na 49ª posição o Peugeot 2008, com 8.693 unidades. As duas marcas também participaram com modelos do segmento comercial leve: Citroën Jumpy (1.984), Berlingo (626) e Jumper (169); e Peugeot Expert (2.306) e Boxer (222).
Mas em janeiro de 2021 foi fundado o Grupo Stellantis, que hoje detém as marcas dos grupos FCA e PSA, reunindo Fiat, Jeep, Chrysler, Ram, Citroën e Peugeot, entre outros. Na ocasião, foram anunciados futuros lançamentos de marcas francesas, além da chegada de modelos elétricos e híbridos. De lá para cá, muita coisa mudou na história da Citroën e da Peugeot no mercado brasileiro, com a chegada de novos produtos e desempenho de vendas um pouco melhor.
Nos primeiros seis meses deste ano, a Citroën registou uma quota de 1,58% nos segmentos combinados de automóveis e comerciais ligeiros, enquanto a Peugeot teve 1,29%. O modelo mais vendido das marcas francesas no primeiro semestre de 2024 foi o Citroën C3, com 10.131 unidades, seguido do Peugeot 208, com 9.871 unidades. Depois aparecem o Citroën C3 Aircross e o Jumpy, com apenas 654 unidades cadastradas.
Os números são um pouco melhores em relação aos de 2019, mas ainda muito aquém do que Citroën e Peugeot conseguem alcançar no mercado brasileiro. Com produtos melhores e redes de concessionárias modernizadas, as marcas francesas ainda não conseguiram decolar sob o domínio do grupo Stellantis. Suas participações de mercado ainda são tímidas, atrás das marcas chinesas, que chegaram posteriormente ao mercado brasileiro.
Prova que é preciso investir ainda mais na imagem da Citroën e da Peugeot para vencer as resistências que muitos consumidores insistem em manter. Alguns reclamam dos valores de revenda dos modelos de marcas francesas, que sofrem maior desvalorização no mercado, enquanto outros apontam o alto custo de manutenção como um ponto fraco.
O que falta para o grupo Stellantis impulsionar mais uma vez a Citroën e a Peugeot no mercado brasileiro? O problema é dos produtos ou do pós-venda? Ou é simplesmente um impasse do passado que insiste em pesar contra as marcas francesas? Estas são questões que certamente percorrem a mente dos executivos da Stellantis.
Cada vez mais, os modelos da Citroën e da Peugeot partilham plataformas, motores e outros componentes com os automóveis da Fiat, líder de mercado em automóveis e veículos comerciais ligeiros. Portanto, se forem produtos similares, teoricamente não há motivos para os consumidores desconfiarem dos franceses.
Mas a expectativa é que as coisas melhorem com a chegada do novo Peugeot 2008, no início de agosto, do novo SUV cupê compacto Citroën Basalt e da linha 2025 C3, que deve trazer, entre outras novidades, o motor T200 da Fiat. Tais lançamentos deverão ajudar a Citroën e a Peugeot a alcançar melhores números no mercado brasileiro.
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