Movimentos sociais de diversas cidades brasileiras realizaram, ontem, o tradicional Grito dos Excluídos e dos Excluídos, com o lema “Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?”. A iniciativa completa 30 anos em 2024 e é definida como um “contraponto” ao grito do Ipiranga, que simboliza a independência do Brasil de Portugal.
Em Brasília, o protesto reuniu mais de 40 organizações. “O que avaliamos é que o país ainda não é independente. Como podemos ser independentes num país onde poucos têm a maior riqueza? não fazem parte dessa comemoração chauvinista do 7 de Setembro”, disse Cláudia Regina, presidente do Centro de Treinamento e Cultura Casa Nação Zumbi de São Sebastião e uma das organizadoras do evento nacional desde a primeira edição na capital federal.
O movimento Grito dos Excluídos foi criado durante a II Semana Social Brasileira, pela organização católica Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB), em 1994, após uma reflexão de membros da sociedade civil sobre a necessidade de construção de um Brasil mais igualitário e inclusivo. Todos os anos, ativistas de todo o país definem qual será o tema da reivindicação social. “É um grito que nasce dentro da Igreja Católica Apostólica Romana, da CNBB, da CRB [Conferência dos Religiosos do Brasil]mas que reúne o movimento ecumênico, inter-religioso e social ao seu redor em todos esses anos de luta”, disse Vanildes Gonçalves dos Santos, representante do Centro de Estudos Bíblicos da Universidade Católica de Brasília.
As bandeiras da manifestação são a denúncia do genocídio de mulheres e crianças na Palestina, os impactos das catástrofes climáticas nas periferias, a fome, o crescimento do feminicídio e o aumento da jornada de trabalho dos trabalhadores. Ao mesmo tempo em que acontecia o tradicional desfile do 7 de Setembro na Esplanada dos Ministérios, ativistas sociais e movimentos católicos se reuniram, ontem, em frente ao Shopping Boulevard (Conic), na Praça Zumbi dos Palmares, e caminharam em direção ao Plano Rodoviária Piloto com suas demandas.
Com um grupo de mulheres tocando bateria e cantando, ativistas de Brasília se apresentaram em frente ao semáforo da rodoviária, em que cada pessoa expôs um cartaz sobre uma situação social — como aumento do feminicídio, mortes na Palestina, viver sem moradia — e gritou muito alto. Depois, foram distribuídos folhetos sobre o movimento à população, além de água e comida para moradores de rua. “Sabemos que todas as formas de vida importam, mas quem se importa? Esse era o nosso lema. Repercutiu muito porque sabemos que há muitas vidas excluídas, nosso país é continental e queremos preservar todas as formas de vida. Desde que existe exclusão no Brasil, temos que continuar gritando”, disse Cláudia Regina.
Reivindicações
Na capital paulista, o tema habitação ficou muito evidente desde a escolha do local, a Praça da Sé, conhecida por ser um dos pontos com maior concentração de moradores de rua. Os movimentos sociais distribuíram alimentos para eles, que também participaram do protesto pedindo trabalho e abrigo. No interior de São Paulo, em Aparecida, berço do primeiro Grito dos Excluídos, foi realizada a 37ª edição da Romaria dos Trabalhadores em conjunto com a ação social.
No Rio de Janeiro, as ações aconteceram no centro da cidade, na Avenida Presidente Vargas. Diversas faixas foram expostas nas ruas do Rio, inclusive a do coletivo Mães de Manguinhos, que reúne mulheres que perderam seus filhos para a violência do Estado. Uma das reivindicações das mães envolve a federalização dos processos que envolvem letalidade policial na capital fluminense. A Procuradoria-Geral da República (PGR) recebeu, em julho deste ano, representação favorável à medida que envolve quatro casos, incluindo o chamado Massacre do Jacarezinho, ocorrido em 2021 durante uma operação policial que deixou 28 mortos e é considerada a mais letal na história da capital fluminense.
A Cáritas Brasileira é uma das organizadoras do Grito dos Excluídos em todo o país. Em Maceió, a entidade visitou a comunidade de Flexais, um dos bairros mais afetados pelo desabamento de uma mina de sal-gema da Braskem, em dezembro do ano passado. O local apresentava afundamento de solo de mais de dois metros e possível contaminação por fontes subterrâneas. Muitas pessoas tiveram que deixar suas casas.
E, no Rio Grande do Sul, vários ativistas se reuniram no bairro Navegantes, em Porto Alegre, que foi um dos mais atingidos pelas enchentes de maio passado. Também estiveram presentes representantes das cozinhas solidárias, responsáveis pelos abrigos que abrigaram milhares de gaúchos que perderam tudo.
Outras capitais brasileiras também registraram ações sociais. Em Goiânia, manifestantes se reuniram na Praça em frente ao Terminal Vera Cruz 1 para iniciar o ato. Ainda pela manhã, ativistas se reuniram na Praça Coronel Guilherme Vaz de Melo, em Belo Horizonte. Nas ruas de Belém do Pará, dezenas de pessoas caminhavam pela Avenida Boulevard Castilhos França. (Com informações da Agência Brasil)
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