A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), em ação que fez parte da operação “Lavagem Perfeita”, apreendeu cerca de 50 toneladas de sabão em pó falsificado em Igarapé, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em julho deste ano. Com diversos relatos de casos semelhantes no estado realizados por EMconsultamos especialistas para explicar como ocorre a análise do produto e se é possível que o próprio consumidor identifique a imitação.
Luiz Otávio Teixeira, coordenador da Divisão de Fiscalização de Relações de Consumo do Procon, explica que “não é possível precisar com exatidão, mas sim prestar mais atenção ao assunto e tomar precauções”. Ele diz que algumas pistas podem ajudar na identificação.
“As caixas não são reutilizadas na falsificação, é feita uma nova. Dessa forma, são colocados o lote e o prazo de validade, ou seja, os dados podem ser consultados pelo fabricante para dizer se corresponde ou não ao original.”
Além disso, também é importante ficar atento à qualidade da embalagem, “o original é de qualidade superior, se você passar o dedo dá para ver a resina ali. No adulterado, parece mais papelão com um simples plástico cobrindo.” Ele afirma ainda que a qualidade e o desempenho do produto também costumam ser bem inferiores porque os componentes não são iguais.
“Se o consumidor tiver informação de que o produto é falsificado, poderá retornar ao estabelecimento e solicitar [de volta] o valor que você pagou. Se houver algum dano, como perda de roupas ou alergias, você também pode solicitar indenização ao comerciante. O mercado precisa estar mais atento que o consumidor e o consumidor deve ter sempre em mãos a nota fiscal do produto”, destaca.
Então, como a falsificação pode ser percebida?
O professor do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marcelo Martins e a pós-doutoranda Ana Carolina Fulgêncio reafirmam a dificuldade de perceber o produto a olho nu, sem auxílio de análises laboratoriais, mas explicam que seu grupo A equipe de pesquisa desenvolveu um método simples, direto e rápido para detectar sabão em pó falsificado por meio da absorção de luz por amostras da marca escolhida. Dessa forma, são obtidas “impressões digitais” de sua composição química.
O equipamento de análise utilizado, adquirido com financiamento da Fundação Mineira de Amparo à Pesquisa (Fapemig), é portátil e, segundo Ana Carolina, pode até ser levado até o local do incidente, dispensando a necessidade de laboratório.
O método utiliza 160 amostras representativas divididas em três tipos: autênticas (da marca escolhida); amostras apreendidas pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e amostras de marcas concorrentes com preços mais baixos.
Em seguida, são utilizados métodos de inteligência artificial para diferenciar as amostras através de suas informações químicas, as “digitais”. Concluiu-se, diz Marcelo, “que a falsificação é feita através de marcas mais baratas de sabão em pó e também de detergentes industriais não disponíveis no varejo, de qualidade inferior, que são embalados como se fossem a marca analisada”.
Afirmam ainda que seria possível desenvolver um sensor específico para essa análise em estabelecimentos comerciais ou mesmo pelo próprio consumidor, para verificar a autenticidade do produto, mas que seria necessária uma empresa para fazer isso.
Em nota, a Unilever, fabricante de uma das principais marcas de fraude, também indicou os seguintes sinais que podem ajudar os consumidores a identificar casos suspeitos:
- A qualidade do fechamento do cartucho;
- Cor, brilho e impressão: as embalagens produzidas na fábrica passam por controles que garantem o recebimento dos materiais conforme padrão definido, não sendo esperada variação significativa entre embalagens;
- Codificação primária (data de fabricação, prazo de validade e lote): as produções fabris são realizadas através de gravação a laser de forma destacada;
- Cor, textura, perfume e desempenho do produto: padrão como de costume em relação ao que o consumidor está acostumado a usar.
*Estagiário sob supervisão do subeditor Gabriel Felice
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