primeiro nacional turbinado faz 30 anos

Fevereiro de 1994: a seleção brasileira ainda não havia conquistado o quarto título, os Mamonas Assassinas nem haviam gravado a primeira fita demo e a moeda em circulação era o Cruzeiro. No setor automobilístico, os modelos importados, que começavam a chegar em grande quantidade ao país, faziam furor no mercado. A indústria nacional, por sua vez, respondeu com uma série de novidades: uma delas foi o Fiat Uno Turbo, lançado justamente naquele mês.

O hatch esportivo não era, entretanto, qualquer nova versão. Sob o capô, tinha o primeiro motor turbo de fábrica do país. No caso, um 1.4 que, além de sobrealimentado, contava com injeção eletrônica (ainda item raro na época) e desenvolvia 118 cv de potência e 24,5 kgfm de torque. Assista ao vídeo com o Fiat Uno Turbo!

Hoje em dia esses números podem parecer discretos, mas em 1994 não eram: então, alguns veículos 2.0 mal chegavam aos 100 cv. Até o momento, a configuração Turbo é a mais potente e com o maior torque da história da linha Fiat Uno, incluindo a segunda geração, lançada em 2010.

Além dos valores saudáveis ​​de potência e torque, o Fiat Uno Turbo era leve. E muito: não ultrapassou os 975kg. Assim, as relações peso/potência e peso/torque, de 8,3kg/vc e 39,8kg/kgfm, respectivamente, permanecem respeitáveis ​​até hoje.

A imprensa logo confirmou o efeito prático dessa combinação entre motor turbo e baixo peso: revistas especializadas da época noticiavam uma aceleração de zero a 100 na casa dos 9 segundos – a melhor entre os carros nacionais da época -, além de máxima de pouco mais de 190km/h – o que colocou o Fiat Uno turbo entre os carros mais rápidos do mercado.

Fiat Uno Turbo teve visual e interior exclusivos

Na Itália, a Fiat havia lançado a versão Turbo do Fiat Uno em 1985. Inicialmente, o motor era 1.3, mas a cilindrada foi aumentada para 1.4 em 1989. O motor, na verdade, foi importado de lá. A transmissão, manual de cinco marchas, também era específica.

A direção, mais direta que a das outras versões, sempre contou com assistência hidráulica. Um sistema de freios com discos e tambores de maior diâmetro veio do Tempra (que, aliás, também ganhou uma versão Turbo em 1994) e não contava com a assistência eletrônica do ABS. Por fim, o conjunto de suspensão recebeu uma calibragem mais firme, para permitir maior estabilidade nas curvas.

Talvez para compensar a demora no lançamento do Uno Turbo por aqui, a Fiat deu um visual mais ousado ao modelo nacional. Ó kit de corpo incluía pára-choques redesenhados, arcos de pára-lama, spoilers laterais e traseiros, grade dianteira exclusiva e rodas de 14 polegadas com corte de diamante. Faróis fumê e escapamento esportivo completavam o pacote de estilo.

A Fiat também cuidou do interior do Uno Turbo. O carro esportivo tinha bancos com abas pronunciadas e apoios de cabeça ocos. O estofamento de veludo combina com os cincos de segurança vermelhos. O painel exibia instrumentação analógica completa, com manômetro do turboalimentador em posição central. Claro que não falta volante esportivo, de três raios.

No porta-malas, uma surpresa: apenas na versão Turbo, o estepe ficava ali fixado, protegido por uma capa de carpete, enquanto, nas demais versões do Fiat Uno de primeira geração, esse componente ficava posicionado sob o capô. Com isso, a capacidade do porta-malas caiu de 290 litros para 207 litros.

Fiat Uno Turbo é uma verdadeira raridade

A carreira do Fiat Uno Turbo foi curta: a produção, iniciada em 1994, foi encerrada em 1996. Naquele ano, apareceu no mercado o primeiro Palio, que empurrou o antigo hatchback para o papel de carro de entrada. E a versão esportiva era cara: em outubro de 1994, após a chegada do Plano Real, o preço era de R$ 22.493 Reais. Corrigido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), esse valor equivaleria hoje a R$ 249.185.

Em pouco mais de dois anos, foram fabricadas apenas 1.801 unidades do Fiat Uno turbo. Bruno Germano Diniz, dono de um dos exemplares que aparece neste artigo, estima que, desse total já pequeno, o número de veículos sobreviventes não passe de 500.

Vale lembrar que, de acordo com a legislação brasileira, veículos com mais de 30 anos podem receber placa preta, destinada a modelos de colecionador. Hoje já existem unidades do Fiat Uno Turbo à venda no mercado de carros antigos. Veículos em bom estado podem atingir preços entre R$ 50 mil e R$ 60 mil.

Como é andar de carro esportivo?

A experiência de dirigir um Fiat Uno Turbo é, ainda hoje, emocionante. A posição de condução bastante ergonómica, típica da primeira geração do modelo, deixa imediatamente o condutor à vontade. A grande área envidraçada é de inveja aos carros atuais.

A caixa de câmbio engata fácil e suavemente, mas o pedal da embreagem é um pouco pesado. Ao tirar o carro da inércia, o motorista não percebe nenhum desempenho excepcional. Isso ocorre porque o motor tem um atraso acentuado, característico dos veículos turbo do século passado. O 1.4 só acorda depois das 3.000 rpm, quando o turbocompressor liga forte.

A partir desta faixa de viragem, o desportivo mostra de onde veio e salta para a frente, empurrando os ocupantes para trás. No painel, você pode ver a agulha do medidor de pressão do turbo movendo-se rapidamente para a direita, enquanto a agulha do conta-rotações envolve o mostrador. A direção e a suspensão são confiantes, mantendo o carro firme no caminho certo. Nada mal!

É preciso ter cuidado para não exagerar na dose. Afinal, esse repórter estava ao volante de um veículo particular, em via pública. Depois de algumas passadas, um toque no freio mostra que o Fiat Uno Turbo também se comporta bem nas paradas. O contato rápido, de poucos quilômetros, me deixou querendo mais e destacou porque o esportivo foi tão importante na história da indústria nacional.

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