Anaflavia Martins Gonçalves, condenada a 85 anos por matar e queimar os pais e o irmão no ABC Paulista em 2020, chorou ao ser questionada sobre o irmão e disse que sentia muito. O caso que ganhou repercussão nacional ficou conhecido como Caso da Família Gonçalves.
“Meu irmão era minha vida. Me arrependo tanto do que fiz… De ter aceitado roubar, de ter acreditado que nada aconteceria com minha família”, afirmou o réu durante depoimento ao Tribunal do Júri na última terça-feira (27/8).
Em seu depoimento à Justiça, ela confessou que participou do roubo, mas negou envolvimento nos assassinatos da família. “Meritíssimo, confesso o roubo, sim. O que eu sei, que eu estava errado. Mas homicídio, não”, disse Anaflávia. Segundo ela, foi Carina quem matou seus familiares e que eles terminaram o relacionamento após sua prisão.
Segundo Anaflavia, a ideia do assalto partiu da então namorada, Carina Ramos de Abreu, e ela aceitou alegando que não estava recebendo o salário corretamente. Na época, Anaflavia trabalhava no quiosque da família em um shopping. Por isso, ela concordou em roubar os R$ 85 mil que estariam no cofre da casa das vítimas. “Se eu não a tivesse conhecido [Carina]nada disso teria acontecido”, ressaltou o réu. Os primos de Carina, Juliano Oliveira Ramos Júnior e Jonathan Fagundes Ramos, também foram chamados para participar do crime, além de um amigo dos irmãos Ramos, Guilherme Ramos da Silva.
Embora alegue ter sido manipulada pela ex-namorada para participar do assalto, que culminou no assassinato de sua família, Anaflávia foi condenada a mais de 85 anos de prisão, inicialmente em regime fechado.
O julgamento aconteceu no Fórum de Santo André, da ABC, na terça-feira (27/8). Ela foi condenada pelos crimes de triplo homicídio (multiplicado por três), roubo majorado, associação criminosa e destruição de cadáver (também multiplicado por três).
Em sua sentença, o juiz Lucas Tambor Bueno destacou as circunstâncias agravantes do homicídio qualificado – especificamente os crimes cometidos contra os antepassados e os que ocorrem sob influência de vínculos domésticos de convivência ou hospitalidade – e afirmou que houve clara premeditação. Além disso, o juiz destacou que “a arguida teve acesso à casa das vítimas, seus pais, inclusive através de dispositivo que permitia a entrada no condomínio onde residiam”.
Além de Anaflavia, os outros quatro envolvidos no crime foram condenados em 2023. Na época, Anaflavia recebeu pena de 61 anos de prisão. Contudo, o Ministério Público não concordou com a sentença, que não incluía a pena de morte do irmão, e recorreu, razão pela qual foi novamente julgada.
A defesa de Anaflavia informou ao Correspondência quem irá recorrer da sentença. “Seu depoimento foi verdadeiro, transparente, emocionante e sincero. Ela declarou o que realmente fez (participação no roubo). Em relação aos homicídios, o peso da mídia foi decisivo para o julgamento injusto, devido à sua condenação pelos homicídios, ainda que houvesse provas em contrário, incluindo documentos que comprovassem a sua não participação nos crimes que não o roubo”, disse o advogado Thiago José Mendes Duailibe, que trabalha em conjunto com o advogado Leonardo José Gomes.
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