Uma operação policial foi deflagrada na manhã desta terça-feira (9/10), com o objetivo de desmantelar uma quadrilha especializada em assaltos a bancos e comércios de pequenas cidades, conhecida como “novo cangaço”. Segundo documento do Ministério Público, entre os presos está Elaine Souza Garcia, de 34 anos, conhecida como “Chefe”. A mulher, que estudava Direito e havia sido recentemente aprovada para estágio no Ministério Público de São Paulo (MPSP), é apontada como uma das lideranças do grupo criminoso e, segundo o Ministério Público, estava prestes a iniciar as atividades na instituição exatamente no dia em que foi presa.
Descrita em documentos do MP como uma das principais organizadoras da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Elaine já havia sido indiciada em agosto deste ano por associação criminosa. Investigações da Polícia Federal revelam que ela era responsável por coordenar a logística de drogas, armas e até planejar as execuções dos rivais da facção.
A prisão foi uma ação coordenada entre a Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do MPSP, que agiu rapidamente para evitar que Elaine assumisse seu cargo na instituição.
Em nota à imprensa, o MPSP contou o que aconteceu para impedir que Elaine começasse a trabalhar no órgão. “A Inspecção da Função Pública, alertada pelo GAECO, contactou a Direcção-Geral da instituição, que tomou as medidas necessárias para impedir a realização da inauguração.”
Um dos momentos mais emblemáticos da investigação foi a descoberta de um vídeo em que Elaine aparece em um campo de tiro, treinando com um fuzil de alta precisão sob a orientação de Otávio Alex Sandro Teodoro de Magalhães, conhecido como “Terrorista”, um Colecionador , Atirador Esportivo e Caçador (CAC). Nas imagens, Otávio elogia a habilidade de Elaine com a arma, chegando a chamá-la de “atiradora de elite”. Este vídeo levantou preocupações sobre o nível de profissionalização e o armamento pesado em poder da gangue.
O envolvimento com os CACs, conforme apontado pela Polícia Federal, indicava um caminho perigoso para aquisição de armas e explosivos. Numa das ações de busca e apreensão, as autoridades encontraram um “verdadeiro arsenal de armas” na casa de um CAC, contendo armamento pesado, munições e explosivos, alguns deles sem qualquer tipo de registo.
O nome de Elaine não foi o único a chamar a atenção na operação. O marido dela, Delvane Lacerda, conhecido como “Pantera”, também foi preso durante as ações. Delvane, apontado como um dos principais organizadores do PCC no estado do Piauí, já havia sido capturado em maio deste ano e, após sua prisão, Elaine assumiu a atuação nas atividades da facção. Entre as atribuições de Delvane estavam a coordenação da expansão da facção criminosa para o Piauí e a participação ativa em crimes relacionados a homicídios e tráfico de drogas.
Além de Elaine, Delvane e Otávio, outros integrantes do PCC foram presos na operação, entre eles Jakson Oliveira Santos, conhecido como “Dako”, e Diogo Ernesto Nascimento Santos, que atuava diretamente no núcleo financeiro da facção e também esteve envolvido na execuções de inimigos.
A investigação, conduzida pela Polícia Federal, teve início após uma tentativa frustrada de roubo de uma base de valores na cidade de Confresa, no Mato Grosso, em abril de 2023. A partir desse acontecimento, as autoridades conseguiram colher informações que permitiram a identificação e captura dos principais responsáveis pelo “novo cangaço”. As provas levaram à identificação de 18 pessoas envolvidas no esquema, sendo quatro CACs presos, além de outros integrantes da facção.
O “novo cangaço” é um tipo de crime que tem atormentado pequenas cidades do interior do Brasil, caracterizado por assaltos violentos e bem planejados a bancos e empresas. As gangues que cometem esses crimes utilizam armamento pesado e aproveitam a vulnerabilidade das cidades com pouca ou nenhuma presença de forças de segurança especializadas.
O Correspondência não localizou a defesa de Elaine, Delvane e Otávio para que se posicionassem sobre o caso.
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